Atriz Juliana Lohmann revela ter sido estuprada por diretor aos 18 anos

'Lembro de enfiar meu rosto no travesseiro pra que ele não percebesse as lágrimas que caíam sem controle', relatou

Publicado em 14 de julho de 2020 às 13:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Instagram
. por Fotos de Divulgação

Atriz desde a infância em várias novelas da Globo - como Malhação, I Love Paraisópolis e O Outro Lado do Paraíso - e da Record, Juliana Lohmann, 30 anos, revelou em seu Instagram que, aos 18, foi vítima de um estupro e só hoje entende que não foi culpada pelo crime.

"Falar sobre o estupro que vivi aos 18 anos e as agressões provenientes de uma relação abusiva tempos depois é resultado de um processo muito longo de elaboração. São acontecimentos que habitam meu íntimo de maneira muito profunda e constituem grande parte da mulher que me torno a cada dia. Essas memórias perduraram por tempo demais no silêncio e na dúvida que a estrutura patriarcal nos faz ter acerca das próprias marcas que nos infringem", começou ela.

"Ajo movida pela força da certeza de que não podemos mais nos calar. Precisamos falar sobre as estruturas de opressão sob as quais as mulheres estão submetidas, sobre o machismo, sobre violência doméstica, sobre relacionamento abusivo, sobre estupro. Exponho esse relato no intuito de, além de jogar luz nessas questões, fazer com que outras mulheres, que talvez possam se identificar com tais acontecimentos, tenham mais clareza acerca das próprias experiências. Meu desejo, ao expor esse relato pessoal, é de denúncia. Não apenas da forma de operar desses homens, mas principalmente de um sistema", completou Juliana. Juliana Lohmann contou sobre abusos em seu Instagram (Foto: Reprodução/Instagram) Em texto escrito por ela publicado na revista Claudia, detalhou a situação. Contou que o agressor foi "um famoso" do cinema, que a convidou para fazer teste para um novo filme.

"Ele me ligou e me chamou diretamente. Era em São Paulo e eu sou do Rio de Janeiro. Perguntei se podia levar minha mãe. Não, ele não poderia pagar mais uma passagem. Pediu desculpas. Fui mesmo assim. Era a primeira vez que viajava sozinha, me senti uma desbravadora de novos horizontes", lembra ela, que fez sua primeira aparição na TV aos 11 anos e passou a adolescência nos bastidores das novelas.

Juliana e o agressor se encontraram, por sugestão dele, em um quarto de hotel. Os dois passaram o texto algumas vezes, até que o homem sugeriu que ela fumasse maconha.

"Ele concluiu que a personagem exigia 'mais loucura'. Fiquei reticente, mas acabei aceitando. Dizer não para um diretor não é algo que uma atriz de dezoito anos sabe exatamente fazer. Um trago foi o suficiente pra que eu ficasse completamente chapada. Em determinado momento, percebi que o contato que ele fazia comigo excedia o profissional."

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A atriz lembra de ter sido beijada e, na sequência, ter dito que não queria aquilo. Ela conta que foi "uma completa surpresa" e que, aos 18 anos, "não fazia a menor ideia de que seria atraente para um homem como ele".

O diretor alegou que nada havia sido premeditado, que estava ali de forma "estritamente profissional", mas que Juliana "o havia encantado". Na sequência, a imobilizou e disse que, se a jovem gritasse, ninguém ouviria.

"Pensei em gritar mesmo assim, mas, se alguém escutasse e fosse me socorrer, seria um escândalo. Todos iriam saber que eu estava ali, com aquele homem casado e famoso em seu apart hotel. O que eu tinha ido fazer lá? Eu tinha me colocado naquela situação. Tinha aceitado viajar sem minha mãe, tinha fumado maconha com essa pessoa. Eu tinha provocado", conta à revista.

Juliana diz que precisou "insistir" para que o homem ao menos usasse camisinha na ocasião. "De trás do quadro ele retirou um saco plástico com alguns preservativos. Aquilo me deu a sensação de que eu não era a única pela qual ele 'tinha se encantado'. Colocou a proteção, mas retirou logo em seguida, ejaculando dentro de mim", lembra. Em seguida, o diretor pediu que ela dormisse com ele.

A atriz revelou que, na manhã seguinte, foi estuprada mais uma vez e ouviu, do agressor, que ela o havia lançado um "olhar de desejo", que ela era "uma delícia" e que ele iria "querer mais". "No dia seguinte, de manhã, fui acordada por seu membro invadindo minha vagina. Lembro de ficar na mesma posição, deitada de lado, e apenas enfiar meu rosto no travesseiro pra que ele não percebesse as lágrimas que caíam sem controle. Ele ejaculou dentro, de novo", relatou.

O diretor ressarciu Juliana do valor da passagem e disse que o teste não aconteceria mais por falta de disponibilidade dos produtores.

Anos depois, quando contou sobre o episódio para um namorado, a atriz ouviu que, se realmente não quisesse ter uma relação sexual, "teria jogado um abajur na cara do sujeito".

"Faz muito pouco tempo que tive a certeza de que de fato nunca houve teste nenhum a ser feito em São Paulo. Eu passei doze anos, quase metade da minha vida até aqui, na dúvida. Eu me questionei se realmente eu não quis, me questionei se de fato não foi premeditado o interesse dele por mim, se realmente não havia o teste que, por um 'infortúnio', foi cancelado", conta.

Ela falou ainda que não conseguiu prestar queixa na época: "Quando finalmente elaborei os acontecimentos vividos, soube que os crimes, para a justiça, já haviam prescrito. Perdi meu direito de ter direitos sobre minhas dores. Talvez, se eu tivesse lido um relato como esse, pudesse ter compreendido melhor a situação e eles não estariam impunes".