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Andreia Santana
Publicado em 15 de julho de 2018 às 05:56
- Atualizado há 2 anos
Para o senso comum, a tecnologia ainda é um universo de domínio masculino. Apesar dos avanços na cultura, as meninas não são tão incentivadas a abraçar carreiras nessa área quanto os garotos. O que não deixa de ser irônico, já que uma mulher, a condessa Ada Lovelace, que viveu no século XIX, é considerada a primeira programadora da história. Mas, se depender de gente como a ativista senegalesa Mariémme Jamme, 44 anos, essa realidade muda até 2030, ano em que ela pretende concluir a meta de ensinar um milhão de meninas a programar.>
No site oficial, o projeto de Mariémme, chamado de I am the Code (Eu sou o código, na tradução do inglês) é descrito como uma plataforma que tem “o objetivo de formar as novas líderes digitais do futuro”. A iniciativa, reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) já está presente em 93 cidades de 42 países e é exemplo mundial de inclusão digital. >
Através de sua experiência como consultora para grandes empresas, Mariémme, que em outubro do ano passado esteve no Brasil e apresentou o projeto em São Paulo, influencia as gigantes da tecnologia a investir na educação de garotas em situação de vulnerabilidade social e econômica. >
Sua intenção é que governos, empresas e investidores apoiem a conquista da autonomia feminina nas chamadas STEAMD, sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes, Matemática e Design. Por seu trabalho, ela é conhecida como ‘diplomata da tecnologia’ e já foi homenageada como Jovem Líder Global no Fórum Econômico Mundial, devido ao esforço para capacitar e investir em mulheres jovens e meninas, através da aprendizagem criativa e empreendedorismo, na África e em países pobres de outros continentes.>
Mariémme Jamme conhece bem a realidade que pretende mudar. Ela teve uma infância e adolescência de extrema pobreza e violência. Viveu em orfanatos de Dakar até os 13 anos, quando foi traficada do Senegal para a França, para ser explorada sexualmente. Até que, presa e levada para um campo de refugiados, começou a estudar e aprendeu a ler e a escrever aos 16 anos. Autodidata, também aprendeu oito linguagens diferentes de programação. >
Assista palestra de Mariémme Jamme no TDEx:>
O I am the code, que está alinhado com a Agenda 2010 da ONU - um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade com sustentabilidade -, nasceu da inquietação de sua criadora com a realidade da educação feminina no mundo. Segundo dados no próprio site do projeto, citando como fonte o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), são 65 milhões de meninas no mundo a quem é negado acesso à educação básica.>
Mariémme, em suas palestras disponíveis na internet, defende que não investir na educação das meninas, ajudando em seu avanço diante de tantas desigualdades existentes no mundo, cria camadas de cidadania e uma divisão digital na sociedade.>
“Não ter a chance de frequentar a escola ainda cedo e de ter uma oportunidade para uma educação de formação, me fez iniciar este movimento. Acredito firmemente que precisamos ajudar a corrigir o fracasso dos formuladores de políticas, investindo em meninas e mulheres por meio de aprendizado criativo e da tecnologia”, afirma a ativista no texto de apresentação do I am the code.>
Quem é – Mariémme Jamme é uma programadora, ativista digital, consultora de tecnologia para grandes empresas e organizações mundiais como Google, Microsoft e ONU Mulheres. Ela nasceu em 1974, no Senegal, mas tem também as cidadanias britânica e francesa. No ano passado, a ativista ganhou o Prêmio de Inovação Global Goals Award 2017 pela Unicef e pela Fundação Bill e Melinda Gates, por seu trabalho junto aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Também consta na Powerlist 2017, que nomeia as 100 pessoas mais influentes na África e Caribe. Tornou-se recentemente membro do Conselho Consultivo da Data Pop Alliance, uma coalizão global que promove uma revolução do Big Data centrada nas pessoas. Ela é ainda o mais novo membro da diretoria da Web Foundation, onde apoia a entidade nas questões de gênero e igualdade digital. Também é a primeira mulher negra a ser nomeada e convidada para fazer parte do programa visionário do UBS Group Global.>