Bahia registra oito casos de dengue por hora; alta de 459% no estado

De 30 de dezembro a 31 de maio, foram 31.955 notificações contra 5.709 no mesmo período em 2018

  • Foto do(a) author(a) Mario Bitencourt
  • Mario Bitencourt

Publicado em 5 de junho de 2019 às 04:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga

A cada hora, oito casos de dengue foram notificados na Bahia em 2019, até o dia 31 de maio. Isso é o que mostram dados divulgados nessa terça-feira (4) pela Secretaria estadual de Saúde (Sesab), segundo a qual as notificações seguem em ritmo ascendente.

De 30 de dezembro de 2018 a 31 de maio deste ano, foram 208, 8 notificações por dia, o que dá  oito casos por hora, considerando o total de 31.955 notificações - um aumento de 459,7% em relação às 5.709 notificações do mesmo período de 2018.

Os números fazem com que o estado tenha coeficiente de incidência aproximado de 216 casos de dengue por cada 100 mil habitantes em 320 cidades. Esse coeficiente considera a proporção de casos em relação ao número de habitantes. Segundo o Ministério da Saúde, há 104 cidades em situação de risco de surto de dengue, zika e chikungunya.

Os dados da Sesab apontam também que há 1.095 casos prováveis de chikungunya (coeficiente de incidência de 7 casos/100 mil habitantes) em 121 municípios e 621 casos suspeitos de zika (coeficiente de incidência de 4 casos/100 mil moradores) em 102 cidades. Para chikungunya e zika, houve redução se comparado ao mesmo período do ano passado (52,8% e 24,2%, respectivamente).

Em Salvador, as notificações de dengue, de janeiro até esta terça-feira, chegaram a 1.746, sendo que no mesmo período do ano passado, foram 961 notificações.

Em comparação com o mesmo período, ainda na capital baiana, houve aumento também nos casos de chikungunya (de 48 em 2018 para 210 em 2019) e zika (de 48 para 73).

De acordo com a Sesab, até o momento foram confirmados, laboratorialmente, 11 mortes por dengue hemorrágica na Bahia, sendo sete em Feira de Santana, duas em Salvador, uma em Candeias e uma em Saubara.

Há ainda outras 12 mortes por suspeita de dengue em investigação (nove em Feira e um caso em Candiba, Pindaí e Rafael Jambeiro). Para chikungunya, os casos confirmados pela Sesab são dois em Feira de Santana e um em Candeias.

Em Feira de Santana, já foram registrados este ano 9.466 casos suspeitos de dengue, dos quais 1.333 (14,08%) foram confirmados, 225 (2,38%) casos confirmados como dengue com sinais de alarme, 16 (0,17%) casos confirmados como dengue grave e 367 (3,88%) casos descartados. Os demais, 7.528 (79,50%) casos, estão aguardando resultado de exame para encerramento.

Morte Na Bahia, a provável vítima fatal mais recente da dengue hemorrágica é uma menina de 7 anos, cujo corpo foi enterrado nessa terça-feira (4), no Cemitério Jardim da Saudade, em Jacobina, 330 quilômetros a noroeste de Salvador.

A menina, segundo relato de uma amiga da família que acompanhou a situação, foi levada na quarta-feira passada ao Hospital Municipal com febre alta e dores no corpo e liberada após uma médica supostamente diagnosticá-la com virose na garganta.

No domingo passado, a situação da menina piorou: além da febre, tinha vômitos e diarreia. No hospital, constataram que era dengue hemorrágica e foi feita a transferência para o Hospital Martagão Gesteira, em Salvador.

“Mas a menina passou a perder muitas plaquetas no sangue, e o quadro de saúde evoluiu para um choque hemorrágico pós-dengue, não tinha mais jeito”, disse a dona de casa Conceição Ferreira, 50 anos, vizinha da vítima. A menina morreu anteontem.

A família dela mora no bairro Serrinha. Parentes da garota estão em estado de choque devido ao falecimento e não estão falando com a imprensa, nem sabem ainda se vão tomar alguma providencia com relação ao suposto descaso médico.

Jacobina, segundo o Ministério da Saúde, está em estado de alerta para a dengue, com índice de infestação predial de 3,5. Dados da Sesab apontam que a cidade de 80 mil habitantes já registrou 217 casos suspeitos de dengue neste ano.

Ao comentar o caso da menina, a prefeitura de Jacobina informou que, além da dengue hemorrágica, a menina estava também com pneumonia, o que foi confirmado pela dona de casa Conceição Ferreira.

Laudo “O diagnóstico prévio aponta para choque hemorrágico ou dengue tipo 3. A Secretaria Municipal de Saúde aguarda o laudo final do Martagão Gesteira, que deverá ser emitido pelo Laboratório Central (Lacen) em Salvador”, diz o comunicado.

A prefeitura informou também que, “desde outubro de 2018, tem realizado mutirões contra a dengue por meio dos agentes de saúde e agentes de endemias, inclusive com ações noturnas, ações educativas e lúdicas”.

Até 11 de maio de 2019, foram registrados 767.003 casos prováveis de dengue em todo país - um aumento de 432,3% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 144.082 casos, segundo o Ministério da Saúde.

A incidência tem taxa de 367,9 casos/100 mil habitantes. O número de óbitos pela doença também teve aumento de 152,2%, passando de 88 para 222 mortes, sendo grande parte no estado de São Paulo.

Alerta Para o enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, a Secretaria estadual de Saúde (Sesab) diz que, desde o final do ano de 2018, tem intensificado suas ações, com a distribuição de 7.400 kits para serem utilizados pelos agentes de controle de endemias dos 417 municípios baianos.

Com investimento superior a R$ 2,6 milhões, cada kit é composto de 26 itens, como pesca larva, pipetas de vidro, tubos de ensaio, álcool, esponja, lanterna de led recarregável, bacia plástica, dentre outros materiais.

Esses kits contribuem para o trabalho dos agentes de controle de endemias envolvidos na eliminação de focos do Aedes aegypti, pois são eles que visitam os imóveis, eliminam criadouros, orientam moradores e realizam mobilizações.

A Sesab afirma que emitiu um alerta para os municípios, ainda em janeiro de 2019, sobre o alto índice da dengue e solicitou que os municípios realizassem mutirões de limpeza. Diz ainda que distribuiu repelentes para gestantes.

Segundo o médico infectologista Antônio Carlos Bandeira, da Sociedade Brasileira de Infectologia, os casos de dengue na Bahia são consequência de vários fenômenos, como “a questão ambiental, do clima. Este ano, estamos com temperaturas mais quentes, e isso facilitou”, afirma.

“Tivemos também um período de taxas baixas de dengue, isso faz com que haja um grande número de pessoas que nunca passaram pelo problema e que agora ficam mais suscetíveis a serem atingidas pelo vírus”, comentou o médico.

Segundo Bandeira, “o problema não é só na Bahia. Nos estados do Sudeste e Centro-Oeste, está ocorrendo a mesma coisa, e com esse Outono ainda muito quente e com chuvas, temos de redobrar a atenção com água parada e sempre que possível usar repelentes”.

O Ministério da Saúde informou que “as ações de prevenção e combate são permanentes” e que “oferece continuamente aos estados e municípios apoio técnico e fornecimento de insumos, como larvicidas para o combate ao vetor, além de veículos para realizar os fumacês, e testes diagnósticos”.