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Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2021 às 06:53
- Atualizado há 2 anos
Um dos estados mais importantes para a proteção dos ecossistemas e da biodiversidade do Brasil, a Bahia é um dos poucos a abrigar três biomas: o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica. Este último, o mais ameaçado e devastado do Brasil, ocupa praticamente um terço (32%) de seu território.
A Mata Atlântica está presente não só em toda a costa baiana, mas também em grandes manchas no centro e no oeste do estado, com matas de altíssima biodiversidade e com muitas espécies que só ocorrem naquela área – várias ameaçadas de extinção. Nas matas da região de Ilhéus um estudo identificou a maior diversidade de espécies de árvores do mundo, com mais de 450 diferentes espécies arbóreas por hectare, contribuindo para a Mata Atlântica ser considerada pela ciência como um dos cinco biomas mais importantes para a conservação da biodiversidade no planeta.
Mas 520 anos de história causaram uma grande pressão sobre essa floresta tão valiosa: hoje restam somente 11,1% da área original de Mata Atlântica no estado. Infelizmente, segundo monitoramento realizado desde 1989 pelo Atlas dos Remanescentes Florestais, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Bahia tem se destacado entre os maiores desmatadores no Brasil. Foram dizimados 47 mil hectares de florestas desde 2011 – 3.230 apenas em 2020, tornando o estado o segundo maior desmatador do bioma no Brasil.
Além de abrigar a biodiversidade, as florestas prestam serviços ecossistêmicos fundamentais para as cidades e a economia, como o fornecimento de água para cidades, indústrias e irrigação, a regulação do clima e a polinização das culturas agrícolas, entre outros. Frente à emergência climática, a ONU declarou o período 2021-2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas.
É fundamental a Bahia participar deste movimento, pois depende de suas matas para ter água, comida e atenuar as mudanças climáticas. É necessário a intensificação da fiscalização ambiental, rigorosos processos de licenciamento ambiental e a aplicação da Lei da Mata Atlântica e do Código Florestal para protegermos o que restou e recuperarmos a Mata Atlântica. O governo do estado e os municípios têm uma grande responsabilidade para o alcance desses objetivos, dos quais dependem o futuro de sua população e economia.
A atual trajetória de pressão sobre as florestas da Bahia pode ser revertida. Uma nova agenda que proteja e recupere a Mata Atlântica é uma grande oportunidade para o desenvolvimento do estado. A agricultura de baixo carbono, a valorização dos parques e reservas, o fomento ao turismo sustentável e o reconhecimento da natureza como grande ativo vão ajudar na construção de uma imagem capaz de atrair novos investimentos para uma economia verde – cujo potencial de se tornar referência nacional e internacional é imenso.
*Marcia Hirota e Luís Fernando Guedes Pinto são, respectivamente, diretora executiva e diretor de conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica