Baianos disputam final nacional de batalha de rimas

Ruto MC, do Bairro da Paz, e Bl4ck, de Simões Filho, se destacaram dentre 300 competidores

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  • Luana Lisboa

Publicado em 17 de julho de 2021 às 14:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

“Todo mundo é do tamanho do seu sonho e uma hora, o esforço ganha do talento”. É o que pensa Tomáz Santos Moreira, 19, rapper e finalista da disputa nacional de batalha de rimas Red Bull FrancaMente. Já conhecido nas ruas do Bairro da Paz pelo nome artístico, Ruto MC agora visa o reconhecimento do país.

Esse também é o caso de Ian Lisboa, ou MC Bl4ck, de Simões Filho. Aos 18 anos, ele se prepara para o “ringue lírico” treinando o “freestyle”, subgênero da música rap que se caracteriza pelas letras improvisadas. Ambos estão em disputa com outros 14 competidores de todo o país pelas vitórias nos duelos, que serão transmitidos ao vivo através do canal oficial do evento no YouTube, no próximo domingo (18). Eles se destacaram, inicialmente, diante de mais de 300 MCs de todo o País que se inscreveram na disputa.

Adaptada à língua portuguesa, a competição está em sua segunda edição no Brasil e foi inspirada no Red Bull Batalla, evento expoente do rap no mundo que promove batalhas entre países de língua espanhola. O Batalla já reuniu um público de mais de 14 mil pessoas e revelou nomes como Aczino, mexicano tetracampeão nacional do evento e o único a vencer uma final nacional fora de seu país e Rapder, atual campeão internacional, que também tornou-se referência no México. O evento ainda inspirou batalhas adaptadas ao idioma local em outros países, como Japão, França e Rússia.

Com a versão brasileira, estarão no comando da decisão e da transmissão fortes referências do rap: Kamau, Mamuti e Carol Anchieta. O júri terá Clara Lima, Max B.O. e Slim. Também foi criado um aplicativo exclusivo, que funciona como uma rede social dos rappers e possibilita que artistas de diferentes localidades batalhem.

Mas quem já sabe isso de cor e salteado é Ruto MC, que mesmo antes de ser selecionado no campeonato, já acompanhava as versões do Peru, México, Argentina e Chile. “Comecei a acreditar no meu talento quando os outros começaram a acreditar, não imaginava que seria reconhecido com o que, de início, era um hobby para mim”, conta.

Ele começou a rimar sozinho no quarto e brincando com os amigos, quando percebeu que aquilo o proporcionava um retorno emocional. Antes disso, conheceu o rap aos 9 anos, por influência do irmão mais velho. Racionais MC’s, MV Bill, 509-E e Facção Central não o contentaram e ele foi atrás de mais. Com o hip hop, teve contato aos 15. Essa foi a mesma época em que foi apresentado às batalhas, e já começou levando todas.

"Ganhei o Fórum Social Mundial em Itapuã em 2015, na primeira batalha que participei. Esse é um evento beneficente que ocorre no Abaeté. Além de outros circuitos de rimas, sou ícone da batalha original LauroCity, na praça de Lauro de Freitas. Essas competições estaduais foram muito importantes para formarem o profissional que sou hoje. Dá para dizer que 50% do que eu sou, foram as batalhas que formaram”, relata.

Para a Competição de amanhã, ele pretende levar a autoconfiança e toda a preparação que teve nos últimos anos. “Eu já sei como funciona o processo.Há dois anos, eu já tinha certeza que a RedBull iria trazer esse concurso para aproveitar os talentos do Brasil, então já tinha isso em mente. E eles vieram me buscar aqui no Bairro da Paz pelo que eu pude proporcionar pelo meu freestyle em 1 minuto de vídeo que fiz para eles. Abriram a capa do meu livro e leram minha história”, conta.

Como preparação, Ruto MC busca referências. Seu pai, mãe e namorada o ajudam. Ele assiste séries, documentários e histórias em quadrinhos, além de treinar diariamente, numa série de 30 minutos de “freestyle”. Um round de 1 minuto com palavras a cada 10 segundos, um segundo round de 1 minuto com palavras a cada 5 segundos, um terceiro round de 45 segundos com uma temática e o quarto, com temas sorteados.

“Por isso, me sinto nos céus de estar nessa final, como Genghis Khan na época do Império da Mongólia, adorado e feliz”, afirma.

MC Bl4ck pode dizer que teve sensação parecida. “Espero poder dar o meu melhor e contribuir com a competição, deixando a minha marca. Fora do jogo, nosso papel é muito mais importante”.

Ele destaca a função da espiritualidade na sua formação do seu emocional e como pilar de sua estabilidade em competição. Quando conheceu o rap, quis participar ao perceber que a troca de ideias vinha em paralelo à necessidade de uma disputa verbal e mental sobre a situação em que vivia.

“Conheci o rap tendo um contato com a rua muito cedo e me atraía pela batida e pela rima. A letra também passou a me tocar quando percebi que muitas pessoas da minha raça e classe morriam em situações violentas que pessoas de outras cores não passam”.

No início, a família não incentivava a presença de Ian em batalhas. Então, ele esperou o aniversário de 13 anos e foi isso que pediu de presente. O pai o levou para a Batalha do Caranga em 2016, em Lauro de Freitas, e foi aí que ele levou seu primeiro prêmio. Bl4ck foi lançado às competições e não parou desde então.

“Creio que nossa missão seja inspirar nossa geração a refletir e discutir aquilo que é necessário e, no momento, estou conseguindo fazer isso. Espero que esse trabalho me sustente em todos os sentidos, afinal, a arte supre. Meu objetivo é crescer e me tornar, para além de MC, um artista com potencial de fazer o inesperado”, diz.

Enquanto o domingo não chega, é possível conferir a disputa pela vaga da Final entre Ruto MC e Bl4ck no canal do Youtube da competição.

O Red Bull FrancaMente conta com a parceria da TuneCore, distribuidora de músicas oficial do evento, e também com apoio da Secretaria da Juventude da Prefeitura de Fortaleza.

*com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo