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Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2022 às 07:31
Consideradas ‘nações-irmãs’, Brasil e Portugal têm estreitado, cada vez mais, as relações, com contribuição significativa da Bahia. Em meia década, o país europeu saiu do sexto para o terceiro lugar na preferência dos baianos que procuram um destino fora para estudar — em âmbito nacional, o interesse cresceu 123%, segundo a Universities Portugal, projeto responsável por divulgar instituições de ensino superior portuguesas.>
Aliado a isso, uma pesquisa da empresa britânica BMI/Times Higher Education mostrou um aumento de 14% na busca por cursos de graduação e de 12% por cursos de pós-graduação no exterior, o mais significativo nos últimos cinco anos.>
E tornar esse sonho realidade pode estar mais perto do que você imagina: a mesma organização promove, nesta segunda-feira (24), em Salvador, mais uma edição do Salão do Estudante, a maior feira de educação internacional da América Latina.>
Além de Portugal, na feira, que acontece no Fiesta Convention Center, na Avenida ACM, das 15h às 19h, há expositores dos outros destinos que compõem o Top 5 de predileção dos baianos: Estados Unidos (1º), Canadá (2º), Reino Unido (4º) e Austrália (5º). >
Ao todo, são cerca de 150 países expositores, com oferta de cursos de graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado e técnicos, além de cursos de idiomas e ‘high school’. Em alguns lugares, como a Irlanda, também é possível encontrar opções de trabalho. >
Mas, por que tamanho interesse por Portugal? Além da facilidade encontrada no idioma, hoje, quem busca um curso de graduação tem a possibilidade de ingressar numa boa universidade lusitana por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Isso mudou tudo. Hoje, todas elas aceitam. Só em Salvador, vão ter mais de 30 universidades representadas”, afirma a diretora de eventos da BMI no Brasil, Priscilla Gomes. >
Outros pontos que pesam a favor são a segurança e o investimento. “Eu diria até que [estudar em] Portugal seria um pouco menos do que uma universidade particular brasileira. E nas melhores portuguesas”, acrescenta Gomes. De acordo com a Universities, os cursos mais procurados são Ciências Empresariais, Administração e Direito. Em geral, a duração pode ir de dois anos (pós-graduação) a quatro anos (doutorado). >
Diferentemente do que estamos acostumados, tanto lá como em outros países, o valor é anual, e não mensal. “Para alunos internacionais, pode variar entre 1,25 mil e 8 mil euros [ou entre R$ 6,3 mil e R$ 40,7 mil]. Esse custo varia de cidade para cidade”, informa a coordenadora do projeto, Rosa Rebelo. >
Quando o assunto é empregabilidade, Rebelo percebe uma tendência de maior oferta de vagas para o setor de tecnologia. “Temos outras também na área do turismo e dos serviços, e nas áreas clássicas do direito e da educação”, lista. Neste momento, existem os vistos de estudante e de trabalhador, mas a coordenadora do Universities antecipa uma novidade. “A partir de novembro, vai existir também um visto de trabalhador-estudante", revela Rosa Rebelo.>
Na Bahia, até este mês, houve 32.385 documentos certificados para viver e estudar no exterior ou obter dupla cidadania, número mais de três vezes maior que o registrado no ano passado (9.527).>
Desde julho, 144 validações foram realizadas por meio da modalidade digital do serviço, recém-lançada. Os dados são do sistema e-Apostil, plataforma administrada pelo Colégio Notarial do Brasil – Conselho Federal (CNB/CF), entidade que reúne os Cartórios de Notas de todo o país.>
Os interessados em estudar fora podem buscar outras informações na embaixada ou consulado mais próximos; no site universitiesportugal.com; e, claro, no Salão do Estudante, cujas inscrições, gratuitas, podem ser feitas pelo endereço salaodoestudante.com.br.>
A 'Salvador' lusitana>
Viver uma nova experiência e fazer um mestrado já estavam nos planos do jornalista Angelo Paz, de 34 anos, mas foi uma visita à cidade de Lisboa, em 2019, que despertou nele a ideia de escolher aquele país para dar um ‘up’ no currículo.“[Em 2019,] foi minha primeira vez aqui [em Lisboa], e eu achei muito semelhante a Salvador: andando nas ruas centrais, é como se você estivesse no Pelourinho, no Santo Antônio Além do Carmo...”, conta o jornalista Angelo Paz, em Portugal há um ano.Pra completar, ele trabalha em um restaurante de comida baiana. “É como se eu estivesse passando metade do meu dia em Salvador, então, me sinto 100% em casa”, diz empolgado.>
Contudo engana-se quem pensa que toda essa semelhança com o ambiente soteropolitano tenha permitido ao jornalista ficar apenas em sua zona de conforto. “Embora eu esteja num país de língua portuguesa, a gente lida muito com pessoas de outras nacionalidades”, explica.>
A um ano do fim do mestrado, Angelo pretende fixar morada na cidade-luz. “A minha cabeça, hoje, é permanecer aqui e voltar em Salvador sempre que eu puder”, revela, acrescentando que vem pra cá em fevereiro, curtir o Carnaval. Trabalhando num restaurante de comida baiana em Lisboa, o jornalista Angelo Paz diz estar "100% em casa" (Foto: Acervo pessoal) Também nascida na capital da alegria, Drayciane da Silva, 31, escolheu o mesmo destino que Angelo para fazer seu mestrado em Ciências Jurídicas Criminais. O motivo, no entanto, foram os feedbacks positivos que ela recebeu de outras pessoas que tinham ido para Portugal com igual objetivo.>
Apesar de estar vivendo em Lisboa há apenas um mês, Drayci, como é chamada, já avalia bem a experiência. “Por existirem muitos brasileiros residindo e, também, por ter um poder de compra muito bom, que faz com que as pessoas consigam viver relativamente bem”, afirma. >
A intenção, todavia, é explorar novos lugares. “Em Portugal, pretendo passar dois anos, que é o tempo do curso do mestrado, e, logo depois, pretendo fazer doutorado, porém em outro país, o qual ainda não decidi”, revela Drayci. “Estudar, buscar coisas novas, entender um determinado assunto sempre nos ajuda a evoluir intelectualmente como, também, no [aspecto] pessoal”, complementa. >
Diferencial pro currículo >
Apesar da popularidade dos portugas, vale lembrar que a liderança ainda pertence aos Estados Unidos. E foi pra lá que rumou Guilherme Hohenfeld, 23, em 2018. Ele obteve duas graduações de uma só vez: uma principal, em Ciências da Computação e uma menor, em Psicologia.>
Guilherme se formou a partir de um sistema de rotação por vários países, cuja sede é nos ‘States’. “Eu me apaixonei pelo sistema: você entra na faculdade e, lá, decide o que quer fazer, tendo uma liberdade maior de escolher matérias”. >
Ter saído do Brasil possibilitou a ele uma oportunidade numa das principais empresas de tecnologia do mundo. “As ‘trends’ de tecnologia começam aqui [nos EUA] e vão pra fora [...] Eu comecei minha faculdade, todo mundo sabia Phyton, uma linguagem de programação”, exemplifica Guilherme. >
Graças ao emprego, o jovem já tem um visto de trabalho — o que ele chama de ‘loteria’ —, com expectativa de conseguir o Green Card, que atesta a permanência. “Você tem que mostrar que seria uma peça valiosa pro governo americano”, explica. >
Só que os perrengues existem. ‘Perrengues chiques’, como dizem, mas existem. “Eu tava em vários lugares nos últimos quatro anos, então, eu não tive uma base num lugar específico. Tudo o que eu tive era de plástico, descartável [...] Você sabe que tem que se virar, porque não tem ninguém pra resolver pra você”, lembra. >
De fato, uma experiência no estrangeiro, além de agregar conhecimentos diversos, pode abrir portas no mercado de trabalho, afirma a analista de pessoas Ana Valéria Nascimento. “Outro aspecto de destaque é o desenvolvimento de competências como adaptabilidade e resiliência, no enfrentamento das adversidades e imprevistos que normalmente essa experiência traz”, analisa. >
No entanto, para Valéria, durante um processo seletivo, é preciso estar atento aos 'atravessamentos que delimitam algumas oportunidades' e conhecer os candidatos para além do currículo.“Em muitos casos, os desafios, superações e transposições de barreiras sociais são catalisadores de desenvolvimento dessas mesmas competências e de tantas outras”, observa a analista de pessoas Ana Valéria Nascimento. Candidatura A escolha do destino é a primeira coisa que deve ser feita pelo baiano que pretende estudar fora, pois, é a universidade que vai determinar os próximos passos do estudante. Desde que passou a aceitar a nota do Enem como requisito para inserção nas universidades politécnicas - de ensino público -, Portugal tem mostrado deter uma das aplicações mais simples.>
A candidatura é mediada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Para se candidatar, o estudante precisa ter realizado a prova do Enem há no máximo três anos e ter obtido uma nota mínima de 500 pontos - ou 600 no caso de algumas universidades portuguesas.>
Tendo atendido aos requisitos iniciais - seja para graduação ou mestrado -, o estudante precisa acessar o site do Inep na aba Enem Portugal. No final da página estarão listadas todas as 51 instituições que aceitam a nota do Enem. Sendo assim, basta clicar na universidade desejada, realizar a inscrição e o pagamento da candidatura. >
Como cada local tem seu processo seletivo, os passos seguintes serão enviados para o e-mail cadastrado pelo estudante. No entanto, apesar de ser pública, diferente do Brasil, as universidades não oferecem bolsas de permanência para os estudantes. >
Sendo assim é importante planejar bem a mudança, pois a única opção de sustento no país é o trabalho. Daí, entra a opção do visto estudante-trabalho, para que os universitários tenham a possibilidade de ter um emprego de meio turno.>
Como se planejar >
Pra você, que se animou com a ideia — ou que já pretendia estudar fora do país —, o educador financeiro Edisio Freire dá duas orientações básicas: >
1- Fazer um breve planejamento, pra entender os custos que teria (tempo, passagem, hospedagem, alimentação etc.); >
2- Comprar a moeda de forma fracionada, e não de vez, visto que há oscilações do câmbio. >
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela >