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Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2019 às 19:59
- Atualizado há 2 anos
Após mais de cinco anos do desaparecimento de Davi Fiúza, foi marcada a audiência de oitiva das testemunhas no caso do jovem para o dia 17 de abril de 2020. A informação foi publicada nesta terça-feira (19) e logo informada para a mãe, Rute Fiúza, que espera que os acusados sejam considerados culpados.>
Para ela, a definição de uma data para a audiência traz uma sensação de vitória em meio a tantas perguntas e uma grande dor para toda a família. “Sinto que a minha luta está valendo a pena e espero que as outras pessoas que lutam por justiça tenham essa sensação de que não fica tão impune como a gente pensa”, afirmou.>
Rute deixa claro que os responsáveis pelo desaparecimento do filho, que tinha apenas 16 anos à época do ocorrido, são assassinos. Por esse motivo, afirma que, caso não sejam condenados, carregará uma frustração. Rute Fiúza, mãe de Davi, adolescente que desapareceu em 2014 (Marina Silva/CORREIO) Na publicação que informa a data da audiência, ainda está indicado que deve-se comunicar a instauração da ação penal contra os denunciados para a Corregedoria da Polícia Militar. Os fatos devem ser agregados aos antecedentes criminais e disciplinares dos acusados, aponta o texto.>
Em 10 de setembro de 2018, o Ministério Público do Estado (MP-BA) denunciou sete policiais militares por sequestro e cárcere privado do adolescente: Moacir Amaral Santiago, Joseval Queirós da Silva, Genaro Coutinho da Silva, Tamires dos Santos Sobreira, Sidnei de Araújo dos Humildes, George Humberto da Silva Moreira e Ednei da Silva Simões.>
A sensação de impunidade pairava até a marcação da audiência. Rute acreditava que o processo poderia não ter um desfecho até prescrever. “Quando recebi a informação do advogado, eu sentei e tentei não pensar muito. Logo depois, vi que é uma realidade e que a expectativa do julgamento faz parte da minha vida”, relata a mãe.>
A mãe de Davi acredita que o processo seria mais eficaz se seguisse para o júri popular. Ela compreende que o julgamento do caso na Justiça Militar pode ficar preso ao corporativismo. Entretanto, Rute ressalta que precisa acreditar que “algo positivo vai acontecer”.>
O processo que apura o desaparecimento de Davi foi para a Justiça Militar a partir da definição da juíza Ailze Botelho Almeida Rodrigues. A Magistrada tomou a decisão com base a Lei 13.491/17, de outubro de 2017, que diz que todos os crimes cometidos por policiais militares serão julgados pela Justiça Militar, com exceção de homicídios, que continuam na justiça comum.>
Apesar de saber que Davi não vai voltar, ela espera que outros casos parecidos sejam coibidos com o julgamento do desaparecimento de seu filho. “Que essas pessoas não desaparecem com mais ninguém. Que ninguém mais sinta essa dor”, diz.>
Relembre o caso Davi Fiúza desapareceu por volta das 7h30 do dia 24 de outubro de 2014, quando conversava com uma vizinha na Rua Vila Verde, em São Cristóvão, e foi levado por um grupo de homens. Duas semanas depois, a mãe do adolescente, Rute Fiúza, divulgou o caso, acusando policiais militares pelo sumiço."Meu filho estava na rua, conversando com uma moradora, quando policiais da PM, Rondesp e Peto chegaram ao local", disse Rute.Segundo ela, o grupo dirigia dois carros descaracterizados, um Gol prata e um Sandero cinza.>
"Eles tiraram a camisa do meu filho, colocaram um capuz no rosto dele, e amarraram as mãos e os pés. Em seguida, colocaram Davi no porta-malas do Gol e foram embora", contou Rute, na época.>
Davi foi sequestrado dois dias antes do segundo turno das eleições de 2014. Durante o período eleitoral – cinco dias antes da votação e 48 horas após o seu fim –, a prisão de qualquer eleitor só pode ser feita em flagrante. Os familiares de Davi deram queixa na Corregedoria da Polícia Militar. Ainda em 2014, a corregedoria passou o caso para a Polícia Civil, afirmando não ter encontrado indícios consistentes da participação de PMs.>
*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier>