Árvore cai em cima de cinco casas na Federação

Orçamento para poda chegou a ser feito, mas moradora não teve condições de pagar

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  • Gabriel Moura

Publicado em 2 de janeiro de 2020 às 18:29

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva

A calmaria de um fim de tarde chuvoso foi interrompida com um forte estrondo que pegou os moradores da comunidade do Alto da Bola, na Federação, de surpresa. O susto foi provocado por uma árvore de cerca de 15 metros que caiu em cima de cinco casas, na tarde de quarta-feira (1º), fazendo com que os moradores abandonassem as residências correndo. “Foi muito rápido. Começou a chover, trovejar e do nada o barulhão. A gente saiu correndo achando que o mundo estava desabando”, lembra, ainda assustada, a atendente Ana Letícia, 36. “Foi horrível a situação. Todo mundo achando que ia morrer”, completa.Além das cinco casas, parte do muro de uma unidade da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) também foi destruído. Em nota, a corporação confirma o acidente e por questões de segurança irá providenciar a reconstrução do muro o mais breve possível. 

Na casa de Ana Letícia, parte do telhado foi quebrado. Já em outras residências atingidas, as lajes chegaram a ceder. “Felizmente não houve nenhum ferido, apenas o prejuízo material que a gente consegue recuperar depois”, conta.

A atendente também revelou que a árvore que caiu foi plantada há mais de 20 anos pelos antigos donos do terreno que hoje pertence a manicure Ariele Filgueras, 26. Ana recorda que os outros moradores realizavam a poda constantemente, algo que parou de ser feito após a manicure comprar a casa, cerca de seis anos atrás. 

Ariele afirma que chegou a fazer um orçamento para a poda da árvore, mas não teve condições de pagar os R$ 1400 pedidos pela empresa. Já os vizinhos argumentam que fizeram outros orçamentos que custavam menos. Além disso, afirmam que se dispuseram a ajudar Ariele nos custos e, mesmo assim, a manicure continuou dizendo que não tinha condições de pagar.

“Eu irei pagar os prejuízos que meus vizinhos tiveram. Felizmente, nem eu nem meus filhos estavamos aqui na hora, só soube do acontecido quando me ligaram. Eu fiquei morrendo de medo e nem consegui dormir aqui em casa ontem. Tive que ir para a casa da minha sogra e só voltei hoje de manhã”, conta ela, que teve a casa condenada após a Defesa Civil constatar que parte da estrutura foi danificada. Ariele Filgueras, proprietária do terreno onde ficava a árvore, disse que vai pagar os prejuízos dos vizinhos (Foto: Marina Silva) Medo Por ser a única com o imóvel condenado, apenas Ariele irá receber um auxílio para pagar o aluguel no período em que não poderá voltar para casa. O problema é que as cinco casas atingidas são coladas uma na outra e, caso uma delas desabe, as outras também serão afetadas.“É a minha casa que está segurando toda a estrutura. Caso continue chovendo, pode acontecer uma tragédia ainda maior. Eu não tenho para onde ir e, hoje mesmo, tive que ficar aqui em casa a noite toda. Ninguém conseguiu dormir, todo mundo ficou com medo e em alerta para podermos sair correndo caso aconteça algo”, diz Ana Letícia.Normalidade Apesar dos problemas causados pelas chuvas, o volume de precipitação no período está dentro da normalidade, garante o meteorologista do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), Mauro Bernasconi. Ele explica que o que está causando os temporais neste início de ano é um vórtice ciclônico de altos níveis (VCAN), que ainda está afetando a atmosfera no estado da Bahia e deve ocasionar mais temporais no decorrer dos próximos dias.“A atmosfera funciona de forma dinâmica e, apesar de vermos uma mudança brusca de tempo, os fatores climáticos estão sempre em constante alteração como, por exemplo, mudanças de temperatura, pressão e umidade que muitas vezes passam despercebidas. Tais fatores, aliados a fenômenos climáticos locais, desencadeiam tempestades que levam um curto tempo para a sua formação. O calor é um gatilho para tempestades, sendo ele uma fonte de energia para evaporação de água e posteriormente formação de nuvens”, explica Bernasconi.Já a queda de granizo, outro fenômeno que chamou a atenção dos baianos nos últimos dias, tem um outro “culpado”: as nuvens Cumulus Nimbus. Elas, define Bernasconi, possuem um deslocamento vertical, ou seja, possuem a base próxima do solo e seu topo a elevadas altitudes (entre 8 e 10km) e isso provoca a formação dos cristais de gelo. “Essas nuvens possuem características de correntes de ar ascendente em seu interior, que ajuda a elevar partículas de vapor d’água que perdem temperatura com a altitude e condensam, se transformando em água e, posteriormente, em cristais de gelo. Essas partículas ficam suspensas no ar até ganharem peso suficiente para romper a barreira da sustentação das correntes de ar ascendente e precipitar em forma de gelo. Quanto mais intensa a corrente de ar ascendente, maior as pedras”, esclarece.Panorama Até às 15h40, desta quinta-feira (02), segundo a Defesa Civil de Salvador (Codesal), foram registradas 171 ocorrências por conta da chuva, sendo 36 alagamentos de imóveis, 34 ameaças de desabamento, três ameaças de desabamento de muro, 16 ameaças de deslizamento, quatro árvores caídas, três desabamentos de muro, sete desabamentos parciais, 11 deslizamentos de terra entre outros.

Nas últimas 24 horas, os bairros com maior volume de chuva foram, respectivamente, Fazenda Coutos, Rio Sena, Valéria, Fazenda Grande do Retiro e Santa Luzia. Já nos últimos três dias, as regiões mais afetadas foram Musssurunga, São Cristovão, Itapuã, Castelo Branco e Rio Sena.

As cidades baianas mais afetadas pelas chuvas nas últimas 72 horas são, nesta ordem, Jacobina, Conde, Lauro de Freitas, Várzea Nova, Morro do Chapéu e Senhor do Bonfim.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.