Bahia dos porcos: abate de suínos tem alta de 17,9% no 2º trimestre

Bahia teve 4º maior crescimento na produção, com 32.528 animais abatidos - 4.932 a mais que no 1º trimestre

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  • Da Redação

Publicado em 15 de setembro de 2017 às 02:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Aneam.org/Divulgação

Com o aumento do preço da carne bovina, os baianos estão recorrendo a outra opção de proteína para complementar o prato. Por esta e outras razões, a produção de suínos foi a atividade da pecuária que mais cresceu no estado no segundo trimestre de 2017. Com aumento de 17,9%, foram 32.528 cabeças de suínos abatidas no estado, 4.932 a mais que no início do ano.

Os dados fazem parte da Pesquisa Trimestral Agropecuária e foram divulgados nesta quinta-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento da Bahia foi o quarto maior dentre 22 estados no período.

Esse foi o segundo melhor resultado identificado na série histórica da pesquisa, perdendo apenas para o segundo trimestre de 2016, que teve mais 1.553 cabeças abatidas, número 4,6% maior. Com relação ao abate suíno de todo o Brasil, o 2º trimestre de 2017 teve o melhor resultado para esse período do ano desde 1997, com 10,62 milhões de cabeças abatidas.

Questionadas se o aumento de 17,9% na produção suína teve influência direta no bolso do consumidor, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), a Federação da Agricultura e Pecuária  da Bahia, Associação Bahiana de Supermercados (Abase) e a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) afirmaram não possuir dados sobre o impacto direto.

O CORREIO fez um levantamento da cotação agrícola da carne suína disponibilizada diariamente no site da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) e consta que o preço disponível no dia 2 de janeiro deste ano, primeiro dia do primeiro trimestre, era de R$ 4,70 por quilo e o preço do fechamento do segundo semestre, no dia 30 de junho, era de R$ 3,93, representando uma redução de 16,4% no valor do quilo da carne suína.  

Motivação De acordo com Rui Leal, diretor de Defesa Sanitária Animal da Adab, o aumento da produção da carne se dá por uma série de motivos.“O aumento da produção de milho; o status sanitário, adquirido pelo estado em maio de 2016, de livre de peste suína clássica e a busca dos baianos por um outro tipo de proteína são alguns dos fatores”, explica Leal.O milho corresponde a 80% do total da alimentação do suíno. O diretor explica que o preço da saca no fim de 2016 chegou a sair por R$ 50 reais para o produtor. Neste ano o valor da saca, que equivale a 60 quilos, está por menos da metade: R$ 20 reais. “Geralmente quem cultiva o suíno realiza o ciclo completo, desde a produção da alimentação até a criação e abate da carne, então isso favorece o reinvestimento na produção”.

A melhoria da qualidade da carne de porco também faz com que o interesse pela carne suína cresça. É o que explica Júlio Farias, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados (Sincar) e dono da empresa JF, maior produtora de carne suína do nordeste."A carne suína é a mais consumida do mundo, mas sempre houve um preconceito por ela aqui no Brasil, principalmente com relação à tênia", comenta ele.No entanto, esse cenário vem mudando após avanços nas técnicas produtivas. "Com o melhoramento genético, a carne está vindo com maior qualidade - sem nenhum registro de tênia - e, por ser mais saudável, ela está ganhando mais consumidores. O aumento do preço na carne do boi também faz com que o consumidor vá buscar outras opções para colocar em sua mesa, impactando no consumo e produção da carne suína”, explicou Farias.

A Operação Carne Fraca, deflagrada pelo Polícia Federal em março de 2017 para investigar falsificação e adulteração em carnes da empresa JBS também foi um dos motivos que impactaram no aumento de consumo de porcos, de acordo com o IBGE. A tese é confirmada pelo diretor da Adab, que lembra que a produção bovina brasileira sofreu um recuo de 30% após a operação. “A desconfiança, principalmente na carne bovina, foi um palco para a carne suína”, explicou.

Produção na Bahia Mesmo com o resultado positivo no 2º trimestre, o abate da Bahia ainda é tímido com relação ao número nacional: representa apenas 0,3%. Toda a região Nordeste junta corresponde a 5% da produção nacional. 

O maior produtor do Brasil é Santa Catarina, cujo resultado corresponde a 1 em cada 4 suínos abatidos no país, 26,5% do total nacional, com cerca de 2,8 milhões de cabeças abatidas no 2º trimestre.“A suinocultura na Bahia está crescendo. É a segunda no Nordeste, perdendo apenas para o Pernambuco – apesar de eu achar que o novo dado nos colocará como primeiro. A rede de frigoríficos está sendo ampliada e o sistema de inspeção está melhorando”, explicou Rui Leal, da Adab.Ele ressalta que o estado é o 9º maior produtor de bovino, 7º de aves e 13º de suíno do país.

Atualmente, a Bahia possui cerca de 600 mil cabeças de suíno, de acordo com a Adab. Dados do IBGE apontam que são 1 milhão. “O número do IBGE considera o suíno cultivado em regime de subsistência, o que não é cadastrado oficialmente pela Saeb”, explicou o diretor. Do total de 37 frigoríficos que trabalham regulados na Bahia, seis trabalham com a carne suína. 

Empresa vai abastecer demanda do mercado interno O governo da Bahia pretende alavancar a produção suína no estado a partir da implantação da empresa Euroeste na região Oeste da Bahia, que deve produzir anualmente 100 mil suínos em sua primeira fase. “A ideia é que a empresa supra o abastecimento interno da Bahia e que, depois de três anos, possa vir a exportar a carne”, explicou o diretor da Adab.

Atualmente, a produção não é suficiente para atender ao mercado interno e o estado chega a importar 80% do consumo de carne suína. De acordo com Leal, a Bahia possui os atrativos necessários para melhorar a venda: terra barata e disponível e área para produção de grãos. “Nós vamos ter o diferencial que Santa Catarina não tem, por exemplo, que é a terra disponível e, por isso, barata. O alimento produzido aqui é exportado para a Europa para a produção de suínos. Com isso, a chance de ganharmos nessa competição é grande, porque a Bahia é um alto produtor de grãos”, explicou.

O diretor ressalta que três frigoríficos da Bahia já podem vender em nível nacional. “Precisamos fazer uma maior divulgação da cadeia produtiva da carne suína”, disse.