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Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2022 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Mais de seis mil novos casos de câncer de próstata devem ser descobertos neste ano somente na Bahia, segundo projeta o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Se os diagnósticos da doença forem precoces, a chance de cura é de 90%. Mas, especialistas chamam atenção para o fato de que muitos pacientes ainda apresentam resistência à prevenção. Prova disso é que o exame de sangue que auxilia no diagnóstico da doença – o Antígeno Prostático Específico (PSA) - só foi realizado por 13,2% do grupo de risco no estado até agosto deste ano.>
O PSA é capaz de identificar alterações na próstata a partir de marcadores específicos no sangue. Sozinho, no entanto, não é suficiente para diagnosticar o câncer e funciona como um aliado do exame de toque retal. “O PSA é uma proteína que a próstata produz normalmente. Quando a quantidade de PSA no sangue aumenta, é um indicativo que pode estar relacionado ao risco de câncer de próstata”, explica Lucas Batista, coordenador do departamento de robótica da Sociedade Brasileira de Urologia da Bahia (SBU-BA). >
Para as pessoas que não possuem casos de câncer de próstata em familiares próximos, é indicado que os exames anuais de rastreamento sejam feitos a partir dos 50 anos. Caso seja do grupo de risco, a idade cai para 45 anos. A SBU estima que 1,4 milhão de homens entre 50 e 74 anos na Bahia deveriam realizar o exame PSA. Até agosto deste ano, apenas 195 mil fizeram o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com o Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde. O índice é menor do que o nacional, que é de 25%.>
O exame de toque é essencial uma vez que o câncer de próstata é uma doença silenciosa, que aos poucos ataca a saúde do paciente até que a cura seja impossibilitada. Ronaldo Barros, urologista do Itaigara Memorial, explica que às vezes sintomas de aumento da próstata são erroneamente interpretados como câncer. O câncer de próstata é o segundo mais comum em homens, ficando atrás somente do câncer de pele não melanoma. >
“Dificuldade para urinar, acordar à noite para urinar e urgência miccional são relacionados ao crescimento benigno da próstata e não ao câncer”, esclarece o médico.>
Resistência ao toque Se ainda hoje há preconceito em relação ao exame de toque retal, há alguns anos o desconhecimento era ainda maior. Jacira Cedraz, 55 anos, relembra a história de seu pai, Adauto Carneiro, que morreu em decorrência da doença aos 73 anos, em 2009.>
Seu Adauto Carneiro, pecuarista que vivia em Mairi, no interior do estado, recebeu o diagnóstico muito tarde para que o tratamento surtisse efeito. Mesmo sendo resistente às idas ao médico, ele realizou um exame de toque em 2003 e, por conta de alterações na próstata, precisou fazer uma biópsia. O câncer não foi diagnosticado na época, mas o paciente precisaria continuar com o acompanhamento médico, o que ele não fez. >
“O resultado negativo o tranquilizou, mas o médico queria o acompanhamento. Meu pai era um homem da roça, que vivia trabalhando e não sentia nada. Aquele silêncio da doença enganou a família”, relembra a servidora pública Jacira Cedraz. >
Somente em 2006, três anos depois do exame, veio o diagnóstico do câncer, que àquela altura já havia se espalhado para os ossos. Os médicos então optaram pelo tratamento paliativo e o idoso também passou por cirurgias. Jacira lembra que enquanto o pai realizava consultas médicas e encontrava outros pacientes, dava conselhos para os homens mais resistentes. >
“Apesar do meu pai ser um homem rude, ele tinha muita inteligência. Ele dava muitos conselhos nas filas. Falava que estava fazendo o tratamento, reconhecia que tinha errado em procurar o médico tarde e que se arrependia muito”, relembra a filha.>
Apesar do pai ter negligenciado a própria saúde, o ensinamento sobre a importância dos exames ficou de herança para a família. O filho de Seu Adauto, que tem 54 anos, já possui uma consciência diferente e vai regularmente ao urologista.>
Menos idas ao médico Dados do Ministério da Saúde (MS) apontam que 23,7 mil atendimentos urológicos foram realizados entre janeiro e agosto deste ano pelo SUS na Bahia. O número é quase seis vezes menor do que a quantidade de vezes que pacientes procuraram atendimento ginecológico, 150,3 mil. Como forma de incentivar os grupos de risco para o câncer de próstata, principalmente homens cis, a cuidarem da saúde, a campanha Novembro Azul acontece todos os anos. Apesar do exame de toque retal ainda ser alvo de preconceito, especialistas explicam que o procedimento é rápido e dura somente alguns segundos.>
Já os tratamentos para a doença variam conforme o estágio da doença em cada paciente e podem ser de três tipos, como explica Lucas Batista: “Quando o câncer é localizado, normalmente recorremos à cirurgia ou radioterapia. Já quando a doença se espalhou, tratamos com medicamentos, como quimioterápicos e bloqueadores hormonais”. >
O SUS disponibiliza a cirurgia de forma gratuita e hoje existem técnicas mais avançadas com uso de robôs que podem ser encontradas em hospitais particulares. “Todas as técnicas possuem a mesma capacidade de cura oncológica”, reforça o médico. >
Onde fazer o exame>
No clima do Novembro Azul, homens que passarem pela Estação Detran do metrô nesta quarta (23) e quinta-feiras (24) poderão ter acesso a massoterapia, teste de glicemia, aferição de pressão e orientações preventivas voltadas ao Câncer de Próstata. A ação é promovida pelo Instituto CCR e acontecerá das 07h30 às 10h30 e de 16h30 às 19h30, em parceria com o SE7E Centro Tecnológico. >
Também neste mês, a Sociedade Brasileira de Urologia, secção Bahia, realiza mutirões para atender o público de forma gratuita. Na próxima sexta-feira (25), 50 funcionários e colaboradores do Hospital Universitário Professor Edgard Santos serão atendidos gratuitamente por especialistas.>
Já no sábado (26), das 8 às 12 horas, 60 homens com idade acima de 40 anos poderão ter acesso a exames e consultas urológicas gratuitas durante um café da manhã no Ambulatório Social Luigi Verzé, em Pau da Lima. Para participar, é preciso realizar inscrição através do telefone (71) 3409-4125/4126.>
*Com a orientação de Fernanda Varela.>