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Artistas, amigos e família lembram legado de Paulinho Camafeu para a música baiana

Enterro do compositor foi nesta terça-feira (30)

  • D
  • Da Redação

Publicado em 1 de dezembro de 2021 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Paula Fróes

Um dos pais do Axé Music, o compositor Paulinho Camafeu foi sepultado com um cortejo do Ilê Aiyê, na tarde desta terça-feira (30), no cemitério Campo Santo. O artista morreu na segunda-feira (29), aos 73 anos, cinco dias depois de sofrer um infarto e ficar em coma induzido no Hospital do Subúrbio.

Batizado como Paulo Vitor Bacelar, o artista foi criado sob as influências do padrinho Camafeu de Oxóssi - outro personagem marcante da Velha Bahia - e herdou dele o sobrenome artístico. Paulinho foi autor de várias músicas marcantes na história do ritmo axé, como ‘Ilê Aiyê (Que bloco é esse?)’, ‘Fricote’ e ‘Afoxé Badauê’. Enquanto o caixão com o corpo de Paulinho era carregado, músicos do Ilê e as outras pessoas presentes cantavam os versos de ‘Que Bloco é Esse?’.

Nas redes sociais, nesta terça, o cantor e compositor Caetano Veloso lamentou a morte de Paulinho Camafeu. “Ontem [segunda, 29] morreu Paulinho Camafeu. Como eu já disse uma vez, o autor de ‘Que bloco é esse’ anunciou o Ilê Aiyê, que anunciava uma nova era. Foi o gesto de a Bahia autodeclarar-se negra. Isso se deu pelos versos de Paulinho. Nunca esqueceremos, nunca poderemos esquecer esse fato”.

Gilberto GIl também lembrou a importância do compositor: "Conheci Paulinho ainda muito jovem, no Mercado Modelo, quando voltei do exílio e frequentava muito o mercado. Com o passar do tempo, ele se aproximou da música baiana, colaborou muito com o movimento musical baiano. Uma pessoa doce, gentil, um talento daqueles que brotam nas ruas de Salvador. Um belo percussionista, com toda uma impregnação profunda da africanidade, da baianidade. Me habituei a chamá-lo de menino, então é um menino que se vai depois de uma vida muito bonita. Fica uma saudade enorme de Paulinho Camafeu", escreveu.

Em entrevista ao CORREIO em 2015, nos 30 anos da criação da Axé Music, Gilberto Gil assim definiu o músico e compositor: “Paulinho conviveu com grandes cantores e compositores. Cresceu nesse ambiente, muito articulado nos bairros periféricos, absorvendo as culturas desses lugares, onde tinha tudo isso que a gente chama de cultura negra da Bahia. Foi um dos primeiros a manifestar o gosto pela divulgação dessa cultura, um grande músico, um grande pandeirista”.  Presente ao enterro, o amigo de Paulinho, Crispim Santos, lembrou que os dois tinham a mesma idade, 73 anos. “Ele nascido e criado no bairro do Pau Miúdo, sempre militando na área da música e a gente sempre acompanhando. A Bahia, Salvador, perdeu muito”, disse. 

A irmã do artista, Nanci Santana, afirmou que conheceu o mundo musical brasileiro através de seu irmão e ainda contou a história de uma das composições do artista: “Quando meu ex-marido me maltratava e me deixava com fome, ele escreveu a música ‘lá vem o homem que mata a mulher de fome’”, cantou. "Tudo que eu conheço da cultura eu devo a ele". 

Toda a família do compositor estava bastante emocionada com a despedida. O produtor cultural e amigo Clarindo Silva lembrou com carinho de Paulinho. "Falar de Paulinho Camafeu é falar da música, da cultura, da arte, do amigo, do parceiro na luta pela recuperação do Centro Histórico", destacou. "Era um músico da cidade, viajou várias partes do mundo acompanhando Gil. Compositor da melhor qualidade. Acho que a Bahia, o Brasil, a humanidade, está perdendo um grande homem. Espero que as gerações futuras possam perpetuar a memória dele".

Geraldo Badá, outro amigo próximo, afirmou que Paulinho era o pai da leva de bons compositores “da música preta da Bahia, porque tudo começa com Paulinho quando Gilberto Gil grava ‘Que Bloco é Esse?’. Quis o destino que Caetano também gravasse suas músicas e fizeram muito sucesso. Eu fico triste porque muitas pessoas cantaram as músicas dele, mas não vieram prestigiá-lo, não fizeram uma visita quando ele estava doente”, desabafou.

Ainda segundo Geraldo Badá, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Flora Matos e Paula Lavigne arcaram com o velório e enterro de Paulinho Camafeu. “Morrer hoje está caro e foram eles que fizeram toda essa coisa bonita. Também quero agradecer a Carlinhos Brown que bancou o transporte de Ligia Bacelar, esposa de Paulinho, todos os dias, para que ela pudesse se locomover de Pau Miúdo para o Hospital do Subúrbio [onde Paulinho estava internado]”, disse. 

O músico Tonho Matéria também se espantou por não encontrar outros artistas no enterro de Camafeu. "Artistas, bandas, grupos afro. Isso me choca um pouco", disse. "Conheci Paulinho quando tinha meus 14, 15 anos. Ele sempre foi uma peça principal da comunidade para apresentar o samba aos jovens e eu fui um desses que estava ali no momento certo, na hora certa, e captei aquela mensagem. Paulinho deixa esse legado imenso. Até me preocupa um pouco com nossa cidade, nosso estado, quando a gente não consegue entender os valores. E quando ele se vai, esses valores se vão. Às vezes, a gente busca um jeito de homenagear e isso precisa ser em vida, enquanto as pessoas estão ali", acrescentou. “Paulinho era uma pessoa alegre, andava cantando, tudo que via, escrevia música", concluiu o artista. 

No Twitter, Carlinhos Brown lamentou a morte do cantor e falou da importância de Paulinho para a música baiana. “Quando compôs o clássico ‘Que Bloco É Esse’, cantou pro mundo o que era o Ilê Aiyê, que era a atitude vanguardista baiana, liderada por ele em um verdadeiro ativismo da cultura negra afro-ameríndia. Mais à frente, foi tocar com Gil, e aquilo nos encheu de orgulho, por tudo que ele fazia como percussionista, que inspirava a todos nós. Ele nos iluminava com rítmicas e potentes ideias. Não à toa ali surgiu e cresceu o Axé Music, no qual ele é líder absoluto”, escreveu Brown. 

Segundo Brown, Paulinho Camafeu é a Bahia que deu certo. “Não é à toa que ele herdou o nome de Camafeu de Oxóssi, que o adotou e o fortaleceu. Seu poder ancestral fortaleceu a Música Popular Brasileira com inimagináveis simplicidades. Suas inventividades foram molas geradoras dos blocos afro na cidade de Salvador. Sem ele não existiria o Axé Music que nós vivenciamos. Ele viu e escreveu tudo primeiro. E agora ele escreve novas páginas no Orum. Que Oxóssi seja o grande guia desse homem de luz”, completou. 

Com Carlinhos Brown, Paulinho fez a música ‘Vale’. E também teve canções nos repertórios de Pepeu Gomes, Paulinho Boca, Timbalada, Fafá de Belém, Sérgio Mendes e Cheiro de Amor. Com Chocolate da Bahia e Bell Marques compôs a famosa ‘Menina do Cateretê’. Outra parceria com Bell e Wadinho Marques é ‘Meu Cabelo Duro é Assim’. Apesar das muitas canções de sucesso, Paulinho Camafeu não teve o reconhecimento que merecia e passou por momentos difíceis nos últimos anos - com muitas dificuldades financeiras agravadas pelos problemas de saúde.