Arco-íris de amor: nove casais LGBTQIA+ se casam em shopping de Salvador

Inciativa fez parte das ações para lembrar data mundial de orgulho e luta

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  • Da Redação

Publicado em 29 de junho de 2022 às 06:00

. Crédito: Paula Froes/ CORREIO

Quantas formas de amor você é capaz de reconhecer? Pois o Dia do Orgulho LGBTQIA+ mostra que elas são infinitas e que para todas as relações, respeito deve ser o principal elemento. Nesta terça-feira (28), data que celebra a diversidade e a luta pela busca do reconhecimento de direitos e de igualdade social, não faltaram celebrações em Salvador para destacar o recado: ‘toda forma de amor vale a pena’. De casamento coletivo, promovido pelo Shopping da Bahia, até o lançamento da cartilha ‘Nenhum direito a menos’, pela Defensoria Pública do Estado (DEF-BA), em Fazenda Coutos. Sem faltar uma iluminação especial, nas cores do arco-íris, que simboliza o movimento, em pontos turísticos da cidade.

No shopping, nove casais foram escolhidos para celebrar o amor no altar. Luana Almeida, 30, e Tailane Santana, 27, formaram um dos pares. As duas se casaram acompanhadas por familiares e carregavam nas barrigas os frutos da união. "Desde que nos conhecemos falávamos em ter filhos. Iniciamos o processo nela [Tailane], mas ela perdeu o bebê. Resolvemos tentar de novo, dessa vez nas duas. Ela engravidou e em seguida eu descobri que também estava grávida. Agora teremos duas Marias", conta Luana. 

Durante a cerimônia, Tailane fez questão de mostrar as alianças para todos os convidados antes de assinar o documento que q tornava oficialmente casada com Luana. "O nosso casamento vai possibilitar que a gente registre as nossas filhas com os nossos nomes. É uma alegria poder viver esse momento com algumas das pessoas que a gente ama", disse Tailane. 

Charleno Santos de Oliveira, 29, e Daniel Moisés dos Santos, 44, também se casaram ontem, depois de sete anos juntos. Charleno passou a maior parte da cerimônia chorando de emoção. O único momento em que as lágrimas cessaram foi para dar lugar ao sorrisão durante a troca de alianças. Para eles, casar no Dia do Orgulho LGBTQIA+ deixa o momento ainda mais especial. "Estar aqui é esperançoso, a gente sabe que ainda falta muito. Mas somos dois homens casando, outras pessoas podem ver e saber que é possível. O que tem que importar é o amor", ressalta Charleno. 

Para Charline Macedo, 41, que se casou com Narjara Paim, 35, a união civil é um sonho realizado. "É uma alegria sem tamanho. Quando nós nos conhecemos eu estava me mudando para São Paulo. Vivemos um relacionamento à distância por um ano. Agora, 10 anos depois, estamos aqui", fala Charline. "Eu tenho muito orgulho da minha filha. Nós, mães de pessoas LGBT+, precisamos ser o apoio de nossos filhos, porque a sociedade não vai oferecer a mesma coisa", destacou Laura Jane Paim, 62, mãe de Narjara. 

Além do casamento no civil, o evento, promovido como parte das celebrações da Semana do Orgulho e da Diversidade do Shopping da Bahia, contou com a colaboração do Grupo Accor Brasil, que sorteou duas diárias com café da manhã para dois dos recém casados, Anderson Ferreira e Adenilson Farias, e Andréa Cristina e Jamile do Rosário ganharam o presente. No lançamento da cartilha, Defensoria preparou encontro com pessoas LGBT+ acolhidas na Casa das Pérolas (Foto: Ailton Sena/ Ascom DPE-BA) Cartilha

Apesar da esperança representada pelas novas uniões, não dá para ignorar os dados da última edição do Relatório do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTQIA+, pois o Dia do Orgulho também é sobre lutas. A última edição do relatório classificou o Brasil como o país que mais mata pessoas LGBT+ no mundo pelo quarto ano consecutivo. Por isso, a Defensoria Pública lembrou a data com o lançamento da cartilha ‘Direitos LBGT: nenhum direito a menos’, para promover educação em direitos e fornecer a esse público um documento que pode ser utilizado para reivindicar as garantias legais conquistadas historicamente. 

A publicação reúne 14 direitos adquiridos nos últimos 17 anos, como o uso do nome social, adequação de nome e gênero, casamento, direitos previdenciários, adoção e outros. 

“Essa é uma forma de gerar mais visibilidade para a data e mostrar que essa população segue resistindo apesar do contexto em que a gente vive”, pontuou a coordenadora da Especializada de Direitos Humanos, Eva Rodrigues.

O lançamento aconteceu no abrigo Casa das Pérolas, em Fazenda Coutos, que é voltado para o acolhimento de pessoas como Nicole Raimundo, 22, mulher transgênero [a pessoa que não se reconhece no gênero atribuído a ela ao nascer, como por exemplo: alguém designado como mulher, mas que se entende e se sente homem]. 

“A cartilha é importante, principalmente para a conscientização da cisgeneridade [as pessoas que se identificam com o gênero atribuído a elas ao nascer] que não nos acolhe, nem nos compreende. Ter esses direitos escritos é mais um passo para que eles não sejam anulados”, ressalta Nicole.  Fonte da Praça da Sé recebeu iluminação cênica especial com as cores do arco-íris (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Para que mais pessoas reconheçam os direitos das pessoas LBGT+, a Secretaria Municipal de Reparação (Semur), por meio do Centro Municipal de Referência Vida Bruno, iluminou com as cores do arco-íris diversos pontos turísticos de Salvador, como a Fonte da Praça da Sé e a Praça 2 de Julho, no Campo Grande. As projeções ficarão acesas das 18h às 6h até a quinta-feira (30).

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo