Amigos produzem sabão líquido para moradores de rua de Salvador

Doações passaram pela Pituba, Sete Portas e Aquidabã; jornalista conta que não é difícil produzir sabão em casa

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  • Vitor Villar

Publicado em 25 de abril de 2020 às 14:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Ingrid Machado estava de quarentena em sua casa, na Pituba, quando percebeu que podia fazer algo para ajudar pessoas em situação de rua de Salvador. Analisou no que poderia ajudar: pensou em distribuir comida, mas não tem tanta perícia na cozinha. Optou, então, por contribuir para a higiene pessoal – algo fundamental no combate à covid-19.

Utilizou, basicamente, de tempo livre e acesso à internet para dar o primeiro passo, e aprender como produzir sabão líquido em casa. Era possível. A partir daí, despertou toda uma rede de solidariedade que viabilizou o projeto. Arrecadou dinheiro, comprou os materiais, dividiu tarefas entre amigos e familiares e saiu para distribuir o sabão pelas ruas de Salvador. Tudo isso em menos de uma semana.

Neste sábado (25), Ingrid e um amigo, Thomas Kraack, fizeram a primeira distribuição de sabão líquido feito em casa para pessoas em situação de rua de Salvador. A dupla passou pelos bairros da Pituba, Sete Portas, Aquidabã e Água de Meninos. Ao todo, foram 130 garrafinhas entregues.“Tive uma resposta muito positiva das pessoas que me ajudaram. Levantamos dinheiro suficiente para produzir 500 garrafinhas de sabão líquido. Nesta semana, conseguimos fazer 130 e saímos para distribuir. Mas já temos material comprado para produzir mais”, conta a jornalista. Pessoas confinadas na Igreja da Santíssima Trindade, na Cidade Baixa, também receberam a doação (Foto: Divulgação) A IDEIA

Lavar regularmente as mãos com água e sabão é a recomendação mais básica no combate ao covid-19. No entanto, isso não é acessível a boa parte das pessoas em situação de rua. Seja porque não têm dinheiro para comprar sabão, ou por ter outras prioridades para o dinheiro, como comprar comida.

Ingrid percebeu que era mais vantajoso produzir o material em casa do que comprá-lo pronto: “Um litro de sabão líquido antibacteriano custa R$ 40. Com uma barrinha do mesmo sabão, eu consigo produzir um litro. Então era possível ajudar mais pessoas com o mesmo dinheiro”.

A jornalista conta que conseguiu levantar rapidamente o dinheiro e o material. Ela nem precisou abrir uma campanha:“Foi apenas com amigos e familiares, mesmo. Saí mandando mensagens pelo WhatsApp e o retorno foi muito imediato. Em 20 minutos levantei dinheiro para fazer 200 garrafinhas. Isso foi no sábado passado (18). Na quarta-feira, já tinha dinheiro para fazer 500. As pessoas estão querendo ajudar”.O trabalho envolve amigos e familiares. Os primos de Ingrid ralam as barras de sabão e deixam em sua casa. Ela produz o líquido e engarrafa em casa. Um amigo, que é diretor de arte, fez um rótulo para o produto com algumas recomendações. E outro amigo encontrou uma gráfica parceira para imprimir.

COMO AJUDAR

Ingrid reforça que a atitude dela e dos amigos não vai ajudar toda a população de rua. Por isso, o ideal é que mais pessoas tomem a iniciativa por contra própria, mobilizando as pessoas que conhecem, e aumentando assim a rede de solidariedade.“Não é difícil e nem caro produzir sabão líquido em casa. Com R$ 800 consigo fazer 500 garrafas. Aprendi o passo a passo na internet. Basta ralar o sabão em barra, bater no liquidificador, misturar com bicarbonado de sódio e shampoo neutro e engarrafar”, conta.A jornalista compartilhou um vídeo, hospedado no YouTube, que ensina a produzir sabão líquido em casa.

O próximo passo do grupo de amigos é arrecadar dinheiro para viabilizar a construção de pias para pessoas em situação de rua. As pias foram projetadas por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Arquitetura da UFBA. Elas são de baixo custo e trabalham com galões de água.

A RECEPÇÃO

Ingrid conta que o primeiro dia de distribuição do sabão líquido, neste sábado (25), foi um sucesso. Tanto pela aceitação das pessoas, como pela satisfação de quem mobilizou a iniciativa.“Passamos pelos bairros (Pituba, Sete Portas, Aquidabã e Água de Meninos) procurando sempre pessoas em situação de rua. E tem muita gente, infelizmente. Pessoas com colchões, com panelinhas embaixo de viadutos. A gente não só entrega o sabão líquido. A gente conversa, explica como que a gente fez, fala da importância de lavar a mão”, relata Ingrid.A jornalista conta que algumas pessoas não aceitam o sabão líquido, desconfiadas. Outras, mostram uma enorme satisfação. “Tinha um rapaz que estava sentado sozinho calçada, na Sete Portas. Sempre pergunto primeiro se posso me aproximar e conversar. Ele abriu logo um sorriso enorme, incrível, super receptivo. Me emocionou muito”, disse. O CORREIO compartilha boas ideias e atitudes de pessoas e empresas dispostas a fazer a diferença para, juntos, superar a tormenta da pandemia de coronavírus. Tem uma boa história? Compartilhe com a gente.