Baleados em ataque em Plataforma foram vítimas de vingança de facção

Sem passagem na polícia, vítimas foram alvos de uma guerra entre traficantes

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  • Bruno Wendel

Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 17:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel/CORREIO

(Bruno Wendel/CORREIO) O que motivou o ataque que deixou três pessoas baleadas em Plataforma, na noite desta terça-feira (28), foi uma vingança a outro atentado, ocorrido neste final de semana, contra uma mulher no bairro. A ação teria sido cometida por remanescentes do traficante Brain, morto pelo Grupamento Aéreo (Gaer) da PM quando tentava escapar do cerco nadando na praia de Plataforma em janeiro deste ano. 

O motivo seria uma resposta ao ataque a Kélen Tainá dos Anjos Santos, 19 anos, amiga de infância de Brain. Ela estava na Praça São Brás quando foi baleada na cabeça por um dos três ocupantes de um carro no domingo e está internada em estado grave, no Hospital do Subúrbio. 

Os dois casos são apurados pelo delegado Ciro Palmeira, titular da 29ª Delegacia (Plataforma). Em relação a situação mais recente, que deixou três feridos – Ronalde Santana Santos e Leandro dos Santos Barbosa, ambos de 28, e Miriam Karla de Souza de Moraes, 48 –, ele disse que as vítimas não têm passagem na polícia e que aguarda o envio da perícia de local de crime, do Serviço de Investigação de Local de Crime (Silc), para avançar nas investigações. As vítimas já tiveram alta do Hospital do Subúrbio, para onde foram socorridas após o ataque. 

Quanto ao inquérito que apura a tentativa de homicídio contra Kélen, o delegado disse que a investigação está em andamento. Ainda segundo ele, a princípio, não pode fazer a relação entres os casos uma vez que as investigações estão no início. 

Moradores de Plataforma contam que até pouco tempo Brain era do Bonde do Maluco (BDM), mas que recentemente se juntou com o Comando da Paz (CP). O motivo ainda é desconhecido. Logo, a Rua das Esperanças - onde está umas das bocas-de-fumo mais rentáveis do bairro - deixou de ser "Tudo 3" para se tornar "Tudo 2". 

A mudança gerou uma disputa acirrada no bairro e o BDM jurou de morte todos os parceiros e pessoas ligadas a Brain. Então, a primeira vítima dessa promessa foi a Kélen Tainá no domingo. Ela estava na rua, numa festa, quando três homens se aproximaram e um deles atirou. A jovem está internada no Hospital do Subúrbio em estado grave, pois perdeu uma grande quantidade de massa encefálica.

Segundo testemunhas, os suspeitos de participarem do ataque à Kélen são Jacaré, Pão e Ismaile, que seria o autor dos tiros na cabeça da jovem. Tomados pela vingança, homens ligados ao falecido Brain resolveram atacar os moradores da Rua dos Ferroviários. Então, na terça-feira (28), por volta das 19h, Miúdo, Samuel e um terceiro traficante estavam num Corolla branco quando disparam em direção à uma avenida de casas que fica Segunda Travessa Transegur. "O motorista saiu do carro para atirar. Já o carona e o outro que estava no banco de trás, apenas abriram as portas e efetuaram os tiros", contou um morador, que preferiu não se identificar. 

Miriam foi baleada na porta de casa. Já os outros dois rapazes conversavam na entrada da travessa quando foram atingidos. “Foi um pânico. Todo mundo correndo, pois a rua estava cheia”, contou uma moradora, que tem um estabelecimento comercial perto do local do ataque. “Agora, não me resta mais nada, a não ser fechar mais cedo”, disse.

Dançarino Outra moradora falou da insegurança na região. “A violência está demais. Tá tomando conta de tudo. Ou a gente corre ou fica em casa.  Só acerta quem não tem nada a ver. Os três tiveram sorte que estão vivos. Já Marquinho, um menino querido, não teve essa sorte”, declarou ela, fazendo referência ao assassinato do dançarino Marcos Paulo Santos, 19, baleado também na Rua dos Ferroviários em dezembro do ano passado.  Marcos fazia parte de grupo de dança e participou de uma produção da cantora Daniela Mercury (Foto: Arquivo pessoal) Ainda de acordo com ela, os bandidos estavam num Corolla branco, o mesmo usando na ação desta terça-feira. Marcos, o Marquinhos, como era conhecido na região, fazia parte do grupo de dança As Abusadas e já participou de uma produção da cantora Daniela Mercury – um lyric vídeo (um clip somente com coreografia e a música sem a participação do cantor).  Mercury emitiu uma nota lamentando a morte do dançarino (veja abaixo). 

Na hora dos disparos, Marcos estava com um amigo, conhecido como Paulinho, e uma terceira pessoa, ainda não identificada, que também foram atingidos. Segundo moradores, Paulinho foi baleado nas nádegas e foi internado no Hospital do Subúrbio. Ele já teve alta. Não há detalhes sobre a circunstância de como a terceira pessoa foi atingida e para onde foi socorrida.  

Confira íntegra da nota:

“Eu sinto muitíssimo a morte precoce de um jovem de 18 anos. Eu não conheci Marcos pessoalmente, mas vi as imagens de quando ele fez uma participação no lyric vídeo de Samba Presidente! O lyric vídeo não teve a minha participação. Escolhemos colocar a drag queen Petra Peron para me interpretar. Marcos tinha uma elasticidade impressionante e muito talento para dançar. Estou muito sentida. Mas há algo que temos que falar: Os assassinatos de jovens negros e pobres no Brasil têm números alarmantes e precisamos acabar com isso. É um massacre o que acontece nesse país com a população negra. Eu me coloco à disposição para participar dessa luta no Brasil. Não podemos fingir que não estamos vendo. É revoltante ver isso, ver o sofrimento da família de marcos. Sinto muito mesmo e espero que o assassino seja identificado e preso. Um beijo especial para a mãe dele e para toda família” Daniela Mercury