Aprovado nos principais vestibulares de Medicina, jovem teve que driblar TDAH; conheça

Bernardo já engatou estudos sobre relação de aranhas e câncer

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  • Fernanda Varela

Publicado em 10 de julho de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Se Matemática já costuma ser difícil para uma pessoa comum, imagine para um portador de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O CORREIO conversou com um estudante que sofre com essa condição, mas deu a volta por cima e foi até premiado com medalha de ouro na 14ª Olimpíada Brasileira de Matemática das escolas públicas de 2018 (OBMEP).

O mineiro Bernardo Quintão Oliveira, 18 anos, não só aprendeu muito de Matemática, como também foi aprovado em todas as faculdades de Medicina para as quais prestou vestibular: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Faculdade Albert Einstein e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Dessas, ele escolheu ficar com a USP.

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"Quando eu era pequeno, eu era aquela criança difícil de estudar, fazia tudo correndo, colocava margens todas tortas, respostas muito curtas. Graças ao apoio da minha família eu consegui evoluir na minha educação. Tive sorte porque minha mãe é professora de Matemática e ela me ensinou a valorizar o professor. Isso, pra mim, é o primeiro passo para ter uma educação de qualidade. Passei a tratar eles como amigos, porque não acredito nessa relação do professor estar lá na frente e você na cadeira, com distância. Tanto que eu acredito em um aluno ensinando o outro também", conta.

E foi nessa boa relação com seus mestres que Bernardo conseguiu superar as dificuldades no 3º ano, cursado em 2018. Quando precisou estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por conta do déficit, ele não conseguia ficar sentado e prestar atenção nas aulas. Foi aí que surgiu uma ideia proveitosa para ele e os colegas.“Arranjei um jeito muito especial de estudar. Eu fiz um acordo com meus professores e eu virei professor na sala de aula. O aluno muitas vezes fica ansioso com o Enem e, quando vê o professor ali na frente, pode aumentar essa ansiedade, porque ele é enxergado em um nível muito superior. Quando chega um outro aluno para ajudar, é bom para todo mundo, porque há um nível mais igual”, conta.A experiência, segundo narra o mineiro, foi fantástica. Cada vez que ele ensinava, era como se estivesse assistindo novamente às aulas dadas pelos professores. "Eu acho que quem ensina acaba aprendendo mais do que quem está sentado ouvindo. Quando eu ensinava, eu retia muito mais o conteúdo, então tive facilidade de aprender, memorizar. Uma boa dica é estudar em grupo. Por eu ter o TDAH, eu não conseguia assimilar, e creio que muita gente sofre com isso, tendo ou não um déficit. Estudar com colegas é interativo, ajuda a pegar mais o assunto. Dá muito certo”, garante.

E, para quem torce o nariz para a disciplina, ele avisa: “A Matemática não é meio caminho andado, é quase o caminho inteiro”.

Ele explica o porquê dessa afirmação. "Eu sempre digo que, depois da Redação, o que mais conta no Enem é a Matemática, porque acaba tendo mais peso. Se você acerta uma questão, você ganha uns 20 pontos. Já em outras áreas, tipo Ciências da Natureza, por ter mais áreas, você precisa acertar umas cinco questões para ganhar uns 10 pontos", justifica.Estudo contra o câncer Bernardo é mesmo um jovem especial. Ele, que também é apaixonado por Biologia, pretendia prestar vestibular para o curso e se tornar biólogo, mas, graças a um professor, mudou seu rumo. "Eu estava decidido a cursar a Biologia pura, mas um professor me disse: ' faz Medicina e, depois, você ganha o mundo'. Ouvi ele". Foi nessa decisão que ele deu início a um importante estudo.

Bernardo acabou de passar para a universidade, mas já participa de uma pesquisa científica que estuda como as aranhas podem ajudar na cura do câncer.

"Tenho um professor de Biologia que me chamou para fazer um estudo com ele sobre aranhas caranguejeiras. Uma delas chegou a ser praga em São Paulo, então é recolhida pelo Centro de Controle de Zoonoses. A gente coleta o veneno, que foi comprovado no doutorado do meu professor que serve para o tratamento contra o câncer, e vê como aquela molécula age", explica.

Segundo o estudante, já ficou comprovado que as aranhas auxiliam na estabilização da leucemia, sem permitir que as células doentes se multipliquem, além de ser benéfica para o glioma. "É um tipo de câncer que, quando se faz cirurgia, geralmente deixa sequela. Tem médico que prefere não operar, pelo risco, além de ser uma área de difícil acesso para tratar com medicamento".

Bernardo ainda não sabe se seguirá o caminho da Oncologia, mas garante que tudo indica que sim. "Tenho gostado muito da área, principalmente quando relacionada à bioprospecção, que é essa coisa de pegar um animal e estudar as propriedades dele", finalizou.