“As pessoas precisam pedir vinho sem medo de errar”, diz especialista

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Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 09:32

- Atualizado há um ano

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O especialista em vinhos Orlando Rodrigues (foto/divulgação) Mirando no crescente público consumidor de vinhos da capital baiana, foi inaugurada em janeiro a AB Wines Distribuidora (Av. Miguel Navarro Y Cañizares, 160, Pituba). Lá se encontram garrafas de uma das mais conhecidas importadoras do Brasil – a Prem1um, com uma seleção exclusiva de rótulos especiais, coletados em 45 regiões produtoras em oito países. Um de seus sócios-gerentes, Orlando Rodrigues, esteve mais uma vez em Salvador (BA) para prestigiar a casa e conversou rapidamente com esta colunista sobre a cultura e o consumo de vinhos no Brasil.

Paula Theotonio: Como você vê o comportamento do mercado baiano no cenário nacional de consumo de vinho?

Orlando Rodrigues: O mercado baiano é um dos que mais cresce hoje no Brasil, graças a três fatores: boa situação econômica do estado; menores impostos, graças à não incidência de ICMS-ST, e aumento do conhecimento do vinho entre os consumidores, devido ao bom trabalho feito pelos diversos segmentos do trade.

Paula Theotonio: Estacionamos há décadas no consumo de 2 litros per capita de vinhos por ano. Um número esdrúxulo, principalmente quando comparamos a países vizinhos (Argentina, com seus 20L/per capita). Onde estamos errando?

Orlando Rodrigues: Também três fatores: Preço! Preço! E preço! Em um país com uma carga tributária como tem o Brasil, não há como se falar em crescimento do mercado.

Paula Theotonio: O preço final do vinho importado continha 69,73% de impostos em dezembro de 2018. Uma mudança na tributação poderia trazer mudanças? Tenho visto alguns debates sobre enquadrar o vinho como “alimento”, o que reduziria a carga tributária e reduziria seu preço de venda.

Orlando Rodrigues: No Rio Grande do Sul, houve uma iniciativa frustrada nesse sentido: o projeto de Lei acabou sendo vetado. Nacionalmente, acredito que essa mudança só aconteceria no bojo de uma grande reforma tributária. Seria ótimo para todo mundo: uma menor taxação geraria maior circulação de mercadoria, que gera mais imposto, que gera emprego, que gera mais imposto. Um círculo “virtuoso”, eu diria. Mas acredito que podemos tentar outros caminhos. Com o ICMS-ST, ou regime de Substituição Tributária (ST), onera-se a indústria nacional ao antecipar o recolhimento do ICMS antes mesmo da venda para o consumidor final. Na Bahia e nos estados de Pernambuco e Goiás, onde não há ST, vemos claramente um crescimento no consumo de vinhos.

Paula Theotonio: Quais os demais entraves que você percebe na melhor difusão da cultura do consumo de vinho em nosso país?

Orlando Rodrigues: Além do preço, temos de desmistificar o consumo do vinho, fazendo com que as pessoas peçam o seu vinho sem medo de errar. Peça aquilo que mais lhe agrada. Outra maneira de aumentar o consumo seria uma maior presença dos vinhos branco, rosé e espumante no dia a dia do brasileiro. Além de substituírem a tradicional cervejinha, eles são muito mais versáteis.

Paula Theotonio: Vemos iniciativas em todo o Brasil pela popularização do consumo. O recém-criado Movimento Pró-Vinho, a campanha Seu Vinho, Suas Regras... Como você vê esses esforços e seus resultados?

Orlando Rodrigues: Eu sou um dos primeiros membros do Pró-Vinho e acredito que todas essas iniciativas ajudam. Tudo que façamos para contrapor a maciça propaganda das cervejarias é de extremo valor.

Paula Theotonio: Nestas campanhas, vemos um incentivo pela popularização do consumo que passa pela frouxidão de algumas "regras", como quantidade de vinho na taça, girar ou não a taça, segurar pela haste ou pelo bojo... Qual a sua opinião quanto a esse viés? Tratar como "frescura" alguns rituais pode dar resultados?

Orlando Rodrigues: A desmistificação do consumo do vinho é essencial. O Brasil tem hoje um dos melhores serviços de vinho do mundo, com bons sommeliers, boas taças, temperatura adequada etc... Isto paradoxalmente gerou esse obstáculo ao consumo de vinho, que é o excesso de “frescura”. Nos países que tradicionalmente consomem vinho, se bebe em qualquer copo ou taça, com qualquer temperatura e sem ficar “conversando” com o vinho. Se bebe simplesmente pelo prazer.

Paula Theotonio: Apesar do clima tropical no país, os tintos representam 83% do total consumido. Curiosamente, a mínima parte desses rótulos é brasileira. Por que isso acontece?

Orlando Rodrigues: O Brasil produz ótimos brancos e espumantes; e os produtores nacionais já viram que essa é uma saída para o mercado. Acredito que são mais versáteis que os tintos, mas também creio que haja preconceito, que venha desde a época do vinho da garrafa azul. Nos últimos anos, a indústria tem investido em qualidade e divulgação, e a disparada do consumo de espumantes é resultado disso. Não só vemos um aumento no consumo de espumante nacional, como também a importação cresceu muito – principalmente no último ano.

Paula Theotonio: Enquanto especialista na área, como você vê os próximos anos e quais tendências globais de consumo podem afetar o modo que bebemos vinhos hoje?

Orlando Rodrigues: Acho que o aumento da renda, a busca por uma alimentação mais saudável (quem bebe vinho em geral come melhor) e a maior divulgação do vinho vão ajudar nesse sentido. O uso do vinho para a confecção de drinques também é um belo caminho.