Bahia lidera ranking de ataques a carros-fortes no Brasil

Número de casos até junho é quase o total do registrado em 2017

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 30 de julho de 2018 às 11:26

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO

A Bahia está entre os alvos preferidos de bandidos que realizam ataques contra carros-fortes no Brasil. É o que aponta levantamento da Associação Brasileira de Transporte de Valores (ABTV) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Segurança Privada (Contrasp). 

Este ano, segundo as entidades, já são nove ataques na Bahia até o mês junho, informa a Cobrasp - o estado lidera o ranking nacional ao lado do Ceará. Para a ABTV, o líder é São Paulo com 10 casos, em seguida vem a Bahia e o estado cearense. A Polícia Civil da Bahia informou que não tem os dados organizados por tipo de veículo.

Os registros das entidades trazem uma informação preocupante: os casos ocorridos até a metade deste ano são quase o total dos que foram registrados em 2017, quando ocorreram 11 ataques. Neste ano, houve ainda uma ação criminosa contra a base operacional da Prossegur, em Eunápolis, em 6 de março.

Com a Prossegur também ocorreu o último ataque a carro-forte da Bahia este ano, em 12 de junho de 2018, na BA-233, entre Ipirá e Itaberaba, região da Chapada Diamantina. O carro da empresa foi perseguido por bandidos, que passam a fazer manobras arriscadas na frente do veículo, para fazer com que ele parasse.

O motorista, ao desviar para evitar colisão, acabou indo para o acostamento e o veículo capotou. Rendidos, os três seguranças, armados com escopeta calibre 12 (arma mais pesada que podem usar), foram colocados para fora e o veículo explodido. A quantia levada não foi informada.  Migração de quadrilhas Neste ano, os casos ocorreram na área urbana e nas rodovias BA-233 e BA-131, e BR-407. Das ocorrências em 2018, quatro foram com a modalidade de explosão e cinco com os malotes sendo levados fora dos veículos, quando o caso é registrado como assalto – neste caso, todos ocorreram em Salvador. E as explosões em Juazeiro e Jacobina (duas vezes em cada cidade).

Na análise do presidente da ABTV Ruben Schechter, a Bahia tem se tornado alvo de bandidos para esse tipo de crime nos últimos anos devido a dificuldade que tem encontrado atuar em outros estados.“As quadrilhas migram com a repressão policial em outros locais”, ele disse, informando em seguida que os crimes são cometidos tanto por facções grandes, quanto por quadrilhas isoladas.No caso da Bahia, os bandidos, na opinião de Schechter, se aproveitam ainda de estradas precárias para cometer os crimes.“Muitas delas são precárias do ponto de vista de rodagem, o que obriga os veículos a reduzirem a velocidade, desviando de buracos, e tem efetivamente vários pontos cegos, que são locais sem contato de celular e sem policiamento”, completou, Ruben Schechter, presidente da ABTV.A ABTV informou que as empresas já investiram mais de R$ 400 milhões com segurança nos últimos anos, mas a dificuldade maior é para equipar com armas mais potentes os seguranças -  os profissionais só podem usar revólver calibre 38, pistola 380 e escopeta calibre 12, enquanto do lado, bandidos estão portando fuzis, metralhadoras e explosivos.  Projeto Na Câmara, em Brasília, tramita o Projeto de Lei 8929/2017, do deputado federal Capitão Fábio Abreu (PR-PI), que propõe que vigilantes de carro-forte passem a ser autorizados a trabalhar com armas que tenham maior poder de fogo.

Pelo projeto, o armamento mais pesado que pode ser autorizado não deve ter calibre superior a 7,62 milímetros. Os equipamentos serão de propriedade e responsabilidade das empresas de segurança e deverão ser recolhidos ao fim da jornada de trabalho. O projeto ainda precisa ser analisado pela Comissão de Constituição e Justiça.“Apesar de bem qualificados, com treinamento e reciclagens constantes, esses trabalhadores estão desprotegidos com armamentos ultrapassados. A nossa luta é pelo dever de proteger e o direito de se defender com a troca do armamento dos vigilantes”, afirma João Soares, presidente da Contrasp.Para Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, crimes do tipo, praticados por facções criminosas para financiar a compra de drogas e armas, possuem uma dinâmica de mudança para locais onde eles ainda tinham uma baixa atuação, e geralmente com baixo policiamento.

“Mas se continuarem agindo como nos locais anteriores, é fácil para a polícia conseguir prender os líderes. Agir em casos isolados não gera muita eficácia, é muito melhor focar na inteligência e prender os integrantes antes que eles cometam os crimes, atingir a coluna vertebral deles”, declarou.

Ao comentar o assunto, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia afirmou que as polícias Militar e Civil atuam realizando ações preventivas, repressivas e investigativas contra quadrilhas que roubam carros-fortes.

“A SSP reafirma a necessidade de ser informada das rotas escolhidas e horários para fazer o acompanhamento dos valores” e diz que “em alguns casos as informações sobre quantia e trajeto são vazadas, facilitando as ações criminosas”. Ao rebater essa afirmação da SSP, a ABTV frisou que “vazamentos também ocorrem de dentro da polícia”.