Atendimentos em gripários crescem até 724% em Salvador

Cidade transforma USF em UPAs e reabrirá hoje mais um gripário para atender a demanda

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  • Gil Santos

Publicado em 21 de janeiro de 2022 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/Arquivo CORREIO

A junção da gripe mais covid fez o número de atendimentos nos gripários de Salvador disparar. No começo do ano, a unidade do Pau Miúdo atendia 46 pacientes por dia. Agora, são 379 casos diários, um aumento de 724% em 20 dias. Nos Barris, o número saltou de 99/dia para 253/dia. Nesta sexta-feira (21), o gripário de Pirajá/ Santo Inácio será reaberto para tentar ajudar a desafogar o sistema. Nessa quinta-feira (20), quatro unidades básicas foram transformadas em pronto atendimento.

É tanta gente buscando ajuda que a espera tem durado horas na porta das unidades. Do lado de dentro, pacientes estão recebendo atendimento em macas nos corredores ou até mesmo em colchões no chão. Além disso, 2,2 mil servidores municiais estão afastados, por diversas doenças, e muitos deles são profissionais de saúde. O coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Ivan Paiva, contou que o sistema está com 42 trabalhadores a menos, porque estão infectados com covid.

“São médicos, enfermeiros, técnicos e condutores socorristas infectados. Estamos ampliando hora extra, permitindo trabalho remoto, nas situações em que isso é possível, e fazendo ajustes nas escalas para conseguir manter as 62 ambulâncias em funcionamento. O cenário é crítico, e está assim também na rede privada”, disse.

O coordenador contou que pacientes que têm plano de saúde também estão com dificuldade para conseguir atendimento e que, em alguns casos, a espera dentro da ambulância pode durar algumas horas. “O paciente está bem, porque está acompanhado de profissionais e equipamentos, mas isso impossibilita que o veículo possa ser usado para atender outras ocorrências”, contou.

A estudante Renata Nascimento, 21 anos, sentiu na pele a febre por atendimento. Ela contou que chegou no gripário dos Barris, às 6h, mas só conseguiu ser atendida às 13h.

“Quando cheguei na fila já tinham 12 pessoas e quando o posto abriu, já eram mais de 60 aguardando pelo teste. Eu tive contato com uma pessoa que estava infectada, estava apresentando uma inflamação insistente na garganta e tive febre por um dia inteiro. Estou extremamente preocupada, muita gente contraindo o vírus, principalmente pessoas que moram comigo”, contou.

Unidades Para tentar aliviar a pressão a prefeitura voltou a adotar medidas do início da pandemia. A primeira delas foi a reabertura dos gripários, unidades criadas na gestão ACM Neto para atender exclusivamente pacientes com síndromes gripais. A estrutura de Pirajá/ Santo Inácio será reaberta nesta sexta-feira (21). Quando foi inaugurada, em junho de 2020, ela tinha dez leitos de enfermaria e duas salas vermelhas – similar a uma UTI.

Além disso, nesta quinta-feira (20), quatro Unidades de Saúde da Família foram transformadas em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Na prática, significa que elas vão atender casos específicos de síndromes gripais, de baixa e média complexidade, e vão ampliar o funcionamento de cinco para sete dias na semana, e atuar durante 24h. A capacidade é para 250 atendimentos diários, cada.

Foram adaptadas as USF de Pirajá, IAPI, Itapuã e Imbuí. O prefeito Bruno Reis (DEM) esteve na unidade do Imbuí e pediu para que a população redobre as medidas de proteção contra o coronavírus. Ele disse que o crescimento na demanda dos gripários não está causando sobrecarga dos leitos de UTI e lembrou que isso se deve a vacina.  

“Há uma grande pressão sobre o sistema de saúde de urgência e emergência. Graças a Deus, a vacina está cumprindo o seu papel, então, a demanda por leitos de UTI não está na mesma proporção. Temos em funcionamento dez UPAs, cinco PA (Pronto Atendimentos) e três gripários. São 18 estruturas somente da prefeitura. Existem mais três do estado e estamos inaugurando mais quatro agora, ou seja, são 25 unidades, 15 a mais que em condições normais”, disse.

A taxa de ocupação de leitos de UTI em Salvador está em 78% e a de leitos clínicos em 89%. A UTI pediátrica melhorou. Depois de alcançar 95%, no início do mês, caiu para 60% e a clínica está em 83%. Em toda a Bahia, a ocupação da UTI e da enfermaria adulta está em 68% e 55%, respectivamente. E a UTI e enfermaria pediátrica em 66% e 70%.

Mais leitos  A sobrecarga no sistema de saúde levou o governo do estado a reabrir leitos no Hospital Espanhol, na Barra. Desde 2020, a unidade está sendo usada exclusivamente para o atendimento de pacientes infectados com covid-19. O governador Rui Costa (PT) informou que as novas vagas estarão disponíveis a partir de domingo (23).

"Serão 30 leitos clínicos para tentar desafogar as UPAs, vamos estar retirando parte dos pacientes e levando para o Hospital Espanhol. Isso busca dar uma ajuda às redes municipais e reduzir a pressão nas UPAs e emergências", afirmou.

O governador disse que a situação pode se agravar devido à facilidade de transmissão da Ômicron e que está monitorando a situação para abrir novos leitos, caso seja necessário. “Ontem nós ultrapassamos 100% do número de internados do início do mês de dezembro. Chamo a atenção ao fato de que essa nova variante mata. Ela interna muito menos do que a outra, mata menos do que a outra, mas mata”, afirmou.

A prefeitura também não descarta ter que abrir novas unidades para conseguir atender o aumento na demanda. Foram citadas como possibilidade a reativação dos leitos do Hospital Salvador, na Federação, e dos gripários de Paripe e Valéria. O secretário municipal de Saúde, Léo Prates, cobrou mais comprometimento da população e do governo na luta contra o vírus.

“Apesar da taxa de letalidade ser menor, a alta contaminação pode levar a um número bruto de mortes muito maior. Além disso, estamos ao mesmo tempo enfrentando outras doenças”, afirmou. Ele também se queixou da redução do financiamento de leitos pelo governo federal, que passou de R$ 1,6 mil para R$ 600.