Após um ano de pandemia, estudo traça retrato do home office

Inteligência emocional e o equilíbrio entre a casa e o trabalho estão entre os maiores desafios do trabalho remoto

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 12 de abril de 2021 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Depois de um ano de trabalho remoto, a marketplace Workana decidiu investigar quais os maiores desafios na modalidade de trabalho em home office e divulgou um estudo sobre os resultados dessa pesquisa, segundo executivos de todo o mundo. Entre os aspectos destacados na pesquisa, o desenvolvimento da inteligência emocional, as soft skills e o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional mereceram destaque. 

De acordo com o representante da organização no Brasil Daniel Schwebel, muitas empresas acreditam que melhorar a tecnologia e a conectividade (35,7%) deve estar entre as prioridades para garantir que o trabalho à distância flua melhor. “No entanto, o principal ponto de atenção - mesmo após a pandemia passar - deve estar em reduzir o impacto do trabalho remoto na saúde mental dos funcionários”, explica, ressaltando que 43,7% dos entrevistados para o relatório anual da Workana disseram ter sentido que o home office acabou comprometendo seu psicológico. 

Para Schwebel, é fundamental voltar os processos de trabalho à perspectiva professional centric, focando nas necessidades e no bem-estar dos colaboradores. “A relação entre empresas e colaboradores tem que ser humanizada, e muitos líderes já perceberam isso. Tanto que, segundo o relatório anual da Workana, no pós-pandemia, 28,6% das empresas afirmaram que terão ações voltadas à flexibilidade dos horários para que as pessoas tenham equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”, completa.  Daniel Shwebel destaca a importância que as empresas precisarão dar à questões como a saúde mental dos colaboradores no pós pandemia (Foto: Divulgação) A Sócia-Diretora da Véli RH Margot Azevedo defende que o trabalho remoto veio para ficar e, com ele, uma mudança muito significativa na compreensão da produtividade. “Com mais flexibilidade em relação à jornada de trabalho em si e mais foco nas entregas das metas e resultados dos profissionais, não fará diferença se o funcionário trabalhou oito ou menos horas por dia. Acho também que as empresas estarão mais conectadas com o bem estar de seus times, sua saúde mental e emocional”, acredita.

Adaptabilidade

No caso dos profissionais, a pesquisa da Workana mostrou que há uma preocupação quanto à evolução constante, Lifelong Learning, principalmente quanto a questões técnicas que podem ampliar o campo de atuação e oportunidades, mas o maior desafio está no desenvolvimento da inteligência emocional. “Isso porque, neste mundo mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (VUCA), as empresas precisarão cada vez mais de pessoas que se adaptem rapidamente e tenham facilidade para gerir o próprio tempo, por exemplo”, garante.

O executivo diz que, se para o profissional, em casa, o maior desafio reside no equilíbrio entre o pessoal e o mundo laborativo; as empresas, por sua vez, precisarão ser mais empáticas à partir de agora.  

Se a organização da rotina de trabalho é a peça chave para garantir uma boa produtividade no home office, o levantamento mostrou que esse não parece ter sido problema para a maioria dos trabalhadores. Afinal, 81,9% disseram que a produtividade no trabalho remoto foi excelente ou muito boa, o que os gestores confirmam. Entre os entrevistados, 63,2% dos líderes relataram ter notado um aumento na produtividade dos funcionários, ou a mesma performance de quando estavam no escritório. “Acredito que isso está ligado à maior qualidade de vida que poupar algumas horas no trânsito, por exemplo, pode proporcionar”, esclarece. 

Futuro

A pesquisa também apontou que 84,2% dos líderes pretendem promover o trabalho remoto no pós-pandemia. Mesmo depois que a ameaça do coronavírus passar, 94,2% dos profissionais com carteira registrada disseram não querer voltar ao modelo de trabalho antigo. Para 96,7% dos profissionais, o benefício do home office será um fator determinante para aceitar uma vaga de emprego daqui pra frente. “Eles identificaram e vivenciaram as inúmeras vantagens que o home office traz, e as empresas que quiserem reter seus talentos terão que se atentar a isso”, diz o representante da Workana.

“Trabalhar os relacionamentos e integração de áreas e equipes também é um desafio, além de manter um fluxo de comunicação eficaz e gerenciar pessoas remotamente. Do ponto de vista de quem está em casa trabalhando, manter o foco no trabalho, misturar vida pessoal com as atividades profissionais, gerir o tempo, dividir a atenção com inúmeros estímulos e manter a produtividade, traz um peso emocional grande e é desafiador”, completa Margot.

O especialista em Recursos Humanos e Etnopsicanálise, Eduardo de Azevêdo defende que as dificuldades encontradas no home office podem ser superadas se as organizações se cercarem de mecanismos que viabilizem fluidez na execução das atividades, encontrando juntos um caminho benéfico para os dois lados. “Em vias práticas, é preciso que haja um planejamento por parte dos empregadores, na busca do profissional que ocupará a cadeira ora posta, além de criar novas alternativas, rever políticas e procedimentos de modo a adaptá-los à modalidade, investir na automação de processos, mas, sobretudo buscar continuamente melhoria na comunicação”, diz. Eduardo de Azevedo destaca que, após esse primeiro ano, as empresas precisarão rever suas posturas, a cultura e, sobretudo, a fluidez na comunicação (Foto Thiago Rebouças/Divulgação) Para Daniel Schwebel, na manutenção do home office, gestores e colaboradores precisam ter uma forte relação de confiança e as pessoas devem estar nas prioridades das empresas. “A comunicação entre líderes e funcionários precisa ser transparente, favorecendo assim a sensação de segurança e, consequentemente, o melhor desenvolvimento dos trabalhadores”, ressalta. 

O levantamento mostrou ainda que o trabalho deve ser orientado com base em objetivos, e não só em horas trabalhadas, que não são sinônimo de produtividade. “Os gestores devem contar com a opinião dos colaboradores na tomada de decisão de situações que os envolvam, lembrando que a saúde física e mental dos colaboradores vem em primeiro lugar”, finaliza.