Após distrato do Consórcio Nordeste com Sputnik, Anvisa aponta 'lacunas de informação'

Imunizante não foi liberado para uso geral pela agência que condicionou importação à análise de aspectos de qualidade, segurança e eficácia

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  • Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2021 às 20:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo/Divulgação

Após a suspensão do contrato com o Consórcio Nordeste, que previa a compra de 37 milhões de doses para os estados da região, a Anvisa divulgou nota onde afirma ter se baseado em “aspectos de qualidade, segurança e eficácia” nas condicionantes solicitadas para liberação da vacina de forma controlada no Brasil.  “A Anvisa esclarece que, ao autorizar a importação excepcional da vacina Sputnik V, foram estabelecidos 22 condicionantes a serem cumpridos pelos importadores, os quais tiveram o objetivo de preencher lacunas de informação existentes quanto aos aspectos de qualidade, segurança e eficácia da vacina para permitir uma utilização controlada, segura e inicial da vacina Sputnik V no Brasil”, disse a nota. Ainda no comunicado, a agência reafirmou que tem se pautado na proteção da saúde da população para analisar os imunizantes contra covid-19 que serão utilizados no país.  “A Agência afirma que não acrescentou nenhuma condição além daquelas já estabelecidas na decisão que liberou a importação da vacina Sputnik V. Por fim, a Agência ressalta que tem se pautado pela absoluta transparência em todas as suas ações, de maneira a manter a sociedade sempre informada quanto às decisões adotadas e suas justificativas, em prol da proteção da saúde da população”, concluiu o comunicado.Leia mais: Após impasse com a Rússia, Consórcio Nordeste suspende compra da Sputnik

Leia também: Anvisa faz 29 exigências e doses da Sputnik V só devem chegar à Bahia no final de julho Em abril deste ano, por unanimidade, a Anvisa negou um pedido de importação e uso da vacina russa por "falta de documentação" e possíveis riscos do imunizante à saúde. Em junho, após nova avaliação, a Anvisa liberou parcialmente o uso do imunizante através de uma importação excepcional, com diversas exigências, entre elas, o limite de imunizar apenas 1% da população com as duas doses para uma análise sobre o público vacinado. O cancelamento do contrato foi oficializado nesta quinta-feira (5), após reunião entre os governadores e o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF, na sigla em inglês), responsável pelo fornecimento do imunizante. O governador da Bahia Rui Costa, assim como outros gestores da região, lamentou a suspensão do acordo em suas redes sociais. Em março deste ano, a Bahia anunciou a compra de 9,7 milhões de doses da Sputnik V, que integravam o lote do Consórcio, mas por conta da determinação da Anvisa, a Bahia receberia inicialmente apenas 300 mil doses. Apesar de críticas dos gestores, que apostaram no imunizante antes da liberação do órgão regulador, as decisões da Anvisa seguiram as recomendações das áreas técnicas da agência e contaram com respaldo da maior parte da comunidade científica do Brasil. Doutor em microbiologia e  divulgador científico na internet,  Átila Marino comentou na época da avaliação da Anvisa sobre a vacina russa e considerou relevantes as preocupações apontadas pela agência.  "A preocupação da Anvisa é a de que a Sputnik V possa ter adenovírus ativo, capaz de causar infecção em vacinados. E mesmo que não seja uma infecção séria, não se sabe os efeitos que poderia ter no corpo", escreveu em sua rede social. Na mesma ocasião, a médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, dos Estados Unidos, Denise Garrett chamou o trabalho do corpo técnico da agência de "exemplar". "Fizeram um trabalho meticuloso e bem respaldado. Não significa que a vacina não venha a ser boa. Significa que faltam dados. A pressão não deve ser na Anvisa, deve ser no Instituto Gamaleya para enviar os dados", escreveu. O médico epidemiologista Paulo Lotufo, professor da USP (Universidade de São Paulo), destacou que a aprovação em outros países não significava garantia de que uma substância era segura. "A talidomida indicada para enjoo na gravidez nos anos 50 foi proibida em um único país, os Estados Unidos. Europa e Brasil a aprovaram e o resultado é conhecido até agora com pessoas que nasceram mutiladas. O que importa é a qualidade da avaliação, não o número de aprovações", disse também pelas redes sociais. Segundo a Anvisa, neste momento, a agência conta com dois pedidos de uso emergencial, entre eles um da russa Sputnik V - o  outro é da vacina do laboratório chinês Sinopharm. Segundo a Anvisa, a tramitação desses pedidos depende dos desenvolvedores, que devem apresentar as informações exigidas para o prosseguimento dos processos.   Atrasos na entrega Desde o final de julho, a Argentina tem relatado problemas com fornecimento das doses por atrasos na entrega das segundas doses da Sputnik V, o que impede o progresso da campanha de vacinação na Argentina. O país sul-americano ameaçou cancelar o contrato com o Fundo Russo.   Após as cobranças públicas, o Kremlin chegou a prometer que a Rússia resolveria os atrasos nas entregas da vacina Sputnik, mas que a prioridade seria atender a demanda interna do país, que também sofre com atrasos.