Às pressas, padre leu decreto para reivindicar 1ª paróquia dedicada à Santa Dulce

Padre Lafaiete adiantou a leitura para que a Bahia não perdesse o pioneirismo

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 13 de outubro de 2019 às 18:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Tiago Caldas/CORREIO

O sol ainda estava nascendo aqui no Brasil, neste domingo (13), quando Irmã Dulce foi decretada santa pelo Vaticano. Logo após o anúncio do Papa Francisco, às 5h33, era agitado o clima na comunidade do Saboeiro, em Salvador, que assistia à canonização. Às pressas, o pároco Lafaiete Santana leu o decreto de criação da primeira paróquia dedicada à ela.“Fizemos isso para que nenhuma outra paróquia do mundo passasse na nossa frente”, contou. 

Antes de viajar para a celebração na Europa, o documento já foi deixado pronto e assinado por Dom Murilo Krieger, arcebispo primaz do Brasil, para garantir que a freguesia pioneira fosse da Bahia, terra da Bem-Aventurada. Localizada na Rua Silveira Martins, nº 32, a antiga Capela Santíssima Trindade foi elevada à categoria de Igreja Matriz da agora Paróquia Santa Dulce dos Pobres. 

Na missa soteropolitana que sucedeu a canonização, uma criança de nove anos foi escolhida para levar até o altar a cruz contendo um fragmento de osso da santa, considerado uma relíquia de primeiro grau. O ritual é explicado pelo bispo auxiliar Dom Estevam, que presidiu a celebração eucarística. 

“Desde a antiguidade, as igrejas tinham essa tradição das relíquias, que era uma forma de dizer que se estava muito próximos dos santos e santas. Aqui em Salvador, onde tantas pessoas foram amigas de Irmã Dulce, é bonito e simbólico ter uma relíquia na primeira paróquia do mundo dedicada à ela”, pontuou. 

Para simbolizar a pureza, o menino Marcos Adriano Nascimento, foi escolhido pelo padre e teve a honra de segurar o objeto. “Para mim foi muito bom carregar um pedaço da santa que ajudou os pobres”, disse ele, que já é coroinha. Orgulhosa, a mãe, Adriana Barros, 44, buscou um lugar alto para ver o momento, mas a igreja estava muito cheia, com cadeiras e toldos espalhados pela área externa. 

“Ele foi o escolhido e eu fiquei daqui de fora babando. Vi de longe e já estou ansiosa para ver melhor as imagens nos jornais. Esse dia para mim traz em nós a missão de seguir os passos de Irmã Dulce porque todos nós podemos fazer um pouquinho do que ela nos ensinou. É um legado de caridade com o próximo, com os irmãos mais necessitados”, comentou. 

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Testemunho

Quando Dom Estevam perguntou quem dos presentes teve contato direto com a Santa Dulce, diversas mãos foram erguidas. Entre as tantas pessoas que tiveram a oportunidade única de estar ao lado da pura Dulce estavam a aposentada Elisabete Berbet e a gestora escola Dejanira Silva Souza, 47. 

Dejanira tinha só 15 anos quando a viu. Era membro de um grupo de jovens da igreja, que tinha como uma de suas missões visitar Irmã Dulce e as Obras Sociais. “Eu era muito nova, então naquele momento era uma alegria juvenil. Hoje, a minha alegria é ter conhecido uma santa, aquilo foi mágico”, disse, sem segurar as lágrimas. Emocionada, ela acrescentou que tinha mais motivo para o choro de felicidade, já que, coincidentemente, comunga na comunidade que agora será subordinada à Paróquia Santa Dulce dos Pobres.

“A memória que vou guardar deste dia é a da manifestação da fé revelada nesta nossa Salvador, Bahia, através de Santa Dulce dos Pobres e agora nos resta esperar que ela rogue por nós”, finalizou. Dejanira Souza tinha só 15 anos quando conheceu a santa (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) O trabalho social da Bem-Aventurada foi testemunhado por Elisabete, que teve poucos minutos com ela, mas que lhe valeram por toda uma vida. Na época, a aposentada trabalhava como secretária numa empresa de produtos médicos, em Brotas, que fazia doações mensais para as Obras Sociais. Quem costumava bater à porta dela para recolher o valor eram agentes da Osid, mas não naquele dia. 

“Quando eu abri, era ela. Fiquei feliz, emocionada por aquela visita. Ela sentou, aguardou a assinatura do cheque, eu entreguei, dei um abraço e nos despedimos”, recorda ela, contente pelo contato tão próximo. 

Irmã Dulce era conhecida por apadrinhar crianças, casamentos, dar conselhos, escrever bilhetes, entrar de fato na intimidade das vida das pessoas. Ela não tinha uma relação estreita com a comunidade do Saboeiro, onde está a nova paróquia, mas para Dom Estevam é difícil encontrar um lugar em Salvador que não tenha sofrido influência dela, sobretudo os bairros antigos. 

Paróquia de Santa Dulce dos Pobres

A nova paróquia abrigará sete comunidades da região, a maioria delas localizadas nos bairros de Narandiba e Cabula. Com a elevação, o território ganha agora um novo pároco, missa dominical, mais olhares e devoção. “Para a gente essa mudança de capela para igreja matriz é uma alegria porque teremos uma maior evangelização. A casa ganha outro padre e divide o território, que era grande, dando uma assistência maior”, explicou padre Lafaiete.

Sem dúvida, a canonização dela é um marco na religiosidade católica baiana e brasileira. O significado das santidades é dado pelo bispo, que ressalta que os santos são amigos das pessoas, acompanham e intercedem por elas junto a Deus. Para ele, a responsabilidade da Santa Dulce agora é ainda maior: rogar não só pelos baianos, mas por toda a humanidade. “O mundo precisa viver esse chamado para a santidade, seguindo os passos de Jesus Cristo para passar pela vida praticando o bem”, acredita.