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Gil Santos
Publicado em 8 de maio de 2019 às 19:13
- Atualizado há 2 anos
O concurso da Prefeitura de Alagoinhas, no Nordeste baiano, foi cancelado, conforme decisão anunciada nesta quarta-feira (8). A informação foi divulgada pelo próprio Município, que voltou atrás na decisão de manter em vigor a seleção realizada no dia 14 de abril. Candidatos que fizeram a prova apontaram irregularidades e o caso foi denunciado ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA).>
Por meio de nota, a prefeitura afirmou que “a administração concluiu que houve flagrante infringência do art. 37 da Constituição Federal, no que tange à isonomia entre os candidatos, e salienta que a gestão pública está estritamente ligada ao princípio da legalidade, não cabendo outra decisão diferente do cancelamento do concurso”.>
A decisão contraria o que a própria prefeitura anunciou na semana passada, quando a Comissão de Servidores Públicos do Município disse que não foi constatada nenhuma irregularidade na aplicação das provas e que não houve fraude ou prejuízo aos candidatos que participaram do concurso. O resultado da investigação foi divulgado na última quinta-feira (2).>
O CORREIO questionou à prefeitura o que fez a comissão mudar de ideia, mas não obteve resposta. No entanto, uma deliberação do MP-BA, publicada nesta terça (7), recomenda a suspensão dessa etapa do concurso. A promotora de justiça e o procurador do município se reuniram nesta quarta para discutir o assunto.>
O município também não esclareceu quando e se será realizada uma próxima prova, nem declarou se vai substituir a empresa Instituto Nosso Rumo, responsável pela organização do concurso. O questionamento se os candidatos que desistirem da seleção terão direito a receber o dinheiro da inscrição de volta também ficou sem resposta.>
Através da sua assessoria de comunicação, a administração municipal informou que o departamento jurídico está avaliando as medidas cabíveis e que, em breve, as informações serão divulgadas. “O que podemos adiantar é que todas as posturas adotadas têm como objetivo assegurar que nenhum candidato seja prejudicado”, diz a nota.>
Esse foi o segundo concurso público anulado por uma cidade baiana em menos de uma semana. Na sexta-feira (3), a prefeitura de Tanque Novo, no Sudoeste do estado, também cancelou um certame por suspeita de fraude. >
17 irregularidades O CORREIO teve acesso à deliberação do Ministério Público sobre o caso de Alagoinhas, assinada pela promotora Tereza Carvalho nesta terça-feira (7). Depois dos depoimentos de candidatos, do município e do Instituto Nosso Rumo, a Promotoria de Justiça recomendou que a prova fosse anulada.>
Os estudantes denunciaram 17 irregularidades ao MP, como por exemplo o fato dos fiscais não terem recolhido relógios e celulares dos candidatos. Ao invés disso, os próprios candidatos receberam um saco transparente, semelhante aos de supermercado para embalar verduras, para guardar os objetos pessoais. Ou seja, o recipiente não era lacrado, como é exigido - o lacre, neste caso, era apenas um nó dado pelos próprios participantes.>
Além disso, os concurseiros disseram também que os aparelhos celulares permaneceram ligados durante a prova, o que permitiu que algumas pessoas fotografassem as provas, o que foi comprovado por uma das candidatas, que divulgou a imagem da avaliação. Candidata fotografou prova de concurso (Foto: Reprodução) Outra queixa de quem participou do certame é que alguns candidatos tiveram autorização para ir ao banheiro sem acompanhamento de um fiscal e com o celular em mãos, o que possibilitou consultas para a responder as questões do exame.>
Além disso, não foi permitido aos estudantes levar o caderno para casa, o que dificulta saber quais questões podem ser objeto de recurso. Os estudantes disseram também que não tiveram a identidade conferida antes de entrar na sala e que os fiscais não prestaram as devidas orientações.>
Houve registros de reclamações ainda em relação ao local de prova. Duas salas não estavam liberadas e algumas pessoas fizeram a avaliação com uma hora de atraso, o que gerou um tumulto. A Polícia Militar precisou ser acionada.>
O estudante Orlando Salles, 26 anos, foi um dos candidatos das 505 vagas do concurso e relatou algumas das irregularidades percebidas no dia da seleção.>
“No edital eles falaram que seriam três tipos de prova, A, B, e C, mas só teve o modelo A. Além disso, a mesma prova aplicada pela manhã foi aplicada à tarde, sendo que ela foi fotografada por algumas pessoas. A situação foi tão absurda que, em uma das fotos, é possível ver a fiscal sentada, enquanto o candidato registrava a imagem”, disse.>
Ele almejava uma das vagas de auxiliar administrativo e disse que não está seguro para fazer novamente a seleção. “Depois de tudo o que aconteceu, as pessoas estão desconfiadas em fazer uma nova prova. O melhor seria trocar a empresa que fez o concurso, mas já tivemos prejuízo de dinheiro, para quem pagou a inscrição, e de tempo, para quem estava estudando”, completou.>
Prova coletiva Uma das denúncias ao MP dizia que foi sugerido a alguns candidatos que fizessem a prova em grupo. Questionada, a empresa realizadora do certame informou para o MP que não houve aplicação de avaliação coletiva, mas que, depois do início do exame, alguns estudantes precisaram aguardar em uma cantina até as salas serem liberadas.>
Nesse momento, um dos coordenadores sugeriu que a avaliação fosse aplicada naquele mesmo local, em uma mesa redonda, com cadeiras de plástico, o que teria dado início à confusão de que o exame seria feito de forma coletiva. Depois de uma hora, o problema foi resolvido. Candidatos dizem que organização sugeriu que prova fosse aplicada em mesas coletivas (Foto: Reprodução) Em relação à foto da prova, a empresa disse que adotaria as providências para identificar o candidato que infringiu o edital e afirmou que não houve negligência, permissão ou deficiência de nenhum coordenador fiscal. Disse ainda que os profissionais atuaram no estrito cumprimento do dever legal e que não houve indícios no uso de celulares ou relógios durante a aplicação das avaliações.>
O Ministério Público discorda. Na deliberação, o órgão afirma que “a falta de preparo dos fiscais e coordenadores é fato que foi ressaltado pela própria comissão de acompanhamento do concurso, havendo, inclusive, ofícios questionando o motivo pelo qual nenhum membro poderia comparecer aos locais de aplicação de prova”.>
O órgão listou outra série de deficiências na aplicação das avaliações, antes de recomendar a anulação desta fase do concurso. A assessoria do MP informou que a prefeitura se comprometeu a publicar a anulação no Diário Oficial desta quinta (9).>
O CORREIO não conseguiu contato com o Instituo Nosso Rumo. >
De acordo com o edital do concurso público, os salários iniciais variavam de R$ 1.198,47 a R$ 2.715,63. Os aprovados teriam direito a vale-alimentação e vale-transporte. A taxa de inscrição custava R$ 44 para os cargos de nível médio e R$ 58 para os cargos de nível superior.>
Nota da prefeitura na íntegra "O município de Alagoinhas, no uso de suas atribuições legais, decide cancelar o concurso público nº 001/2019 organizado pelo instituto Nosso Rumo.>
A administração concluiu que houve flagrante infringência do art. 37 da Constituição Federal, no que tange à isonomia entre os candidatos, e salienta que a gestão pública está estritamente ligada ao princípio da legalidade, não cabendo outra decisão diferente do cancelamento do concurso.>
Com a decisão, a prefeitura reitera o compromisso com a lisura dos processos municipais e a segurança jurídica de seus atos.>
A administração municipal informa ainda que as medidas cíveis e criminais cabíveis, inclusive de ajuizamento da ação objetivando a reparação ao governo estão sendo tomadas".>