Assunto polêmico, o VAR não pode ser uma muleta para os árbitros

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  • Miro Palma

Publicado em 26 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Ah, o VAR... Tá aí um assunto polêmico. Desde que começou a ser cogitado, despertou amor e ódio dos amantes do futebol. A princípio, parecia ser a solução para todos os problemas da arbitragem. Cansados dos erros grotescos dos donos do apito, os clubes, jogadores e torcedores viram na nova tecnologia a esperança de jogos mais justos.

E a Copa do Mundo da Rússia só aumentou essas expectativas. Quando as mãos dos juízes se levantavam formando um retângulo, as torcidas vibravam como se fosse um gol. Nem os penteados de Neymar chamaram tanto a atenção no mundial quanto o árbitro de vídeo. Tecnologia aprovada.

Aí chegou a nossa vez: O VAR estrearia em terras tupiniquins. Para não perder o costume, o batismo foi em meio a uma querela. Ficou decidido pelos cartolas que a tecnologia seria utilizada a partir das quartas de final da Copa do Brasil, em agosto deste ano. A controvérsia era, justamente, pela escolha de um campeonato já em andamento. E os erros que aconteceram em partidas anteriores e foram fundamentais para o resultado até então? Seria justo? Sem dar bola para essa questão, a CBF ligou o monitor no jogo entre Santos e Cruzeiro, a primeira disputa no país com o auxílio tecnológico.

De lá pra cá, a dinâmica do VAR por aqui passou a colecionar críticas. Na última quarta-feira, o Bahia engrossou esse coro. No primeiro jogo da disputa pela vaga na semifinal da Sul-Americana, na Fonte Nova, o tricolor fez dois gols contra o Atlético-PR, um no primeiro tempo e outro no segundo. O Atlético-PR também balançou a rede na etapa final. Seria o suficiente para que o Bahia fosse para a Arena da Baixada dependendo apenas de um empate para garantir a vaga. Seria...

Os dois tentos baianos foram anulados pelo juiz argentino Fernando Rapallini com a ajuda do VAR. Até aí, nada demais se os dois gols fossem realmente ilegais. O primeiro, aos 22 minutos do 1º tempo, foi resultado de um voleio de Clayton. Num bate e rebate na área do rival, o atacante mandou para a rede e o árbitro validou o gol. No entanto, depois consultou o VAR. Foi até o monitor e anulou o gol porque, segundo a equipe de arbitragem informou após a partida, Clayton levantou demais a perna e poderia ter acertado a cabeça de Nikão.

Já no primeiro minuto do 2º tempo, Ramires acertou a rede e, mais uma vez, Rapallini pareceu convicto ao marcar o tento. Os jogadores já se preparavam para reiniciar o jogo, quando ele colocou a mão no ouvido. Mais um gol anulado, dessa vez por impedimento. Quem estava na arquibancada sentiu o gosto amargo de comemorar um gol e logo em seguida lamentar. Dentro de campo, os jogadores pareciam compartilhar a decepção.  

O primeiro lance é considerado de interpretação e, como não existem critérios mais específicos para a arbitragem, cada um enxerga de uma forma diferente. Não houve falta de Clayton em Nikão. Logo, a invalidação do gol é questionável. E aí, o VAR foi utilizado sem a menor necessidade ou eficácia. O árbitro de vídeo é feito para corrigir um erro e não uma interpretação. O segundo lance foi objetivo. O impedimento tem uma regra clara e, por isso, o juiz marcou a suposta infração com a ajuda dos auxiliares na cabine. Não achei a marcação correta, mas confesso que a jogada é difícil até com a câmera lenta.     O problema é que, no meio dessas duas jogadas, existe um abismo que parece estar se aprofundando com o advento do auxílio de vídeo. O VAR não está ali para apitar o jogo. O dispositivo não pode funcionar como uma muleta para que o juiz recorra em lances que a cabe a ele a decisão. O jogo fica enfadonho, sem graça. 

A tecnologia precisa ser usada para melhorar. Contudo, como dizem por aí, às vezes o defeito está na frente do computador e não na máquina.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras