Bahia tem 15 de suas maiores cidades com 1ª dose suspensa por falta de vacina

Municípios estão de 7 a 12 dias com campanha de vacinação parada; mortes aumentaram no interior

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 26 de maio de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO

A escassez de vacinas deixa ao menos 15 dentre as 25 maiores cidades da Bahia com a aplicação da primeira dose contra a covid-19 suspensa. Segundo levantamento do CORREIO, a situação é mais complicada no Oeste, que vive um período acentuado de aumento de casos e mortes pela doença. Nessa região do estado, municípios como Barreiras e Luís Eduardo Magalhães não aplicam primeiras doses há 12 dias, desde 14 de maio. 

“Não tem a vacina de Oxford e a CoronaVac. A Pfizer, nós dependemos de toda uma logística de super freezer. Estamos aguardando a instalação de um desses, provavelmente em Barreiras, para começar a vir doses para as cidades daqui. A falta de vacina é um problema de toda a região”, lamenta Fernanda Fischer, diretora de Assistência à Saúde de Luís Eduardo Magalhães. Desde janeiro, o município recebeu da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) 8.290 ampolas para a primeira aplicação e já foram todas usadas.  

Na noite desta terça-feira, 26, o titular da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Fábio Vilas-Boas, anunciou que por volta das 10h de hoje chegarão mais 351.750 doses do imunizante Oxford/AstraZeneca enviados pelo Ministério da Saúde (MS). As ampolas serão encaminhadas no mesmo dia para as regionais de saúde, de onde deverão sair para os municípios.

Na avaliação da prefeitura de Luís Eduardo Magalhães, a cidade tem sido prejudicada no recebimento de vacinas. Com cerca de 90 mil habitantes, só recebeu até agora pouco mais de 9 mil doses. Já Ibititá, que tem menos de 20 mil habitantes, recebeu 7.120 doses, segundo dados da Sesab. E Mata de São João, de menos de 50 mil habitantes, foi contemplada com 8.496 ampolas de imunizantes.  

“Os dados que eles utilizam se baseiam na última campanha da Influenza. Ou faltou registro no sistema ou a população não procurou pela vacina. Os dados que constam no sistema não condizem com a nossa população. Na nossa estimativa, éramos para ter recebidos 11 mil doses e, assim, poderíamos estar bem mais avançados”, acrescenta Fernanda Fischer.  

Por causa da falta de doses, a cidade está com dificuldade para imunizar os grupos prioritários, como as pessoas com comorbidades e trabalhadores da educação.“Queremos vacinar. Somos cobrados pela população. Quando a vacina acaba, a gente sempre informa, mas toda vez que se anuncia a chegada de vacina para a Bahia, gera a expectativa que acaba sendo frustrada”, lamenta a diretora de Assistência à Saúde. Leia mais: Salvador está sem vacina para 1ª dose contra a covid-19 pela quarta vez 

Casos e mortes em alta no interior Santo Antonio de Jesus havia recebido 1.400 doses de Pfizer e aplicou quase todas nesta terça, 26 (Foto: Prefeitura de Santo Antonio de Jesus/Divulgação) No Norte da Bahia, Paulo Afonso tem falta de vacinas mesmo com um cenário epidemiológico complicado. Segundo a prefeitura, há um aumento expressivo das pessoas que testaram positivo para o vírus e ocupação de 100% quase diariamente dos leitos das duas unidades de saúde que tratam a covid-19 no município. Diante disso, o jeito encontrado pela prefeitura local foi evitar a circulação de pessoas para reduzir a transmissão do vírus.  Na cidade ainda ocorre a aplicação da 2ª dose da AstraZeneca e CoronaVac.  

“Teremos restrições de horário de funcionamento de comércio, toque de recolher às 19h, entre outras ações com validade a partir desta quarta-feira (26)”, disse a prefeitura, em nota.  

Ainda segundo a administração municipal, a última vez que uma primeira dose foi aplicada em Paulo Afonso foi no dia 18 de maio, há mais de uma semana. “Até o momento, não recebemos sinalização de envio de primeira dose pelo governo do Estado, que também vem sofrendo com a falta de imunizante, uma situação vivenciada em todo o país”, diz outro trecho da nota. As três vacinas em uso, atualmente, para imunizar os baianos  (Foto: Shutterstock) Em Ilhéus, Sul da Bahia, há uma semana não tem aplicação de primeiras doses, segundo Jeovana Catarino, diretora do departamento de Vigilância em Saúde. “Na medida em que foi encerrando nos postos, fomos suspendendo. Na quinta-feira passada já não tinha em nenhuma localidade. A gente foi terminando as doses aos poucos e não houve reposição. Normalmente recebemos na quinta, mas dessa vez não aconteceu”, conta.   

Quando há essa situação, a servidora municipal ainda precisa lidar com toda a população que pressiona os agentes de saúde para tomarem logo sua vacina. “Eu não digo que haja insatisfação completa. Alguns entendem, mas outros com dificuldade de acesso à informação questionam, dizem que a gente não avisa com antecedência, mas sempre deixamos a situação clara. Se a vacina chegar, a gente oferta. Já temos toda a programação organizada. Ela só não foi divulgada, pois depende da quantidade de doses que vai chegar”, diz.  

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No Centro-norte da Bahia, Jacobina tem optado por comunicar a falta de vacina pelas redes sociais, rádios e agentes comunitários de saúde. Lá não tem primeira dose desde 17 de maio, de acordo com a secretária da Saúde, que também é vice-prefeita, Katia Cristina Alves de Souza, mais conhecida como Katia da Saúde. “A previsão é de que novas doses só cheguem em Jacobina esta quinta-feira (27), segundo informações do 16º Núcleo de Saúde. A agilidade na vacinação diminuiria a possibilidade de casos graves e, consequentemente, não causaria colapso na rede de assistência”, diz. Pfizer ajuda cidades a retomarem vacinação  Na Região Metropolitana de Salvador (RMS), Candeias chegou a suspender a aplicação das primeiras doses no início da semana, mas retornou ontem com a chegada de ampolas da Pfizer/BioNTech, de acordo com o secretário de Saúde, Marcelo Cerqueira. Outros municípios não tiveram a mesma sorte.  

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Em Alagoinhas, Nordeste da Bahia, nessa semana, 269 doses da Pfizer foram aplicadas em policiais civis, militares e bombeiros acima de 30 anos; e trabalhadores rodoviários acima de 40. Agora o município aguarda uma nova remessa. 

“Alagoinhas é uma cidade que não armazena vacina. Tudo que recebemos, imediatamente aplicamos. Consideramos as orientações das autoridades de saúde sobre definição de público prioritário e avançamos”, explica Telma Pio, diretora da Vigilância em Saúde de Alagoinhas, que diz estar na expectativa do governo do estado mandar novos lotes o mais breve possível. Grupo de cerca de 100 pessoas fez protesto em Salvador à espera de vacina (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Já em Santo Antônio de Jesus, a 200 Km de Salvador, 1.400 doses da Pfizer foram enviadas e aplicadas quase todas ontem. Sobraram apenas 60, o que é insuficiente para continuar a campanha de imunização. A prefeitura decidiu suspender até a chegada de novas doses.  

Por lá, a vacinação ocorreu no Ginásio de Esportes e em drive-thru realizado em frente à sede da Secretaria de Saúde. O público contemplado foi o de pessoas com doenças crônicas, anemia falciforme, trabalhadores da educação, grávidas, puérperas e lactantes com doenças crônicas, além de portadores de deficiência permanente. 

O CORREIO procurou a Sesab e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA), que disseram não fazer um levantamento de quantas cidades interromperam a vacinação. O Ministério da Saúde também não respondeu até a conclusão dessa reportagem.  

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Cidades com a primeira dose suspensa:  

Salvador   Feira de Santana   Vitória da Conquista   Camaçari   Santo Antônio de Jesus  Lauro de Freitas   Ilhéus    Barreiras     Jequié   Alagoinhas    Porto Seguro    Luis Eduardo Magalhães   Paulo Afonso   Guanambi   Jacobina

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.