Artista plástico faz escultura de 5m com 300kg de lixo das praias de Salvador

Iniciativa tem ajuda do Praia Limpa, que desde 2014 recolhe resíduos das areias

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 1 de junho de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

Trezentos quilos de resíduos, mais de dois meses de caminhadas entre o Quartel de Amaralina e a antiga área do Clube Português, olhos atentos e a vontade de transformar o mundo em um lugar melhor. De tampinha em tampinha, cerca de 35 voluntários do Projeto Praia Limpa ajudaram o artista plástico André Fernandes a transformar lixo em arte. Todo o material recolhido nas areias de Salvador se tornou a escultura de um golfinho, com cinco metros de altura, que agora faz parte do visual da orla da cidade.

A peça foi instalada na pracinha próxima ao Quartel de Amaralina no final de semana e ficará por lá transmitindo várias mensagens. Entre elas, a de que precisamos cuidar melhor do meio ambiente e do lugar que amamos tanto como a praia. Outro recado: é possível transformar as mais sujas realidades com persistência, trabalho em equipe e desejo de mudança.

A ideia do artista foi passar um alerta potente de conscientização. Mesmo com as praias vazias por conta das medidas de combate ao coronavírus, os voluntários observaram um aumento no volume de material plástico recolhido em sua área de atuação.

Segundo André, eles costumavam recolher cerca de 2 mil tampinhas diárias antes da pandemia e esse volume chegou a 2,8 mil desde março do ano passado. Por conta disso, a ideia de montar o golfinho foi mandar uma mensagem direta, com a figura de um animal marinho que tem sua vida diretamente impactada pelo lixo nas praias.

"Imagina a quantidade de lixo que não conseguimos ver, aquele que está dentro do mar? É alarmante. Por isso considero que essa foi a minha escultura mais expressiva, que interage diretamente com a realidade e é muito impactante", disse o artista.

Depois de recolher as tampinhas, os voluntários levam até o atelier de André, que faz a montagem das esculturas sozinho. "Pegamos o material, trazemos para o atelier para fazer à higienização e devolvemos para a cidade não como lixo, mas como obra de arte", afirma.

Para a instalação das obras, ele monta uma força-tarefa com voluntários para transportar as peças. Segundo o artista, o carreto foi pago pelo vereador André Fraga, ex-secretário de sustentabilidade de Salvador. Voluntária do Projeto desde o ano passado, a também artista plástica e autônoma Suely Sardinha conheceu o projeto por conta de uma live que André participou. Foi ali onde sentiu aquele estalo, tomou mais informações e começou a participar. 

"Eu tenho horror a ver sujeira na praia. Fico injuriada. E o outro fator é a arte. Eu sou formada em artes plásticas e amo o trabalho de André, de dar movimento a um material tão difícil de ser trabalhado. Ajudar o meio ambiente além de tudo é o mais importante de tudo", disse Suely, que costuma se reunir com o grupo aos sábados.

Ela diz que a caminhada é cansativa, mas prazerosa. Além disso, acha interessante que boa parte do material recolhido seja transformado em obras de arte para mostrar às pessoas a quantidade de lixo que há nas areias das praias. "A gente gosta tanto, então precisamos cuidar. É imprescindível. Só assim poderemos manter as praias com a beleza que tem. É preocupante porque cada vez mais a gente recolhe mais lixo e isso tudo mesmo sem as praias estarem com o movimento normal", afirmou.

Praia Limpa

O trabalho do Projeto Praia Limpa foi iniciado em 2014, quando André montou praticamente sozinho um bandeirão para a Copa do Mundo, unindo as bandeiras dos 32 países participantes do mundial sediado no Brasil. A obra ficou exposta na Fonte Nova durante a Copa vencida pelos alemães. Dois anos depois, fez um Bandeirão Olímpico com as bandeiras dos 205 países que participaram dos Jogos Olímpicos de 2016, usando 300 mil tampinhas. O bandeirão pesava cerca de 300 quilos e demorou seis anos para ficar pronto.

Outra obra marcante, e mais recente, foi a escultura em homenagem a Cira do Acarajé. Uma estátua de 3,5 metros feito com garrafas PET. Aquela obra demorou três meses para ser construída e foi instalada no Largo de Cira.

O carinho ainda mais especial de André pela escultura mais nova tem um motivo especial, é que ontem teve início da Semana do Meio Ambiente, alusiva ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no sábado (5). A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1974, durante a Conferência de Estocolmo (Suécia) e, segundo a entidade, é a sua plataforma principal para sensibilizar e promover a ação ambiental pelo mundo.

No Brasil, a Semana do Meio Ambiente é reconhecida de forma oficial há 40 anos. "É uma data marcante, são quatro décadas tentando chamar atenção da humanidade para essas questões ambientais, que são importantíssimas para a nossa sobrevivência. Não existe ser humano sem natureza, sem um planeta preservado, cuidado. E essa escultura manda um alerta bem intenso, mostrando o quanto é importante que a gente fique atento e cuide do nosso lixo, dos nossos espaços e da natureza como um todo", enfatiza André.