Baianos relatam medo em países com casos de coronavírus: 'acabou máscara'

Veja relato de quatro pessoas em regiões afetadas

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  • Gabriel Moura

Publicado em 30 de janeiro de 2020 às 13:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

Ainda não há casos confirmados de coronavírus no Brasil, mas os brasileiros que estão ou vão viajar para regiões afetadas pela epidemia estão assustados. O CORREIO conversou com quatro baianos que falaram sobre seu sentimento e o clima no lugar onde estão. São eles a publicitária e empresária Elisa Xavier, 41 anos, que está na Tailândia, onde há 14 casos confirmados; a estudante Hillary Quintela, 23, que mora na França, lugar com 5 ocorrências; o jornalista Renato Camilo, 29, que tem viagem marcada para o Japão, local com 11 casos; e a dona de casa Patrícia Rodrigues, 44, que mora na China há nove anos. Veja relatos: Elisa Xavier (Tailândia) "As pessoas estão usando máscara na rua. Não sei se mais do que antes porque os asiáticos sempre as usam por causa da poluição, principalmente em Bangkok. Eu também estou usando dependendo do lugar. Em Koh Phi Phi, onde estou agora, não estou usando, mas nos voos, sim. Quando saí do Brasil não tinha noção ainda, pois eu viajei na madrugada do dia 17 de janeiro. Então fui despreocupada. Mas quando cheguei em Dubai para fazer a conexão para Bangkok já começaram os rumores e eu vi muita gente gripada. E, apesar de não ter caído a ficha do corona vírus, coloquei a máscara por precaução. Mas só durante a parada [em Dubai] mesmo. Quando cheguei na Tailândia fiz os passeios e visitas aos templos sem a proteção. 

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Ontem eu estava numa farmácia para comprar shampoo, aproveitei para comprar um pacote de máscaras, e a vendedora inclusive estava usando. Mas, quando eu ainda estava na farmácia, vi um grupo de 4 a 5 chineses que compraram todas as máscaras que estavam nas prateleiras. E no aeroporto também está havendo algumas mudanças. Eu vi que os chineses ficaram em uma fila diferente dos demais. E soube que estão fazendo isso mundo afora.Meu irmão, que é mais assustado, disse para eu voltar, mas vou continuar aqui. Estou com máscaras e álcool gel para usar em lugares com aglomeração". Patrícia Rodrigues (China) "Foi mais ou menos no mês de dezembro que começamos a ouvir a respeito. Não tem aquela data precisa porque a gente não pensa que vai virar algo maior. Começamos a ouvir que era uma doença muito grave até chegar nessa epidemia, nessa situação, tem talvez uns dez dias, talvez um pouco mais.  A baiana Patrícia vive na China há nove anos com o marido, Renato, e os filhos, Isaque e Cecília (Foto: Acervo pessoal) Moramos no Sul da China, numa cidade chamada Shenzhen, que tem mais ou menos 18 milhões de habitantes. Aqui, tem um fluxo de gente muito grandes e tem muito estrangeiro também. A vida da gente estava absolutamente normal, mesmo sabendo que o vírus estava por aí, que era sério, que idosos estavam morrendo, porque é um problema que afeta principalmente idosos. 

'Até para andar com os cachorros, saímos de máscara', diz baiana que vive na China

Estávamos convivendo com isso e, na semana passada, até saímos para um passeio em família. Fomos a um café com uns porquinhos. Fomos sem máscaras, tranquilos. Já no dia seguinte a esse passeio, meu vizinho falou para a gente não sair ou não sair sem máscara. Ele começou a me falar que era sério, que era para prestar atenção. Aquilo me fez ficar um pouco mais tensa na sexta-feira passada. Eu já tinha algumas máscaras em casa e já saí usando. Eles [as autoridades] dizem para evitar lugares muito cheios, para não sair sem máscara. Mesmo se você vai só andar com os cachorros – e a gente tem dois cachorros – no condomínio, é para andar de máscaras. Na sexta-feira, eu caí em mim da gravidade da situação quando fui até os elevadores do prédio e todos estavam envelopados, tanto por dentro quanto por fora e com spray de desinfetante. 

Aí, eu caí na real...  Nós começamos a prestar atenção. Saímos para a rua, demos uma volta e notamos que, na farmácia, as pessoas estavam procurando muito por máscaras. A namorada do meu filho ligou pra Xangai pedindo por uma máscara específica.  Renato Camilo (Japão) "A questão da preocupação foi escalando em mim ao longo dos dias. Se você vir a questão do coronavírus na semana passada era uma coisa e hoje é outra. Tanto que eu tava acompanhando as viagens no início e nem cogitava cancelar minha viagem para a China, e hoje é impensável seguir meu roteiro inicial, que era de cinco dias no país, passando por Xangai e Pequim para conhecer a Grande Muralha. Mas cancelar esse trecho da viagem não foi algo que eu planejei, mas fui obrigado. Na segunda, eu acordei e vi que passeios e hotéis estavam cancelados. O próprio governo chinês solicitou para cancelar todos os passeios para evitar que turistas fossem para a região.

Além disso tive que cancelar outros três passeios, um trem bala e outros dois hotéis que eu ia ficar. E agora, para contornar, não tenho como trocar meu voo, pois já é semana que vem. Então o que eu fiz: vou seguir meu roteiro original e ir para Xangai, mas, de lá, comprei uma passagem para o Tóquio. Então vou ficar seis, oito horas no aeroporto, mas nem quero deixar o local.

E okay que o Japão já tem alguns casos confirmados, mas ainda assim está em um outro nível de expansão do vírus, muito mais controlado. Então vou ter que ficar mais tempo no Japão e tive que replanejar minha viagem de última hora. Vou visitar mais cidades na terra do sol nascente, tive que comprar alguns hotéis pagando mais caro. Mas, ainda assim, não é uma possibilidade cancelar a viagem pois é um sonho que tenho.

Entretanto a preocupação existe, até porque vou ficar algumas horas na China, num aeroporto que passa muita gente. Então vou precavido, levar minha máscara do Brasil, limitar bastante o contato com os locais. E meu voo passa pelos EUA e estou com medo de ser barrado ou ser barrado em alguma triagem. E ainda tem o risco da companhia aérea cancelar o meu voo. A Britsh Airways cancelou, e a minha [companhia aérea] é a United Airlines.Mas, apesar de todos esses contratempos, eu concordo que o governo chinês tomou a decisão certa. O foco de todo mundo tem que ser combater a expansão do vídeo, custe o que custar. E várias pessoas já vieram falar comigo, principalmente amigos. Todos os dias recebo umas 10 mensagens de gente me mandando mensagem, contando o que está acontecendo, pedindo para não ir... Ainda assim é algo que não passa pela minha cabeça, pois é um sonho muito grande".

Saímos de farmácia em farmácia buscando. Quando não encontramos, vimos que a situação era séria, que não ia ter máscara. Meu esposo havia trazido algumas máscaras do trabalho, que ele usa para mexer com produtos químicos e começamos a perceber que a situação estava se agravando a cada momento".  Hillary Quintela (França) "As pessoas aqui sempre usaram máscaras, principalmente os de origem asiática. Amigos que moram no Japão me explicaram que é uma questão cultural. Então vejo gente usando na rua, mas eu já via antes. Mas eu não estou usando. Foram poucos casos, e o governo tem afirmado que o uso de máscaras nessa fase não ajuda em nada. Mas vi também no Le Monde que as máscaras já acabaram nas farmácias. 

Eu vejo muita piada com o vírus, principalmente na faculdade. Acho que ainda não estamos levando muito a sério. Isso dito, tem várias matérias nos jornais sobre o preconceito contra as pessoas asiáticas, e como o vírus tem feito isso emergir ainda mais; eles tem ouvido muita "piada" e mesmo um certo medo por parte dos outros.

Não sei do controle, acho que é algo que está acontecendo mais nos aeroportos. No momento a política do Estado me parece ser não provocar alardes.

Não deixei de fazer passeios, nem deixaria. Mas fico com medo, sim, risos. Ainda me parece um medo distante, já que são poucos casos. Mas não deixa de passar na minha cabeça às vezes 'ai meu deus, e se eu vim realizar o sonho dos meus estudos e morrer por causa de um vírus do nada'Não vi campanha. Tenho visto os jornais que transmitem as falas das autoridades no sentido de minimizar esse pânico inicial".