Ansiedade bateu? Veja como estudantes podem reduzir tensão pré-Enem

Psicopedagogas afirmam que casos cresceram na pandemia

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  • Wendel de Novais

Publicado em 11 de agosto de 2021 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Acervo Pessoal

Estudar, revisar conteúdos, fazer exercícios e, no meio disso tudo, ter crises de ansiedade. O problema é comum entre jovens que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que no decorrer do processo, acabam se vendo em uma rotina onde coexistem a preocupação com a aprovação e a pressão atrelada ao sonho de cursar uma faculdade. Seja pelas expectativas dos familiares ou dos próprios estudantes, a tensão pré-Enem desestabiliza muitos candidatos, a ponto de provocar pausas longas nos estudos e até a desistência da prova, em situações mais graves. 

Com a pandemia, as crises de ansiedade antes das provas ganharam ainda mais peso entre os alunos que se sentem mais expostos à tensão por conta do isolamento social e da necessidade de manter ao menos uma parte dos estudos em casa. Com o ensino híbrido, ao menos parte da jornada pedagógica o estudante cumpre sozinho, sem o apoio presencial na escola. 

A psicóloga Mara Raquel Valverde, orientadora educacional no Colégio Antônio Vieira e integrante da Associação Brasileira de Orientação Profissional e de Carreira (Abop), diz que tem percebido mais ansiedade dos estudantes tanto nas escolas quanto nos consultórios.

"Na preparação para o Enem, existe uma condição que já era preocupante antes. Em um cenário pandêmico, tudo aumenta e foi algo muito agressivo para os jovens que têm que lidar com o processo que já gerava dificuldade para eles anteriormente", afirma a psicóloga. Ela ainda acrescenta que atualmente é mais comum ver os jovens contando os problemas que precisam enfrentar.

Ingrid Soares, 20, fará o Enem buscando aprovação no curso de Música. Ela, que quer garantir vaga na Universidade Federal da Bahia (Ufba), precisa superar crises de ansidade que vêm à tona durante as leituras especificas para a prova. "Começo a tremer, tenho enjoos e não consigo comer nada, isso no meio dos estudos mesmo, quando acabo ficando nervosa. Tenho diversas crises e é bem comum, ainda mais com o dia do Enem estando mais perto", conta.

Vinícius Almeida, 17, que é líder de município dos alunos da rede municipal de Caatiba, no sudoeste da Bahia, afirma que muitos colegas o procuram para falar sobre ansiedade e ele próprio também tem passado pela situação. "Como eu tenho reuniões com coordenadores, muita gente relata isso. Eu mesmo tenho sofrido com crises, elas vêm bem fortes e eu preciso parar os estudos para não piorar. E paro porque não dá mesmo, você fica paralisado. E já ouvi essa mesma história de outros colegas", diz.

O mesmo acontece com a estudante Cecília Vasconcelos, 18, que quer fazer psicologia e passa por crises quando não consegue executar uma rotina que envolve colégio, estudo em casa, terapia, aulas de teatro e outras atividades. "Tenho crises de ansiedade que são espaçadas. Normalmente, pode rolar se eu não conseguir estudar muito no dia. Quando eu não consigo cumprir as metas, eu tenho crises, choro, preciso ser acalmada. É complicado porque parece que, no nosso sistema educacional, a gente só tem uma chance de fazer tudo certo". Cecília quer cursar psicologia e faz terapia para lidar com o excesso de autocobrança  (Foto: Acervo Pessoal) Preocupação como gatilho

Segundo Cecília, a pressão pelo desempenho nem vem da escola ou dos pais, mas de uma preocupação dela mesma, que se cobra muito. "Não vem de fora, isso de ter pressão de fora não é o meu caso. É uma coisa minha mesmo de dizer que tenho que tirar nota maior, ficar olhando nota de corte do meu curso e me desesperando para ter uma nota bem alta. Tem hora que, para mim, se eu erro uma questão, acabou tudo", revela a jovem, que faz terapia justamente para lidar com o problema.

Essa cobrança também acontece com Ingrid, que tem crises pela preocupação que vai se acumulando ao pensar no Enem. Ela relata que a sensação de não ter sido bem preparada para a prova é a principal causa. "Eu terminei o ensino médio há alguns anos e o estudo não foi o suficiente. Fico insegura por estar me empenhando e não conseguir a faculdade que planejo. E acontece muito quando, no meio do estudo, tenho dificuldade em assuntos que eram para ser o básico e que, na verdade, eu nunca vi".

Para Vinicius, o que mais pesa não é a preparação que teve no passado, mas sim o que virá a partir do que acontecer no exame. "É no meio do estudo que tenho essas crises. Fico pensando nas consequências, imaginando se eu passar como vai ser e também prevendo como seria se eu não conseguisse. Essa coisa de tentar olhar para o depois que é gatilho", conta. 

Problema comum

Jaira Couto, coordenadora pedagógica da rede estadual de educação da Bahia, que atua também como psicopedagoga, afirma que histórias como as de Ingrid, Cecília e Vinícius são ainda mais comuns nas escolas com a modalidade não presencial."No processo de ensino remoto, de modo geral, os adolescentes têm manifestado um quadro de ansiedade acentuado. Para os alunos do terceiro ano, que estão na iminência de fazer o Enem, isso é ainda mais forte. As preocupações com aprovação, curso que vão escolher e o futuro deles têm pesado no psicológico", conta ela, que escuta diversas falas de alunos em crise.Maria Corrêa, orientadora educacional do Villa Global Education, acrescenta que o início da pandemia coincidiu com o aumento de casos de ansiedade entre os estudantes. “Durante a pandemia e o isolamento social, nós percebemos o aumento de alguns sintomas entre os alunos, como falta de concentração, tristeza", relata. 

Um aumento nas crises que, para Mara Raquel, demanda das escolas ações que façam do ambiente de estudo um local de acolhimento e escuta para os jovens nessa situação. "O trabalho da escola é uma âncora importantíssima. E, no Vieira, organizamos rodas de conversa em que eles podem se abrir, falar sobre os temas que mais querem. Ouvimos também os representantes de sala, tudo para criar um ambiente de escuta e que os alunos estejam à vontade para falar sobre o que passam", afirma a orientadora e psicóloga. Segundo ela, as rodas também contam com profissionais e graduandos para falar sobre cursos e tirar dúvidas.

De acordo com Maria Corrêa, a partir da ciência de que há um crescimento de alunos com ansiedade, o Villa tem desenvolvido atividades para lidar com a situação no seu programa de acolhimento para estudantes."Nós acompanhamos toda a trajetória do aluno, trabalhamos na prevenção de questões socioemocionais. Realizamos encontros sistemáticos mensais, que chamamos de assembleias, com todos os estudantes. Durante o período totalmente remoto, mantivemos esse trabalho online, com encontros em grupo e atendimentos individuais".Jaira diz que na rede estadual o processo é parecido e que os esforços feitos por professores e gestores são concentrados na tentativa de mostrar ao aluno que ele pode contar com a ajuda do colégio. "Fazemos muito esse processo de escuta, vamos atrás do aluno que está distante, que não fala de Enem. Mantemos um diálogo próximo e fazemos encaminhamentos para psicólogos que conversam, fazem oficinas com eles. Tentamos nos fazer presentes e ser esse apoio que eles tanto precisam nesse momento", diz.

Dicas pedagógicas1. Não alimente a ansiedade - "Entender que o processo de ansiedade tem uma razão de ser, que sinaliza algo importante e que é natural dado ao processo. No entanto, é fundamental não superdimensionar a ansiedade e não atrelar isso a uma incapacidade. Ansiedade comunica algo, faz parte do desenvolvimento humano, mas não é, de jeito nenhum, um indicativo de que você não é capaz", alerta Mara Raquel

2. Rotina equilibrada - "Estabelecer uma rotina é fundamental. Desde a hora que levanta, escova os dentes, toma café e participa das aulas, como se estivesse indo para a escola. Nas aulas, minha dica é que o aluno participe ativamente, como se estivesse no formato presencial. Adotar uma rotina de estudos também é muito importante, com horários para começar, pausar e terminar. O ideal é descansar oito horas de sono e ter uma rotina de atividade física também é muito bem-vindo", indica Maria Corrêa

3.Não guarde problemas - "Você não está só. Assim como você, outras pessoas passam por este processo e sofrem com este problema. Então, dialogue com pessoas próximas que são referência e que inspirem confiança, procure ajuda da escola, de profissionais, e compartilhe porque faz muito bem", orienta Jaira Couto Revisão Enem

O Revisão Enem é um projeto multiplataforma - impresso, digital e redes sociais - do CORREIO em parceria com a SAS, plataforma de educação, com o objetivo de auxiliar os estudantes no preparo para o Enem.

O projeto traz conteúdos especiais com reportagens, artigos, dicas para a redação e de livros, filmes e séries que têm relação com o exame; além de estratégias de resolução de questões. Há também um canal especial que reúne todos os simulados e videoaulas para os alunos. 

O Enem exige uma rotina intensa de estudos. Por isso, o CORREIO disponibiliza uma série de simulados interativos, com questões objetivas para os estudantes testarem os seus conhecimentos. Os alunos podem acompanhar semanalmente a resolução das questões, conferir os gabaritos e analisar seu desempenho, além de revisitar as questões no dia e hora que quiserem.

Nas redes sociais (@correio24horas), o jornal traz conteúdos nos grupos de leitores do Whatsapp e vídeos no Instagram/IGTV  com dicas sobre como fazer a redação dentro das competências avaliadas no Enem e também o Raio X do ENEM, que tira dúvidas de cada disciplina.

Conteúdos da 2ª semana já estão disponíveis:

- Simulado- Vídeo aula - Vídeo direto ao ponto

*Com a supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro