Após acusação de racismo, loja diz que peças são ‘pretos velhos’ e as retira de circulação

Historiador denunciou venda de peças de cerâmica retratando negros acorrentados

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  • Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2022 às 20:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Instagram

Imagem de peças de cerâmicas de negros e negras escravizados, comercializadas pela loja Hangar das Artes, no aeroporto de Salvador, causou revolta nas redes sociais nesta segunda-feira (7). Em uma nota de retratação publicada no Instagram, a Hangar das Artes afirma que as peças retratam os “pretos velhos” e “pretas velhas”, o que gerou nova polêmica. As peças, no entanto, foram retiradas de circulação.

“As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) - espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravizadas, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal”, escreve, ao tempo em que pede desculpas a “todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas”, argumenta a Hangar das Artes.

Os pretos velhos são uma linha de trabalho de entidades de Umbanda, religião brasileira que une elementos do catolicismo, espiritismo, da cultura africana e indígena. Na religião, a figura dos pretos velhos está, de fato, associada aos ancestrais africanos. No entanto, costumam ser representadas como espíritos livres, não mais sob o julgo das correntes. 

O argumento utilizado pela loja na retratação foi questionado. “Não sei o que é mais macabro: a vendas das peças racistas ou a 'retratação'", escreve um seguidor. “Preto velho com correntes? Parem de mentir e assumam o erro”, questionou outra. “Vai precisar da nota de retratação da nota de retratação”, enfatiza uma seguidora. 

"Coragem! Pretos velhos representados com correntes? Vocês não têm vergonha, não? O problema de vocês, brancos, é que vocês querem seguir ganhando dinheiro a todo custo em cima de pessoas negras e sua representação, sem o mínimo cuidado de garantir uma curadoria decente das peças, de uma retratação que exalte, como vocês mesmos disseram, a cultura africana nessa cidade mais negra fora da África", comenta outro internauta. 

O perfil da loja não se manifesta após as novas críticas nos comentários. 

Entenda o caso  As acusações de racismo contra a Hangar das Artes têm como base a publicação de uma foto feita pelo historiador carioca Paulo Cruz, que havia visitado a capital baiana e estava no aeroporto para viajar para o Rio de Janeiro, onde mora. As peças, identificadas pelo estabelecimento como “escravos cerâmica”, são comercializadas a R$ 99,90, cada unidade. 

"Foi um choque tremendo né? Em primeiro lugar porque eu acho que é um tipo de coisa que não deve se comercializar em lugar nenhum, muito menos numa cidade como Salvador, principalmente depois da experiência que eu tive, vendo a vivência das pessoas pretas, dos movimentos e tudo mais", disse o historiador em entrevista ao G1. A família materna de Paulo é de Salvador.