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Fernanda Santana
Publicado em 22 de março de 2022 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
A notícia de que o Banco Central (BC) liberaria R$ 8 bilhões em valores esquecidos pelos brasileiros encheu de clientes a Lan House e Variedades, no centro de Iaçu. Nos últimos seis dias, foram 20 pessoas, mas só duas tinham nas contas paradas o suficiente para compensar o preço do serviço - R$ 10. O restante era herdeira de centavos: R$ 0,40, R$ 0,20, R$ 0,16, R$ 0,08 e, o menor de todos, R$ 0,02.>
O BC anunciou em janeiro que liberaria os bilhões abandonados em contas pessoais ou empresariais. Em fevereiro, já era possível conferir se havia ou não algum valor a ser resgatado, sem as cifras especificadas. Na última segunda-feira (7), as quantias foram reveladas. O último lote foi disponibilizado para consulta nesta segunda-feira (21), para os nascidos após 1983.>
Como a consulta foi aberta inicialmente para as pessoas que nasceram - ou empresas que foram criadas - antes de 1968, a Lan House e Variedades e outros estabelecimentos semelhantes no interior lotaram de clientes com idades acima dos 54 anos. >
Nem foi preciso que Rhuan Reis, 29, o dono desta que é uma das três lan houser de Iaçu, onde moram 23,9 mil habitantes, fizesse publicidade sobre o serviço de auxiliar aqueles que queriam conferir o valor de saque. “Foi no ‘boca a boca’ mesmo. Vieram pessoas que não sabiam mexer direito [no site], não se digitalizaram”. >
Elas chegavam lá com a esperança de centenas, milhares ou milhões de reais, no cenário mais idealizado. E saíam com centavos - ou com prejuízo. >
Critérios Há critérios a serem cumpridos para a consulta e a liberação do valor (conferira no quadro ao lado) e pode ser preciso ir à respectiva agência bancária para resolver pendências como liberar o uso do aplicativo do banco.>
“Nessa, o cara gasta R$ 30 de gasolina, paga o serviço, e tem dois centavos para receber”, diz Rhuan, que estava até pior do que os clientes, porque nem centavos a sacar tinha. A lan house, no entanto, teve mais sorte. >
Quando o BC possibilitou, no mês passado, que os brasileiros conferissem se tinham valores a receber, mais de 100 milhões buscaram o site da instituição. A quantidade de pessoas que já acessaram a plataforma, nesta fase, para saber a quantia, não foi informada. Rhuan diz que movimento em sua lan house cresceu após comvocação do BC (Foto: Acervo Pessoal) Serão, agora, R$ 4 bilhões disponíveis para 28 milhões de CPFs e CNPJs - R$ 142.8 mil para cada um destes, na média matemática, mas, na realidade, os valores passaram longe, como testemunharam os clientes de Rhuan.>
Quem tinha centavos em conta riu de nervoso e deixou o valor lá, novamente esquecido, como fez no passado.>
Quais são as próximas etapas para receber dinheiro esquecido? Depois de etapas que pareciam não ter fim, Washington Sena, 56, descobriu que tinha três centavos para sacar. Ele fez a consulta na expectativa de que houvesse uma resposta para uma história que o pai contava a ele e seus dois irmãos.>
Valfredo [o pai de Washington] costumava dizer que, por exigência de um banco, tinha aberto uma poupança, que pôs no nome dos três filhos. Como os dois irmãos de Washington fizeram a consulta no site do BC e não possuíam valores a receber, ele imaginou que, por ser o primogênito, talvez fosse o correntista.>
Na verdade, não era - o mistério da poupança continua. Os R$ 0,03 consultados pelo engenheiro sanitarista eram o último resquício de uma conta fechada. “Achei uma palhaçada, porque o governo federal sabia que a grande maioria das pessoas, talvez quase todo mundo, teria centavos para receber, e se criou essa expectativa”, afirma. >
Para ele, deveria ter sido pensado um sistema que facilitasse a consulta e possibilitasse a doação imediata a instituições de caridade no caso de pessoas que possuíssem centavos a receber. “Se um milhão de pessoas doassem seus centavos, seria algo fantástico [...]. Mas deixa eu te dizer, mandei devolver os três centavos, depois desse desaforo todo”, diz. >
Na primeira rodada de saques, constavam dinheiro proveniente de contas fechadas, tarifas e parcelas cobradas indevidamente, cooperativas de crédito e consórcios encerrados. Na fase iniciada ao longo desta semana, estarão valores esquecidos por outros motivos. >
Em maio, mais R$ 4 bilhões esquecidos serão disponibilizados para saque. Se a população geral está frustrada ao descobrir os centavos a sacar, os donos de lan houses, estabelecimentos que fizeram sucesso nos anos 90 e 2000, têm outra opinião.>
Em Andaraí, na Chapada Diamantina, o movimento de pessoas que queriam se informar sobre quantias a sacar foi o maior do ano na única lan house da cidade, a HD Informática. Desde a busca pelo Auxílio Emergencial, no início da pandemia, é o maior fluxo de clientes registrado pelo proprietário, Hugo Bacelar, 30.>
“Praticamente todo mundo que não tinha acesso à internet veio para cá. Foi uma fila imensa mesmo”.>
Por sigilo, ele preferiu não informar se as pessoas tinham valores a receber. Mas, dise que, para as lan house que sobreviveram na Bahia, foi e será, enquanto o último centavo não for sacado, um “ótimo negócio”.>
Em Salvador, a dona de casa Valdizete Menezes, 52 não precisou se deslocar até uma lan, mas passou os dias ansiosa para saber quanto seria devolvido a ela. A notícia foi dada por sua filha, que a ajudou no trâmite: apenas R$ 0,45. >
Ao contar o que sentiu, Valdizete não conseguiu esconder a decepção. “É um valor muito pouco. Eu encerrei a conta nesse banco há 15 anos já. Se fosse alguma dívida que eu tivesse, tenho certeza que o valor estaria em milhões”, conta a dona de casa.>
Já o gestor de suprimentos e armazéns, Andrei Santana, 38, não esperava que teria alguma quantia a receber, mesmo assim, resolveu consultar seu nome. Ao descobrir que estava entre os soteropolitanos sortudos, ficou na expectativa, mas logo se frustrou pelo valor que o aguardava, apenas R$ 0,01.>
“Mesmo sabendo que dificilmente receberia algo, fica a frustração. Poderiam ter dito logo que não havia nada a receber, do que criar expectativa nas pessoas”, diz.>
Como consultar valores a receber?*1 - Acessar o site valoresareceber.bcb.gov.br na data e no período de saque informado na primeira consulta. Quem esqueceu a data pode repetir o processo;2 - Fazer login com a conta Gov.br (nível prata ou ouro). Se o cidadão ainda não tiver conta nesse nível, deve fazer o cadastro ou aumentar o nível de segurança (no caso de contas tipo bronze) no site ou no aplicativo Gov.br. O BC aconselha ao correntista não deixar para criar a conta e ajustar o nível no dia de agendar o resgate.3 - Ler e aceitar o termo de responsabilidade4 - Verificar o valor a receber, a instituição que deve devolver o valor e a origem (tipo) do valor. O sistema poderá fornecer informações adicionais, se for o caso;5 - Clicar na opção indicada pelo sistema: "Solicitar por aqui": para devolução do valor via Pix em até 12 dias úteis. O usuário deverá escolher uma das chaves Pix e informar os dados pessoais e guardar o número de protocolo, caso precise entrar em contato com a instituição. Ou "Solicitar via instituição": a instituição financeira não oferece a devolução por Pix. O usuário deverá entrar em contato pelo telefone ou e-mail informado para combinar com a instituição a forma de retirada.>
Importante: Na tela de informações dos valores a receber, o cidadão deve consultar os canais de atendimento da instituição clicando no nome dela.>
*Fonte: Agência Brasil>