As propostas de candidates LGBTQIA+ para a Câmara Municipal de Salvador

Me Salte promove série de entrevistas a partir desta segunda-feira (26)

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  • Da Redação

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

A cobertura de eleições no CORREIO segue a todo vapor e, a partir desta segunda-feira (26), o canal Me Salte, especializado em produção de conteúdo para o público LGBTQIA+, faz uma série de entrevistas, ao vivo, com pessoas da comunidade que concorrem aos cargos na Câmara Municipal de Salvador. Foram convidades candidates de todas as coligações majoritárias que concorrem à cargos em Salvador. O PRTB e o PCO informaram  que não têm nenhuma candidatura LGBTQIA+.

O professor Jaime Barreiros, analista judiciário do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) explica que, de acordo com a Lei 9.594 - a Lei das Eleições -, jornais impressos e sites não precisam manter as mesmas regras que veículos de rádio e televisão. Por serem concessões públicas, empresas de rádio e TV precisam manter a igualdade entre os candidatos entrevistados. Já sites, blogs e veículos em meios digitais podem fazer entrevistas livremente.“Rádio e televisão são concessões públicas, podem entrevistar qualquer candidato, desde que estabeleça uma igualdade: entrevista um candidato de um partido, tem que entrevistar de outro. Em jornal escrito, blog, internet, não tem essas regras. Pode entrevistar quem quiser, quantas vezes quiser. Não tem problema algum”, esclareceu o especialista em Direito Eleitoral.Em Salvador, dez candidates toparam o desafio e terão 30 minutos de entrevista conduzida pelo jornalista Jorge Gauthier no Instagram do Me Salte (@me_salte) ao longo desta semana. As entrevistas serão no esquema de pergunta-resposta de maneira propositiva. A ideia é que cada candidate explique os seus objetivos e projetos para a comunidade LGBTQIA+. Além de perguntas feitas por Jorge Gauthier, leitoras e leitores do Me Salte também terão voz.

Gauthier aponta que o CORREIO  é um jornal que valoriza a pluralidade da democracia e por esse motivo apoia a iniciativa do Me Salte de fazer esse conteúdo especial. “O Me Salte  abre esse espaço democrático para visibilizar essas candidaturas por entender que é fundamental para a construção da nossa sociedade visibilizar essas vozes da comunidade LGBTQIA+, que buscam espaço nos centros de poder”, diz o jornalista. Serão duas entrevistas por dia até 30 de outubro. Todes candidates concordaram com a ordem das entrevistas. 

Representatividade Coordenador de comunicação do programa Voto com Orgulho, Gregory Rodrigues explica que dar esse espaço para candidaturas LGBTQIA+ é importante porque muitas vezes essas pessoas não têm espaço, tampouco capacidade de investimento para fazer uma campanha sólida.“Dar um espaço para aqueles que são minorizados é de extrema importância para equilibrar o jogo democrático. Sem democracia e sem equilíbrio, a gente não constrói uma sociedade”, explica o coordenador.Presidente da Aliança LGBTI+, Toni Reis aponta que a democracia se fortalece com minorias atuantes e aponta que os grupos marginalizados sofrem para fazer campanha contra grupos mais poderosos e tradicionais. Segundo Toni, o grupo LGBTQIA+ ainda está no terceiro escalão de financiamento e não se pode contentar com migalhas.

O cientista político Cloves Oliveira, pesquisador em estudos eleitorais, explica que os órgãos, tanto legislativos quanto executivos, devem representar a sociedade em que estão inseridos: “A ideia da representação proporcional é que todos os grupos, em termos de ideias e interesse, possam estar representados e isso não acontece nas Câmaras Legislativas da Bahia. O sistema democrático tem que dar oportunidade para todos e todas de votar e serem votados, para que eles possam ocupar os cargos públicos, defender a agenda desse grupo e também ter autonomia para representar as demandas de toda a sociedade”.

O cientista também lembrou que a única trans a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores de Salvador foi Leo Kret, entre 2008 e 2012. “Não se trata só de concorrer, porque se candidatar quase todo mundo pode, mas de conquistar um apoio substantivo do partido, vencer o preconceito do eleitorado e se colocar como capaz de responder aos segmentos da sociedade e, ao final, vencer uma eleição, que é extremamente difícil, porque mecanismos institucionais dificultam o sucesso deles e delas”, analisou o Cloves Oliveira, que também é professor da Ufba.

Editora-chefe do Jornal CORREIO, Linda Bezerra aponta que a democracia prevê uma variedade de vozes e esse é um ponto que norteia toda a cobertura do jornal nas Eleições 2020. Ela aponta que o conteúdo do veículo precisa ser diverso, plural e é importante que uma agenda como a do LGBTQIA+ esteja presente no tema eleições, porque essa é uma comunidade que, historicamente, tem direitos desrespeitados, esquecidos e vilipendiados.

Ela aponta que uma das marcas do CORREIO é a diversidade e, por isso, essa agenda dialoga com o papel do veículo.“O Me Salte tem um trabalho de valorização da agenda da comunidade LGBTQIA+ e, além disso, é necessário dar voz a ela. É um direito do Me Salte fazer esse recorte. O leitor do canal merece saber o que os candidatos que estão com essa bandeira pretendem buscar. Isso inaugura um formato para determinados nichos da sociedade”, diz Linda.O Me Salte é o canal de notícias LBGTQIA+ do jornal CORREIO. Foi criado há quatro anos e, nesse período, acumula mais de 26 milhões de acessos. Dentro do blog e redes sociais é possível encontrar conteúdos que vão desde autocuidado, curiosidades, lacração e políticas voltadas à comunidade.

Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia, destaca a importância da eleição de pessoas LGBTQIA+. "Eu acho que só a política liberta, pari passu com atuação na sociedade na educação, em especial, para educar um povo mal educado e sem educação, que não consegue ver a grandiosidade da participação popular na Legislativo. É uma chance esse momento da população LGBT, evoluir na consolidação de muitos direitos que são nagados", destacou. 

Pesquisador do movimento LGBTQIA+ Eduardo Michels classifica como importantíssima a existência dessas candidaturas. Segundo ele, o país vive um período de negação de direitos fundamentais e ter candidaturas que sejam ou que apoiem a pauta é benéfico para a democracia. “O Brasil precisa avançar em seus direitos civis, que vêm sofrendo grandes ameaças. Há preocupação que esse quadro piore e portanto é importante dar espaço a candidaturas que ofereçam melhorias a essa comunidade”, diz.

Recorde Não há um levantamento oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a quantidade de candidates que se identifica como LGBTQIA+. No entanto, a ONG Aliança Nacional LGBTI+ fez um levantamento este ano junto aos partidos e através de cadastros no site e apontou um número recorde: 585 pessoas da comunidade se candidataram às eleições municipais.

Estima-se que em Salvador haja pelo menos 55 candidaturas. A ONG criou o Programa #VotoComOrgulho para acompanhar e monitorar a participação de candidaturas LGBTI e também ofereceu um curso virtual de formação com questões relacionadas a cidadania LGBTI+, direitos humanos e políticas públicas, planejamento, aspectos políticos e a propaganda para se um bom desempenho eleitoral.

Das 585 adesões, foram 15 pré-candidaturas para prefeitas e prefeitos e 569 para vereadoras e vereadores. O universo é composto por 46,8% (274) de gays, 12,6% (74) de lésbicas, 11,6% (69) de mulheres trans, 4,8% (28) de bissexuais masculinos e o restante das demais identidades de gênero e orientações sexuais.

Esse levantamento é feito desde 1996, quando houve apenas oito candidaturas. Vinte anos depois, em 2016, nas últimas eleições municipais, esse número saltou para 377 candidates, de acordo com a ONG ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos).

Esta não será a única série de entrevistas com candidates LGBTQIA+ do Me Salte. Em novembro, o blog realiza uma segunda parte da série com reportagens. As transmissões das eleições do CORREIO contam com apoio da ITS Brasil.

Confira o calendário de entrevistas

26 de outubro  20h Petra da Bancada (PT) "Estamos numa caminhada pedagógica de convencimento  de que os espaços de poder também são nossos. Portanto, precisamos organizar, mobilizar e discutir muita política: através dela, conquistamos melhorias e garantimos direitos. Mas precisamos também apostar em novos formatos, partir de novos erros, e a nossa candidatura coletiva é a nossa grande narrativa destas eleições". 20h30 Amanda Frascolla (PDT) "Levanto a bandeira LGBTQIA+ porque sei como é difícil a vida dessas pessoas. Apesar de a gente já ter feito várias outras conquistas, ainda precisamos ter representatividade na Câmara dos Vereadores, levar projetos de lei para a comunidade LGBTQIA+". 27 de outubro 20h Onã Rudá (PCdoB) "A gente vive numa sociedade em que o preconceito contra as pessoas LGBTs é muito grande e isso se expressa em diversos ambientes. Não temos nenhum representante LGBT em Salvador, que é uma das cidades que mais violenta essas pessoas no Brasil inteiro. É importante dar visibilidade a esses projetos, às figuras que se colocam para representar essa comunidade. É mundo comum associarem a LGBTfobia a uma violência direta, que só pode ser sentida com um xingamento ou agressão física, mas ela é um sistema que impõe desvantagens às pessoas LGBTs em todos os ambientes da vida em sociedade". 20h30 Tutua (Avante) "A população LGBTQIA+ ainda precisa de representação no espaço político para pensar em projetos que prevejam o bem-estar social para pessoas que nunca foram vistas como cidadãs perante o Estado. Por isso é muito importante ter esse espaço para que a gente mostre nossas ideias" 28 de outubro 20h Ariane Senna (PSB) "Precisamos dessa visibilidade positiva e da oportunidade de mostrar para a sociedade que somos LGBTQIA+ competentes. Somos ativistas sociais, intelectuais e aptas para disputar um cenário político e eleitoral que estamos vivendo nessa conjuntura de tensão de retirada de direitos. É a nossa existência que está dentro desse espaço, não apenas escrevendo e propondo novas diretrizes para a nossa população, mas também fiscalizando a sua execução". 20h30  Laina Crisóstomo (Psol) "Não é só sobre representatividade, é algo sobre mostrar o projeto político para a causa. Temos uma Câmara Municipal com 43 cadeiras, com uma quantidade ínfima de mulheres, de negras e negros e nenhuma de LGBTQIA+ e isso diz muito sobre o que a gente precisa pensar sobre representatidade. Podemos construir muita coisa com as pessoas cis e hétero, mas a gente precisa entender que quem sofre e sente a dor é quem sabe falar sobre ela. Por isso, pautamos tanto a ideia de representatividade, mas sempre com compromisso, porque não é qualquer LGBT que vai defender as nossas causas" 29 de outubro  20h Rosy Silva (PDT) "Como pessoa LGBTQIA+, eu conheço na pele as mazelas dessa população, minha voz é a voz de uma mulher lésbica que sempre esteve envolvida com o público, inclusive na liderança da marcha LGBTQIA+ do Subúrbio. Quero propôr politicas públicas que concedam o direito a essa parcela da população que se encontra esquecida. Políticas essas de inclusão e reparação por anos de silenciamento e de segregação de direito". 20h30 Alana Carvalho (Podemos) "Esse espaço que o CORREIO dá para candidates LGBTQIA+ é importante para mostrar diversidade dentro da política e nos mostrar que é possível ocupar esses espaços. É importante ter uma representante trans na política para representar o povo LGTB e de matriz africana, sendo uma porta-voz direta dentro desse espaço para se fazer uma mudança e renovação, dentro de uma construção verdadeira em uma luta por todos". 30 de outubro  20h  Léo Kret (DEM) "É importante ter esse espaço para os candidatos LGBTQIA+ se exporem. As pessoas estão se encorajando a entrar de cabeça nessa luta. Com a mente aberta, as pessoas entendem que somos seres humanos e quanto mais apoio conseguirmos, mais a luta cresce e fica a esperança de um dia acabar com o preconceito e discriminação. Temos bons projetos de lei, mas falta fiscalização e encaminhamento para que esses projetos possam realmente sair do papel". 20h30  Renatona (Pros) "Nós que somos discriminados sempre vamos chegar para mudar a Câmara de Vereadores que só tem héteros que não fazem nada por nós. Queremos mudar e lutar por todos nós, por isso é importante que esse espaço seja dado para que a gente possa expor nossas ideias". CORREIO nas Eleições 2020: Em 2020, o jornal CORREIO tem ampla cobertura sobre as eleições na Bahia em diversas plataformas. Veja algumas ações:- Jornal Impresso: Cobertura diária sobre as eleições em Salvador, interior da Bahia e principais cidades do Brasil.  - Sabatina com os candidatos: De 19 a 23 de outubro, o Correio realizou entrevistas com candidatos e candidatas à Prefeitura de Salvador com transmissão no Youtube, Facebook e Instagram.  - Vozes da comunidade: Especial de vídeos colaborativos de jornalismo cidadão com as necessidades específicas dos moradores dos 170 bairros de Salvador, representados pelas 19 zonas eleitorais da cidade; estreia em novembro. - Guia do Voto: Tudo que você precisa saber sobre as eleições está sendo postado nas redes sociais do jornal - WhatsApp, Instagram, Tik Tok, Facebook e Twitter. Siga @correio24horas. - Podcast: O que a Bahia Quer Saber, por Vitor Villar. A cobertura completa das eleições no interior do Estado.

*Sob orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier