Baianos buscam alternativas para escapar de subutilização no mercado de trabalho

IBGE mostrou em pesquisa que Bahia tem maior número de pessoas subutilizadas do país

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 17 de maio de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Agência Brasil

Moradoras de Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, Leiliane Xavier e Amanda Oliveira, ambas de 21 anos, não se conhecem, mas fazem parte do mesmo grupo de 3,3 milhões de baianos que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vivem uma subutilização no mercado de trabalho.

A informação consta na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada nesta quinta-feira (16) pelo instituto, e que mostra ainda que a Bahia teve, no 1º trimestre de 2019, taxa de desocupação de 18,3% -  a segunda maior do país, acima da verificada no 4º trimestre (17,4%) e no 1º trimestre de 2018 (17,9%).

Mãe de um menino de 8 meses, Leiliane trabalhou por um ano e sete meses no comércio local, até pouco antes de dar à luz. Agora, ela precisa voltar a trabalhar e já foi em busca de diferentes lojas para se resinserir no mercado de trabalho. “Já enviei mais de 10 currículos esse mês, mas não tive resposta ainda”, conta.

Já Amanda tem um perfil bastante versátil. Ela trabalha como costureira numa empresa de calçados, mas também está em busca de um emprego como auxiliar de veterinário para aumentar a renda. “Fiz um curso para isso e estou tentando, mas é difícil encontrar vagas assim. Então, o que estiver surgindo, eu vou”, garante.

O grupo de subutilizados no qual Leiliane e Amanda se encaixam, segundo pesquisa do IBGE, reúne desocupados, subocupados com menos de 40 horas semanais de trabalho e uma parcela de pessoas disponíveis para trabalhar, mas que não conseguem procurar emprego por motivos diversos.

A Bahia, de acordo com a pesquisa, só perde em subutilização de mão de obra para o estado de São Paulo, onde o IBGE registrou 5,6 milhões de trabalhadores nessa condição. Depois, estão os estados de Minas Gerais, com 2,9 milhões de pessoas subutilizadas, e Rio de Janeiro, onde são 1,8 milhão de cariocas subutilizados.  

Essa nomenclatura de “subutilizado”, segundo explica a analista do IBGE Mariana Viveiros, serve para analisar melhor o mercado de trabalho. Além disso, é uma recomendação da Organização Mundial do Trabalho (OMT) para que se tenha informações mais detalhadas do cenário da geração de emprego numa determinada localidade.

“Se a pessoa trabalha e quer trabalhar mais, o mercado de trabalho não atende 100% do que ela precisa, a pessoa não está contente com o que ganha e precisa trabalhar mais para completar renda”, disse Mariana Viveiros. Para ela, apesquisa evidencia que há mais pessoas buscando emprego e, ao mesmo tempo, não há vagas para absorver tanta gente.

“O mercado de trabalho na Bahia ainda não mostrou sinal claro de recuperação em relação à crise que começou em 2016, têm muitas pessoas fora do mercado. Há mais pessoas pressionando o mercado de trabalho, sem  que haja melhora em relação ao primeiro trimestre do ano passado”, comentou.

No primeiro trimestre de 2019, segundo a pesquisa do IBGE, a taxa de subutilização do país foi de 25%, o que representa 28,3 milhões de pessoas - é a maior da série iniciada em 2012. As menores taxas de subutilização foram observadas em Santa Catarina (12,1%), Rio Grande do Sul (15,5%), Mato Grosso (16,5%), e Paraná (17,6%).

Porém, com exceção do Rio Grande do Sul, em todos os outros estados as taxas foram as mais altas da série histórica. “O que chama atenção é o perfil de dispersão generalizada da subutilização, que é recorde em todas as regiões”, explica o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

Desocupação Sobre a taxa de desocupação de 18,3% no 1º trimestre de 2019, a Bahia ficou atrás apenas do Amapá (20,2%), mas bem acima da média nacional, de 12,7%. É a segunda maior do estado desde o início da série histórica da PNAD Contínua, em 2012, e fica abaixo apenas da verificada no 1º trimestre de 2017, de 18,6%.

Salvador teve taxa de desocupação de 15,8% nos três primeiros meses de 2019, acima dos 15,3% verificados no 4º trimestre de 2018 e quase a mesma taxa do 1º trimestre do ano passado (15,7%). Ficou, assim, com a 6ª maior entre as 27 capitais do país, em ranking liderado por Manaus (19,4%), Rio Branco (19,1%) e São Luís (17,9%).

Já na RMS, a taxa de desocupados do 1º trimestre ficou em 18,7%, maior que a do 4º trimestre de 2018 (17,3%), mas abaixo da verificada no 1º trimestre do ano passado (19,2%). Mesmo assim, foi a 3ª maior entre as regiões metropolitanas do país,: perde para Macapá (20,4%) e São Luís (19,7%).

De acordo com o IBGE, a taxa nacional de desocupados foi de 12,7% no primeiro trimestre. As 14 taxas acima do indicador nacional estão distribuídas entre o Norte e o Nordeste, além do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal.

A população desalentada, aquela que desistiu de procurar emprego, chegou a 4,8 milhões e também bateu recorde no primeiro trimestre. Desse total, 60,4% (2,9 milhões) estavam concentrados no Nordeste. 

A taxa combinada de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e desocupação também foi recorde no Norte (20,7%), Nordeste (26,4%), Sudeste (18,1%) e Centro-Oeste (15,1%). As maiores taxas estaduais estavam na Bahia (31,1%), Amapá (30,7%), Piauí (30,5%), Sergipe (28,5%) e Maranhão (25,7%). 

Análise Na Bahia, o avanço na taxa de desocupação no 1º trimestre de 2019, frente ao final do ano de 2018, foi resultado de uma leve redução no número de trabalhadores, por um lado, e de um aumento no número de desocupados, por outro.

No 1º trimestre de 2019, o número de pessoas trabalhando no estado (população ocupada) ficou em 5,724 milhões, o que representa menos 29 mil pessoas (-0,5%) em relação trimestre anterior, quando 5,753 milhões de pessoas estavam ocupadas. Entretanto, na Bahia, o contingente de trabalhadores nos primeiros três meses do ano ficou acima do existente no 1º trimestre de 2018 (5,659 milhões de pessoas).

Já o número de pessoas desocupadas (que não estavam trabalhando e procuraram trabalho) aumentou nas duas comparações. Passou de 1,211 milhão no 4º trimestre de 2018 para 1,282 milhão de pessoas no 1º trimestre de 2019 (mais 71 mil desocupados, +5,9%). Em relação ao 1º trimestre de 2018, quando havia 1,237 milhão de desocupados, o aumento foi um pouco menor (mais 45 mil desocupados ou +3,7%).

Na Bahia, o número de pessoas que não estão trabalhando nem procuraram trabalho (ou seja, estão fora do mercado) ficou em 5,003 milhões no 1º trimestre de 2019. Também mostrou um discreto viés de alta tanto frente o 4º trimestre de 2018 (quando eram 4,961 milhões) quanto na comparação com o 1º trimestre do ano passado (4,948 milhões).  

Ainda no estado, dentre esses que estão fora do  mercado de trabalho, os desalentados somaram 768 mil pessoas no 1º trimestre de 2019. Embora o estado continue com a maior população de desalentados do país, houve pequenas reduções desse contingente tanto frente ao 4º trimestre (quando havia 772 mil pessoas nessa situação) quanto em relação ao 1º trimestre de 2018 (quando eram 774 mil pessoas).

A população desalentada é aquela que está fora da força de trabalho por uma das seguintes razões: não conseguia trabalho, não tinha experiência, era muito jovem ou idosa, ou não encontrou trabalho na localidade - neste último caso, entretanto, se tivesse conseguido trabalho, estaria disponível para assumir a vaga.

No Brasil como um todo, os desalentados chegaram a 4,843 milhões no 1º trimestre do ano, um contingente recorde na série histórica. No 1º trimestre de 2019, tanto o município de Salvador quanto a RMS apresentaram movimentos semelhantes no mercado de trabalho.

O número de trabalhadores, em ambos os casos, ficou menor do que no 4º trimestre de 2018, mas cresceu frente ao 1º trimestre do ano passado; enquanto os que procuram trabalho (desocupados) aumentaram nas duas comparações.

Nos dois casos, as variações, para cima ou para baixo, também são bem pequenas, o que indica estabilidade no mercado de trabalho.

Trabalhos com carteira assinada têm aumento discreto No 1º trimestre, na Bahia, os empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada (exceto empregados domésticos) somavam 1,464 milhão de pessoas. Houve um discreto aumento nesse contingente em relação ao 4º trimestre de 2018, quando os trabalhadores com carteira somavam 1,435 milhão de pessoas, no estado.

Frente ao 1º trimestre do ano passado, porém, quando 1,466 milhão de trabalhadores tinham carteira assinada, o número praticamente não alterou, mostrando ainda um viés de baixa.

Por outro lado, 1,072 milhão de pessoas eram empregadas no setor privado sem carteira assinada no 1º trimestre deste ano, na Bahia. Esse contingente praticamente não mudou em relação ao 4º trimestre de 2018 (1,071 milhão de trabalhadores sem carteira) e mostrou viés de alta em relação ao 1º trimestre do ano passado (quando havia 993 mil empregados sem carteira no estado).

Já os trabalhadores por conta própria somavam 1,675 milhão nos primeiros três meses deste ano, no estado, mostrando discreta redução em relação ao 4º trimestre de 2018, quando eram 1,706 milhão de pessoas, mas ainda num viés de alta frente ao 1º trimestre do ano passado (1,636 milhão, menor patamar da série histórica).

Maiores perdas Na passagem do 4º trimestre de 2018 para o 1º trimestre de 2019, houve diminuição do número de pessoas trabalhando em quatro dos dez grupamentos de atividade investigados na Bahia.

Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-58 mil pessoas), e construção (-37 mil pessoas) tiveram os saldos mais negativos.

Por outro lado, os setores de transporte, armazenagem e correio (mais 30 mil pessoas trabalhando), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (mais 27 mil pessoas) e a indústria de transformação (mais 19 mil pessoas) tiveram os maiores saldos positivos nessa comparação.

A atividade de transportes também liderou no aumento de trabalhadores frente ao 1º trimestre de 2018, com mais 62 mil pessoas empregadas. Em seguida veio o grupamento de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (mais 30 mil pessoas trabalhando frente ao 1º tri/2018).

Os maiores saldos negativos nesse confronto anual vieram dos setores de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-36 mil pessoas trabalhando) e outros serviços (-24 mil).

Economista diz que só Reforma da Previdência não retomará empregos Considerara essencial por muitos empresários para que a economia do país volte a crescer, a reforma do sistema previdenciário não pode ser encarada como medida mais importante para que os postos de trabalho voltem a aparecer no Brasil.

A análise é do presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon), o economista Gustavo Casseb Pessoti, também diretor de Indicadores e Estatísticas da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia estadual.

“A reforma da previdência por si só não será suficiente para reaquecer a economia. É importante repensar nas políticas para o agronegócio, para as industriais, para a geração de renda e o surgimento de mais empregos formais, pois o que temos é uma informalidade muito grande, sobretudo na Bahia”, declarou.

Segundo o IBGE, no 1º trimestre de 2019, os rendimentos médios mensais dos trabalhadores da Bahia, de Salvador e da região metropolitana mostraram recuos tanto em relação ao 4º trimestre de 2018 quanto ao 1º trimestre do ano passado.

No estado, o rendimento médio real habitualmente recebido ficou em R$ 1.527, frente a R$ 1.592 no 4º trimestre e R$ 1.590 no 1º trimestre de 2018. Na capital, o rendimento médio real habitualmente recebido ficou em R$ 2.471, menor que o do 4º trimestre de 2018 (R$ 2.712) e que o do 1º trimestre do ano passado (R$ 2.600).

Já na RMS, o rendimento ficou em R$ 2.271 no 1º trimestre deste ano, frente a 2.463 no 4º trimestre e R$ 2.426 no 1º trimestre de 2018.

Para Pessoti, o baixo desempenho da economia baiana é reflexo do cenário nacional, que neste primeiro semestre do ano ainda não demonstrou que rumo deve seguir, sem planos específicos para o desenvolvimento do país. “Já estamos fechando o primeiro trimestre e a única esperança é a reforma da previdência”, observou.