Ana Cañas ataca a cultura patriarcal com álbum feminista e soul

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 19 de novembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Cantora e compositora de destaque na geração século 21 da música popular brasileira, a paulistana Ana Cañas, 38 anos, chega ao quinto de estúdio álbum, Todxs (Guela Records), fortalecida em personalidade e atitude. Ana Cañas lança o bom álbum "Todxs" e se apresenta em Salvador, na Caixa Cultural, nos dias 13, 14, 15 e 16 de dezembro (Foto/José de Holanda/Divulgação) Produzido pela talentosa artista ao lado de Thiago Barromeo, o álbum -  com show de lançamento em Salvador, na Caixa Cultural, em dezembro, entre os dias 13 e 16 -, é o trabalho mais feminista e político de Ana Cañas e, sonoramente, apresenta arranjos sofisticados que mesclam timbres clássicos de piano Rhodes e órgão Hammond da soul music com beats eletrônicos. 

Por telefone, ela explica que os arranjos inicialmente seguiriam o formato pop e rock tradicional com banda, como nos seus álbuns anteriores, mas as coisas mudaram à medida que ela mostrou a amigos a primeira experiência com beats feita com Barromeo, que trabalha com grupos de rap, também.

"A primeira música assim foi Tão Sua. Era a que as pessoas mais comentavam quando eu mostrava o que já tínhamos gravado. Fui me questionando por que a música chamava mais atenção, se era a linguagem e achei que poderia modernizar minha estética. Acabamos levando um ano para desenvolver essa linguagem minimal com beats e poucos instrumentos".

Ativismo - Com um repertório de 12 canções, sendo nove inéditas (incluindo duas parcerias com Arnaldo Antunes) e regravações de Cassiano & Sílvio Rochael (Eu Amo Você, hit de Tim Maia), Itamar Assumpção (Tua Boca, que ela canta com Chico Chico, filho de Cássia Eller) e Carlos Posada (Tijolo), Todxs concretiza o desejo de Ana em gravar um álbum de soul music.

"Gosto muito de Otis Redding, Aretha Franklin, Etta James, Amy Winehouse e do primeito álbum da Joss Stone. O soul e os arranjos com poucos instrumentos destacaram mais a minha voz e valorizaram as letras, coisas que eram necessárias neste momento. Tudo que vivi pessoalmente nos últimos três ou dois anos, quando sai da minha bolha, está no disco", afirma.

"Me envolvi com movimentos feministas, de pessoas sem teto e da periferia, com ativistas negros. Com ou sem dinheiro, fiz aproximadamente 40 shows para movimentos sociais desde que aconteceu o impeachment de Dilma.  Fiz show até em assentamento no interior do Rio Grande do Norte, conheci a realidade do país de forma direta e isso me transformou profundamente". Sexo oral - Ana acredita - e está certa - que a sexualidade pode ser usada de modo político, algo que ela faz bem nas faixas Todxs (a grafia com X representa a igualdade de gêneros e a música tem participação do rapper Sombra), Tão Sua, Eu Dou e Lambe-Lambe, que é sobre sexo oral.

"Todo o discurso do patriarcado é falocrático, tudo gira em torno do pau. O prazer feminino é vilipendiado e isso inclui o fato de que a grande maioria dos homens heterossexuais não sabe fazer sexo oral em suas namoradas. Eu mesmo, confesso, já tive vários parceiros na vida e apenas um até hoje sabia fazer sexo oral", afirma.

A própria imagem da capa do álbum, em que uma cobra prestes a dar o bote é colocada entre as pernas de uma mulher, numa representação da vagina, é um ataque à cultura patriarcal. E a luta continua, homegirl.

Assista o videoclipe da canção "Todxs", com participação especial do rapper Sombra

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OBRA-PRIMA dos Racionais e do rap brasileiro vira livro Mano Brown é o principal compositor da banda Racionais MC's e o rapper mais importante do Brasil (Foto/Klaus Mitteldorf/Divulgação) Álbum mais importante da história do rap nacional e o mais influente da MPB a partir dos anos 1990, Sobrevivendo no Inferno (1997), dos Racionais MC’s, vendeu mais de 1,5 milhão de cópias e agora vira livro com as letras das 12 canções, fotos clássicas dos rappers Mano Brown, Ice Blue, KL Jay e Edi Rock e texto de apresentação de Acauam Silvério de Oliveira, professor de literatura da Universidade de Pernambuco.

"Os Racionais produziram a mais radicalmente engajada obra da história da música popular brasileira, o que, no limite, altera o próprio sentido do termo ‘representação’ artística. Como afirmou Mano Brown em 1998, à revista ShowBizz: ‘Não sou artista. Artista faz arte, eu faço arma. Sou terrorista’. Em Sobrevivendo no Inferno, a ética atravessa a dimensão estética  de tal maneira que, em seus momentos de maior contundência, o valor da obra deve ser calculado por sua capacidade de, literalmente, salvar vidas. Esse é o grau de radicalidade dessa produção", afirma Silvério na página 32 do livro da Cia das Letras (144 págs. | R$ 34,90). Se, musicalmente, as bases de canções como Diário de um Detento, Mágico de Oz e Capítulo 4, Versículo 3, não ficaram datadas, vários dos seus versos podem ser considerados poemas quando lidos no papel. Infelizmente, apesar de todos os avanços, suas reflexões ainda são ignoradas por muita gente nesse país tão desigual.