Ativismo jovem: grupo Girl Up luta contra a pobreza menstrual

Organização global associada à ONU é composta por jovens de 12 a 19 anos

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  • Luana Lisboa

Publicado em 8 de maio de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paula Fróes

Aos 18 anos, Júlia Alkmim tem interesses típicos de jovens de sua idade. Cursando o último ano do ensino médio, ela gosta de ler, surfar e desenhar. Mas, desde já, tenta encontrar propósitos maiores para se apegar e causas para lutar. Júlia é líder em Salvador da organização global Girl Up, associada à ONU. Está junta com Rebeca Souza, líder do grupo em Sergipe, e Nina Robles, de São Paulo.

Juntas, já conseguiram protocolar projetos de lei em 12 estados do Brasil contra a chamada pobreza menstrual, inclusive na Bahia.“A pobreza menstrual é a falta de acesso aos produtos menstruais, que também denuncia falta de acesso ao saneamento e higiene básica, desigualdade social e racial e, no geral, um problema estrutural brasileiro que demonstra a falta de preparo do país para acomodar as mulheres no que é um processo natural feminino, a menstruação”, explica Júlia. Ela se refere a uma pesquisa divulgada pela Always, marca de cuidado íntimo, que aponta que 1 a cada 4 mulheres no Brasil já faltou aula por não poder comprar absorvente. É que esse item não é enquadrado, pelo governo brasileiro, como um produto de saúde básica. Portanto, não recebe isenção de impostos e não é incluído na cesta básica. A taxa tributária para o absorvente é a de um “cosmético”. “Como é possível que meu batom e meu absorvente, do qual eu necessito todo mês, sejam taxados da mesma forma?”, questiona Rebeca Souza.

Foi assim que, no início da pandemia, a associação, que une meninas dos 12 aos 19 anos, promoveu a arrecadação de 100 mil absorventes para distribuição às mulheres que não teriam condições de comprá-los. Idealizada por Maria Antônia Deziderio, fundadora da Girl Up em Salvador, a campanha surgiu de uma troca de mensagens em grupo de WhatsApp.

“Sabemos que estamos em quarentena e que muitas iniciativas privadas e governamentais estão doando cestas básicas e materiais de limpeza. Mas só sabão, xampu, condicionador e pasta de dente são incluídos. Absorvente não seria um item de higiene pessoal?”, provocou Maria em um dos grupos virtuais, à época. 

Mas “somente” a arrecadação não foi suficiente para as meninas. “Após essa campanha, percebemos que ela funcionaria como uma solução provisória. Todo mês a gente menstrua, mas não conseguiríamos arrecadar 100 mil absorventes todo mês. A forma certa de combate a esse problema seria através da política”, concluiu Rebeca.

Absorvente na cesta básica Na Bahia, a Girl Up “Roda Baiana” entrou em contato com a deputada Olívia Santana e, em parceria, construíram dois projetos de lei. Um inclui o item na cesta básica como produto essencial e outro garante absorventes gratuitos em escolas públicas, unidades prisionais e unidades básicas de saúde. “Isso abriu um novo capítulo na política de saúde à mulher baiana, porque nunca antes o combate à pobreza menstrual tinha sido uma pauta na política do estado. Mas não é só na Bahia que isso está acontecendo”, Júlia conta. Em outros 11 estados, também foram protocolados projetos de lei que visam o mesmo objetivo e 2 deles já foram aprovados, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal.

Mesmo sem se conhecerem pessoalmente, as líderes dos estados mantém contato. A distância física não faz diferença quando há uma luta por algo em comum. “Essa conexão acontece através das redes sociais. Fazemos reuniões no Meets e no Zoom e, agora, posso ter a oportunidade de chamar Júlia e Rebeca de amigas”, diz Nina, que com 15 anos, é representante da Girl Up em Campinas, São Paulo.

Para elas, a luta se inicia desde jovens, junto com a descoberta do mundo. “Eu acho que tudo parte dessa idade, quando a gente tá descobrindo o mundo. É quando as injustiças ainda chocam a gente e temos uma maior vontade de querer mudar os problemas e questionar as coisas, eu acho que parte do jovem. A gente tem que usar essa ânsia por salvar o mundo, para começar a se engajar nessas questões importantes. Com o passar do tempo, as pessoas vão ficando acostumadas a ver as coisas acontecerem do jeito que elas são. Por isso, quanto antes começarmos as mudanças, melhor”, acredita Júlia.

* Com orientação da Chefe de Reportagem Perla Ribeiro.