Baía de negócios: conheça histórias de empreendedores que apostaram na BTS

Pólo náutico da Baía de Todos os Santos ainda tem muito potencial a ser desenvolvido

Publicado em 12 de novembro de 2017 às 06:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Foto: Angeluci Figueiredo/ Arquivo CORREIO

Quando o sol começa a despontar na ilha de Vera Cruz, por volta das 5h, a pescadora Maria de Fátima Freitas Paiva segue para a praia em busca de ostras frescas. Mas se engana quem pensa que essa é sua única ocupação. Ela também lidera o Repescar, projeto que é referência em processamento de pescado na região.

A cooperativa conta com 250 cooperados e fornece peixe, siri e ostra tratados para restaurantes de Salvador e para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do governo federal. “Queremos, no futuro, vender para mais municípios e agregar valor aos nossos produtos e, quem sabe, comercializar o caldo do peixe pronto”, projeta a empreendedora, que no ano passado conquistou o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios.

Já na praia do Botelho, na Ilha de Maré, o Restaurante Preta encanta turistas e baianos com sua decoração rústica, pratos contemporâneos e regionais, além, é claro, de uma vista de tirar o fôlego. A ideia do empreendimento foi da fotógrafa Angeluci Figueiredo, que se diz apaixonada pela gastronomia e sentia falta de um lugar agradável e com boas refeições na região. “Pensei em criar um espaço aconchegante, que tivesse um jeito de casa de praia com uma comida saborosa”, conta.

O que esses dois casos têm em comum? Eles ajudam a demonstrar que a Baía de Todos os Santos (BTS) também pode ser considerada uma baía de negócios, uma vez que empreendimentos de todos os portes se encontram situados nos 18 municípios banhados pela sede da Amazônia Azul, que, juntos, respondem por 33,2% de tudo o que é produzido pela economia baiana, de acordo com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).

Debater oportunidades de investimento e soluções na Baía de Todos os Santos é o grande objetivo do III Fórum Internacional Gestão de Baías, que será realizado amanhã (13/11), das 14h às 18h, na Casa do Comércio. (ver ao lado)

Diversificação 

Segunda maior baía do mundo (atrás apenas do Golfo de Bengala), com 1,2 mil km² de extensão, a BTS conta com uma área de influência econômica que gera 70% do PIB (Produto Interno Bruto) e 65% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do estado. Contudo, esse potencial tem sido quase que exclusivamente associado apenas aos seus sete portos e unidades industriais voltadas para o refino de petróleo e para a construção naval. 

Daí que surgem as perguntas: como atrair novos investimentos para a região? E para que segmentos? Integrar operações e diversificar as áreas de atuação é uma das apostas do Grupo TPC, um dos principais operadores logísticos do País. Recentemente, a companhia anunciou a aquisição da Columbia, ganhando mais quatro segmentos de atuação: energia eólica, produtos químicos, vestuário e Centro Logístico e Industrial Aduaneiro (CLIA). 

Portos e terminais

“Algo que pode melhorar em relação a BTS é o arrendamento de áreas estratégicas nos dois portos públicos (Salvador e Aratu). Esperamos que esse tipo de movimento seja acelerado, porque pode representar boas oportunidades estratégicas e melhorias para a atividade portuária”, destaca o vice-presidente do Grupo TPC, Sérgio Faria. A companhia, que emprega 4.500 pessoas, tem 53 clientes (entre eles Ford, Gamesa e Natura) e 75 operações, estima fechar 2017 com um faturamento de R$ 600 milhões. 

Para o presidente da Associação Comercial da Bahia, Adary Oliveira, o debate sobre a BTS se justifica não só pela sua importância econômica, como também pelas preocupações que norteiam a preservação do meio ambiente e a manutenção de suas belas e encantadoras paisagens. 

“Os portos e terminais marítimos da Baía de Todos os Santos movimentam cerca de 40 milhões de toneladas de mercadorias por ano”, reforça Oliveira. 

Turismo

A gerente de Turismo do Sebrae na Bahia, Ana Paula Almeida, sugere que aqueles que desejam empreender na Baía de Todos os Santos devem ter em vista a necessidade de encantar os clientes. “É preciso primeiro ter um diferencial em relação à concorrência, saber divulgar o negócio  e focar na qualidade do atendimento a fim de fidelizar o turista”, observa a especialista. 

Para quem deseja abrir um pequeno negócio, mas não sabe em qual área investir, Ana Paula destaca como possibilidade o setor de hospedagem, mais especificamente dentro do sistema conhecido como Cama e Café, um tipo de acomodação alternativa em que moradores recebem hóspedes em suas próprias casas. “(O sistema é) Ideal para regiões que não contam com grandes hotéis e pousadas, como Ilha de Maré", justifica. 

As melhorias de infraestrutura, entretanto, precisam acompanhar o desenvolvimento dos negócios, segundo a gerente do Sebrae.  “Falta um transporte adequado para o turismo na Ilha de Maré, assim como existe para Morro de São Paulo”, aponta. Angeluci, do restaurante Preta, endossa as reivindicações. “O píer está quebrado, precisando de manutenção, falta pavimento na Ilha”, reclama a empreendedora, que chega a empregar 30 pessoas na alta estação.  Economia náutica 

O secretário municipal de Cultura e Turismo de Salvador, Claudio Tinoco, que também preside a Câmara de Turismo da Baía de Todos os Santos, considera que as requalificações urbanísticas que a Prefeitura têm realizado na orla de Salvador contribuem para o desenvolvimento de toda a Baía de Todos os Santos.

“Ainda neste mês iremos lançar o Comitê de Economia Náutica, cujo objetivo é estabelecer um fórum de discussão de políticas de infraestrutura, atração de eventos náuticos e promoção da Baía de Todos os Santos”, pontua.

Tinoco afirma que a elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável das ilhas de Maré, Frades e Bom Jesus dos Passos deve ser contratada no ano que vem. “Esse documento fornecerá as diretrizes e o portfólio de intervenções necessárias para a sustentabilidade das ilhas de Salvador”. 

Segundo o secretário, também está prevista a implantação de uma marina privada na região do Lobato, no Subúrbio Ferroviário – o processo de licenciamento tramita na Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura.

O vice-presidente da FIEB (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Angelo Calmon de Sá Jr., defende mais investimentos do poder público para atrair novos negócios à BTS. “Hoje temos déficit de marinas bem estruturadas, empreendimentos como resorts e melhorias portuárias. Nossa baía tem um potencial grandioso, mas precisa de ordenamento, regras claras, para que não continue mal aproveitada”, cita.

Prodetur

A BTS está contemplada no Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur). “A meta é fomentar o turismo náutico e cultural em 18 municípios de seu entorno. Técnicos da Setur atuam na consolidação dos roteiros náuticos da região, etapa que antecede projetos executivos e licitações”, informa a assessoria de comunicação da Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur). 

A iniciativa prevê a implantação de receptivos turísticos (bases náuticas e pontos de apoio ao turista) e recuperação de equipamentos existentes. O consultor em planejamento turístico e ex-secretário estadual de Turismo, Paulo Gaudenzi, critica a demora para a implementação do programa, que tem financiamento da ordem de R$ 85 milhões por meio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). “A BTS tem um potencial extraordinário do ponto de vista econômico, turístico e cultural. O Prodetur está aprovado, com dinheiro no banco, mas ainda não há ações concretas”, critica. 

O III Fórum Internacional Gestão de Baías é uma realização do CORREIO Sustentabilidade, que conta com o apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, apoio da Odebrecht, Mais Belas Baías do Mundo, Marinha do Brasil, Lide, Associação Comercial da Bahia, Fecomércio-BA e WWI.