Bahia é o segundo estado com mais estudantes desempregados após pandemia

Estudo aponta que 32% dos universitários baianos perderam o emprego na quarentena

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 30 de abril de 2020 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: EBC

A sala de aula se mudou pra dentro de casa. Apesar da mudança da maioria das faculdades para o ensino remoto, seguir estudando será uma dificuldade para uma parcela dos baianos. No estado, 32% dos estudantes de faculdades privadas perderam o emprego durante a pandemia causada pela covid-19. A falta do salário - ou da bolsa de estágio - é um empecilho para pagar as mensalidades e dar sequência ao aprendizado de uma profissão com melhor remuneração. 

Ainda segundo os dados da pesquisa -  realizada pela Quero Bolsa, uma plataforma que conecta alunos a instituições de ensino e oferece vagas e bolsas de estudo -, 43,9% dos estudantes entrevistados no estado dizem ter baixa chance de manter a mensalidade em dia e 40,8% consideram a possibilidade de precisar trancar o curso. O levantamento foi realizado com  4.491 universitários de todo país. No comparativo entre os 12 estados analisados, a Bahia é o segundo em número de estudantes que perderam o emprego durante a pandemia. 

Parte das estatísticas, Paulo Vitor Barbosa, 22 anos, perdeu o estágio logo que as medidas de isolamento começaram. O laboratório onde trabalhava teve de cortar custos. “Eles decidiram desligar todos os estagiários. Trabalhava lá há dois anos, sempre me falavam da possibilidade de contratar depois da formatura, mas com o coronavírus veio a demissão e não tem nenhuma perspectiva de volta”, conta. 

Estudante do 5ª semestre de Administração, o jovem já vê dificuldades em seguir estudando. “Já estou com três mensalidades atrasadas e se eu não conseguir um novo estágio até o fim do semestre vou ter que trancar”. 

Temor Como Paulo, quase a metade dos estudantes entrevistados no estado temem precisar abandonar o curso superior por falta de recursos. É justamente o caso do estudante de Engenharia Civil Ednardo Oliveira, 33 anos, que já trabalhava como técnico em edificações. “Tava tudo bem até a pandemia, a empresa realmente precisou desligar muita gente. Estou fazendo o máximo para não deixar de pagar a faculdade porque já estou perto de concluir e com a formatura quero ver se consigo uma posição melhor”, comenta. “Até para mim que sou bolsista na faculdade, a perda acaba afetando.

A esperança que fica é poder voltar ao estágio quando tudo isso passar”, conta um colega de Ednardo que preferiu não se identificar.  O jovem, que é bolsista do Prouni, alega que os impactos da perda de estágio chegam até para quem tem menos custos com a formação. 

Sem descontos Reunidos na manhã de ontem, os mantenedores das instituições de ensino superior privadas não vislumbram possibilidade de novos descontos. “Muitas instituições têm assumido posturas de risco, já oferecendo descontos e bolsas e  já operam no mínimo necessário. Qualquer desconto seria o risco de fechar no vermelho”, comenta o presidente da Associação Baiana de Mantenedoras do Ensino Superior (Abames), Carlos Joel Pereira.   Ele diz que a maioria das instituições contabilizou gastos extras com a adaptação ao ensino remoto. “O que está sendo oferecido não é um ensino a distância, e sim mediado pela tecnologia. Então os custos de professores seguem, e tivemos que nos adaptar com as plataformas.  Até os prédios seguem sendo pagos, energia contratada por demanda, que é paga mesmo se o uso for menor", explica.   Ainda segundo ele, o panorama do setor não é bom. “Estudos já apontam esse possível aumento de inadimplência, o que vai, com certeza, representar mudanças nos quadros das instituições. É um cenário ruim pro estudante, por conta das mensalidades, e ruim para a instituição se manter também”.   

Seguro é opção para garantir estudos

Com a instabilidade econômica causada pela pandemia, faculdades privadas estão buscando formas de manter assegurados os estudos dos alunos que venham a perder o emprego. 

Na Bahia as faculdades UniRuy e Estácio criaram seguros para lidar com a  situação. Na UniRuy, o seguro educacional estará disponível a partir do dia 1º de maio. O programa será válido para os alunos dos cursos de graduação, das modalidades Presencial e EAD, e terá cobertura de até seis mensalidades líquidas. Alguns pré-requisitos para solicitar o benefício são: o responsável financeiro (podendo ser o próprio aluno) ter seu contrato de trabalho CLT rescindido sem justa causa a partir do dia 1º de abril de 2020, e estar há pelo menos um mês desempregado. Já na Estácio, a intenção é a mesma e o benefício é válido para alunos matriculados nos cursos de graduação presencial ou a distância.

“Um dos compromissos da Estácio é com a democratização do ensino e com a continuidade dos estudos do nosso aluno. Pensamos nessa solução para aqueles estudantes que, de uma hora pra outra, passaram a ter dificuldades. Todo mundo está sujeito a isso, principalmente nesse momento”, afirma Adriano Pistore, vice-presidente de Operações Presenciais da Estácio.  Na esfera federal, os alunos que utilizam o sistema Fies para pagar os estudos podem em breve contar com a suspensão das parcelas. Um projeto de lei nesse sentido está em tramitação na Câmara dos Deputados – foi aprovado em primeiro turno - e deve, em seguida, ser encaminhado ao Senado.

Ranking de estudantes mais afetados pela crise por estado

40,97 % dos estudantes de faculdade privada do Amazonas perderam o emprego por causa da crise criada pelo novo coronavírus 

35,98 % Por cento dos estudantes baianos foram impactados pela crise,

35,29 % é a taxa registrada no estado de Goiás

31,97% é o índice no Ceará 

31,6% é o percentual do Distrito Federal 

21,88% é o do Rio Grande do Sul, o menos afetado entre os 12 estados pesquisados

 

 *Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco