Amor em cena: espetáculo contou trajetória de Santa Dulce na Fonte Nova

Performance uniu dança, encenação, música e telões com imagens do Anjo Bom

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  • Andreia Santana

Publicado em 21 de outubro de 2019 às 00:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr./CORREIO

De um galinheiro surgiu um legado de dedicação, solidariedade e muita fé. A história de Santa Dulce dos Pobres foi encenada para quase 53 mil fiéis católicos que, embora conheçam a trajetória da freira baiana em detalhes, não deixaram de se emocionar com o espetáculo ‘Império do Amor’, um dos momentos mais marcantes da comemoração pela canonização da freira, neste domingo, 20, na Arena Fonte Nova.

O espetáculo uniu a exibição de cenas da vida de irmã Dulce em telões no palco, com dança, performance teatral e música. Cerca de 550 crianças atendidas pelas Obras Sociais Irmã Dulce reviveram no palco as situações mais emblemáticas da vida do Anjo Bom da Bahia. Além delas, voluntários que trabalham nas Osid e ex-pacientes do Hospital Santo Antônio se uniram aos artistas convidados para a celebração: os cantores Margareth Menezes, Saulo e Tuca, o músico Waldonys e o padre Antonio Maria.

O espetáculo começou mostrando a década de 1940, com irmã Dulce levando seus pobres e doentes recolhidos nas ruas para os Arcos do Bonfim e enfrentando a resistência tanto de autoridades do governo quanto da igreja, na época. Depois de peregrinar por diversos imóveis da cidade, ela pediu à madre superiora do seu convento, da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, para liberar o galinheiro do imóvel, e assim instalar os doentes, que não paravam de chegar pedindo socorro à freira.

Cena após cena, os fiéis assistiram à transformação do abrigo improvisado no que hoje é uma das maiores obras sociais do Brasil. Só o Hospital Santo Antônio, cuja semente foi plantada depois de uma faxina no galinheiro, realiza dois mil atendimentos ambulatoriais por mês e hoje conta com 954 leitos.

O público reagia a cada cena com aplausos, assobios e fazendo coro para as canções interpretadas pelos artistas. Bastou Margareth Menezes, vestida de freira, entoar uma vez o refrão - “Lá vai Irmã Dulce com a sua missão, se fecha uma porta, ela abre um portão” -, para Helena Chagas de Oliveira decorar e cantar junto.

“Irmã Dulce sempre foi santa e sempre vai ser alguém como se fizesse parte da família, porque ela era só amor, paz e bondade”, afirmou a estudante de 27 anos. Flora Vidal é voluntária como cuidadora de idosos, em Jequié (Foto: Andreia Santana/CORREIO) Ex-paciente das Osid, Flora Vidal, de 54 anos, hoje é voluntária como cuidadora de idosos, em Jequié, onde mora. Ela atribui a irmã Dulce ao menos duas graças, a sua cura de uma depressão pós-parto, em 1988, e a sobrevivência do filho, que aos 14 anos teve um aneurisma. Hoje ele está com 32. E as graças são mais do que motivo para ela vir até Salvador, em uma caravana com mais 50 pessoas, para reverenciar a santa.

“Sinto muito orgulho dela ser brasileira, nordestina e baiana. Eu vi, toquei e senti, não tem como não acreditar na santidade dela”, declarou Flora, que conheceu irmã Dulce pessoalmente e foi encaminhada pela freira para receber o atendimento que necessitava para tratar sua depressão. “Para mim, é um grande milagre estar aqui”.

Com a entrada do padre Antonio Maria no palco, os fiéis nas arquibancadas aplaudiram com ainda mais entusiasmo, antes de começaram a cantar junto com ele cada verso de ‘Nossa Senhora’, canção de Roberto Carlos e Erasmo Carlos sobre a fé em Maria. Mesmo quem não é católico oficial se emocionou com aquelas vozes pedindo à mãe de Deus, por quem Dulce tinha tanto amor, para cuidar de seus corações.

“Eu não tenho uma religião formal, sou batizado, mas não costumo ir à igreja. Eu vim trazer minha mãe, mas essa música é muito sagrada e irmã Dulce me faz acreditar que com a amor e fé, é possível vencer tudo”, disse Ricardo Eloísio, 42 anos.

O padre também leu uma carta de Roberto Carlos contando dos encontros que teve com Irmã Dulce e do quanto se sentia privilegiado por ter conhecido alguém como ela, “que era, é e sempre será muita luz”.

A encenação terminou com a morte de Irmã Dulce, em 1992, e com a transferência da responsabilidade de seu legado para a sobrinha Maria Rita Lopes Pontes, superintendente das Osid, como uma espécie de força e dom femininos para o amor e o cuidado com o próximo.