Aracnoidite torácica pode ser controlada se diagnóstico for feito em tempo

Doença rara matou a atriz Mabel Calzolari aos 21 anos

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 24 de junho de 2021 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

A atriz Mabel Calzolari, 21, morreu na terça-feira, 22, de uma doença rara, a aracnoidite torácica, inflamação grave que afeta o sistema nervoso central. Junto com a lamentação pela perda, muita gente se perguntou que doença é essa e, diante dos medos agravados pela atual pandemia, se o mal seria contagioso. O neurologista pediátrico Luan Guanais, no entanto, esclarece que não se trata de infecção transmissível e que, caso seja diagnosticada em tempo, a doença tem tratamento.

Mabel atuou em Malhação e em Orgulho e Paixão, de 2018. Os sintomas da atriz começaram depois do parto do filho Nicolas, em 2019. Após a cesárea, ela teve crises de cefaleia. Com o passar do tempo, as dores evoluíram para as costas, causando falta de ar, deseequilíbrio, perda da sensibilidade das pernas e incontinência urinária. Mabel passou por nove cirurgias na coluna entre dezembro de 2020 e junho de 2021. 

O neurologista pediátrico Luan Guanais já acompanhou poucos casos da doença em Salvador, em crianças que tiveram meningite bacteriana ou neurotuberculose. Nenhum morreu. “É muito raro que a pessoa morra de aracnoidite”, diz o médico. Segundo ele, a doença pode ser controlada. “Os sintomas podem se estabilizar e não evoluir com piora do quadro clínico. O principal objetivo do tratamento é aliviar a dor e controlar a inflamação com analgésicos, anti-inflamatórios e corticoides. Nos pacientes com dor crônica, além de medicação, podem fazer tratamento com estimulação medular”, detalha.   

O neurocirurgião Fabrício Marques acrescenta  que, em geral, “a inflamação por si só não causa morte. Pode ter acontecido alguma complicação associada à doença [no caso da atriz] e é difícil supor o que foi. É mais comum que a doença cause dor, fraqueza, mas não a morte”.  Luan Guanais é neurologista pediátrico  (Foto: arquivo pessoal) Inflamação afeta membrana que protege sistema nervoso

A aracnoidite é uma inflamação da membrana chamada aracnoide, que reveste o sistema nervoso central. Essa membrana tem a função de preservar ao máximo o sistema nervoso. Já o termo “torácica” indica onde está a inflamação, no caso, o tórax. A doença pode acometer também a coluna cervical (pescoço), coluna lombar e crânio, em volta do cérebro.   

 “Qualquer indivíduo pode ter aracnoidite desde que ocorra inflamação grave do sistema nervoso, levando à reação inflamatória da membrana aracnoide. Por se tratar de uma reação anormal do organismo, ou seja, algo que não deveria acontecer, serão produzidas cicatrizes e inflamações”, explica Luan Guanais. 

A inflamação grave do sistema nervoso é gerada por algum agente biológico (bactérias ou vírus) ou uma substância tóxica dentro da membrana. Os principais sintomas são: dor, que pode ser no local da inflamação ou em outros lugares do corpo;  cefaleia (dor de cabeça), sonolência e alteração mental, quando a doença atinge o cérebro. 

“A dor ocorre porque existe um processo inflamatório e, eventualmente, atinge o nervo, levando a comprometimento da sensibilidade e da força”, acrescenta Guanais.  Dr. Fabrício Marques diz que pacientes com doença reumática estão entre os suscetíveis à doença (Foto: Acervo Pessoal) O neurocirurgião Fabrício Marques acrescenta que existe um público que pode ser mais suscetível à ter aracnoidite. “Pacientes com doenças reumatologicas como artrite reumatoide e lúpus; infecções como meningites bacteriana e virais, HIV e herpes; pessoas que sofreram traumas por acidentes automobilísticos, acidente com arma de fogo e acidente de trabalho”. 

Não há prevenção, mas os sintomas precisam ser acompanhados por um especialista.

Leia mais: Mabel Calzolari, atriz de 'Orgulho e Paixão', morre aos 21 anos vítima de doença rara

Saiba mais sobre a doença*: 

O que é Aracnoidite Torácica?   

A aracnoidite torácica é uma inflamação da membrana aracnóide que reveste o nosso sistema nervoso central. Essa membrana tem a função de preservar ao máximo o sistema nervoso. Esse termo "aracnoidite torácica” é por causa da localização da inflamação, na região da medula torácica (tórax). Pode, também, acontecer na coluna cervical (pescoço), na coluna lombar e no crânio, em volta do cérebro. 

Como acontece a contaminação? É contagiosa?   

A aracnoidite não é uma infecção propriamente dita. É um processo inflamatório gerado por algum agente biológico (bactérias ou vírus) ou uma substância tóxica dentro dessa membrana do sistema nervoso. Não é contagiosa.

Quem pode pegar? Existe público mais suscetível?   

Qualquer indivíduo pode ter aracnoidite desde que ocorra uma inflamação grave do sistema nervoso, levando à reação inflamatória da membrana aracnóide. Por se tratar de uma reação anormal do organismo, serão produzidas cicatrizes e inflamações. Mas essa reação não é tão frequente. 

Quais são os sintomas?  

O principal sintoma é a dor, que pode ser no local da inflamação ou em outros lugares. Isso ocorre porque existe um processo inflamatório e, eventualmente, atinge o nervo, levando a comprometimento da sensibilidade e da força. Quando atinge a região do crânio, essa inflamação também pode gerar cefaleia (dor de cabeça), sonolência e alteração mental. Se a reação inflamatória levar a cicatrizes, pode obstruir a circulação sanguínea, comprimir a medula, os nervos, causar sensação de fraqueza e até paralisias. No caso da aracnoidite torácica, o paciente pode ficar paraplégico. Se for na cervical, a pessoa pode ficar tetraplégica. 

Como é o tratamento?  

O principal objetivo do tratamento é aliviar a dor e controlar a inflamação com analgésicos, anti-inflamatórios e corticoides. Nos pacientes com dor crônica, além de medicação, pode ocorrer um tratamento com estimulação medular que é uma técnica de neuromodulação usada para tratar pacientes com diversos tipos de dores crônicas e que já tentaram vários outros tipos de tratamento, porém sem conseguir um alívio satisfatório. 

Tem cura?   

Tem controle. Os sintomas podem se estabilizar e não evoluir com piora do quadro clínico. Não necessariamente a doença vai piorar e é muito raro que a pessoa morra de aracnoidite. 

Tem como se prevenir?  

Não necessariamente. O importante é a identificação precoce da infecção do sistema nervoso para evitar uma reação inflamatória importante. 

Em Salvador, o senhor já lidou com casos do tipo?  

Sim, mas foram poucos os casos. Por ser neuropediatra, já acompanhei crianças com infecções do sistema nervoso que evoluíram para aracnoidite, tanto decorrentes de meningite bacteriana como infecção do sistema nervoso por tuberculose (neurotuberculose).

*Fonte: Dr. Luan Guanais, neurologista pediátrico

**Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.