Barracas de praias cumprem normas, mas clientes ignoram pandemia

Banhistas não respeitam proibição do litoral ou uso da máscara; barraca da Pipa foi fechada

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  • Wendel de Novais

Publicado em 8 de setembro de 2020 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: ((Foto: Tiago Caldas/CORREIO))

Após a interdição da Barraca Pipa, localizada em Stella Maris, no último domingo (6), por descumprir normas da Prefeitura, a reportagem do CORREIO foi até a região verificar o funcionamento das tradicionais barracas de praia. Lá, o que se vê é uma Salvador em um universo paralelo ao da pandemia, onde o uso de máscara é raro e o distanciamento social não parece ser uma questão. As barracas, que funcionam com as mesmas regras estabelecidas no protocolo de retorno dos restaurantes, exigem uso de máscaras no interior dos estabelecimentos, mas temem o comportamento dos clientes no lado de fora.

Com roupas de banho e sem máscaras, soteropolitanos curtem a região em grupos, ignoram interdição das praias e esquecem das normas e dos materiais de proteção contra a disseminação do novo coronavírus. Para Bruno Brito, 38 anos, que é flanelinha nos arredores da Barraca do Lôro, também em Stella Maris, o desuso das máscaras se deve ao espaço relaxante da região, que deixa as pessoas a vontade. "É, aqui não usam muito. Só quando vão entrar na barraca porque não pode entrar sem. Acho que é porque estamos em um ambiente amplo e as pessoas chegam e já querem dar aquela esfriada, sem preocupação. Já usam máscara em tantos lugares e não querem utilizar aqui", afirma. 

Liberdade para clientes, aflição para os responsáveis. Podendo apenas controlar o comportamento das pessoas no interior das barracas, estabelecimentos relatam que  a imprudência dos indivíduos nas áreas externas é inadequado e preocupante. "A nossa maior dificuldade é fora do restaurante. Na parte interna, tudo funciona segundo os protocolos. Mas, quando os clientes estão na parte de fora, ficamos de mãos atadas. Fazer com que eles utilizem a máscara e respeitem o distanciamento social nos arredores tem sido complicado. Em raras oportunidades, tem gente que se chateia ao ser informado da necessidade do uso pra entrar. Imagine fora que não temos uma jurisdição", conta Daniel Sardinha, gerente geral do Grupo Lôro. Barraca Lôro segue regras, mas teme comportamento dos clientes fora do local (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Apesar da validade do decreto que interditou as praias de Salvador persistir, algumas barracas tiveram funcionamento liberado desde a fase 2 da retomada das atividades econômicas da capital. Isso acontece porque estas barracas passaram a seguir as mesmas regras estabelecidas no protocolo para os restaurantes. Everaldo Freitas, coordenador de fiscalização da Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), explica: “Estes estabelecimentos não estão na faixa de areia das praias e têm endereço residencial. Por isso, apesar de serem conhecidos como barracas de praia, não têm o funcionamento diretamente ligado ao acesso à praia. Dá pra funcionar com as praias interditadas, como um restaurante comum. O problema é que os clientes têm ido aos estabelecimentos e também para praia por conta da proximidade. Além disso, nas praias e nas ruas próximas, notamos que poucas pessoas tomam os cuidados necessários que uma pandemia demanda”, diz.

Alguns dos presentes, que não quiseram se identificar, afirmaram que não suportam ficar mais dentro de casa e apontaram outras aglomerações, repetindo o discurso dos banhistas que se justificaram no domingo, quando as praias da região tiveram um movimento expressivo. No entanto, quando perguntados sobre o motivo de não fazerem uso das máscaras, material importante para a contenção do vírus, alguns não souberam responder e outros citaram um segurança que o espaço aberto e fechado ofereceria para quem estava ali. Nesta segunda-feira (7), às 12h51, a reportagem do CORREIO notou uma forte presença de banhistas nos arredores das barracas Pipa e Loro. Às 14h, a presença já era mais tímida porque parte das pessoas foi dispersadas por guardas municipais.  Soteropolitanos ignoraram decreto da Prefeitura novamente nesta segunda-feira (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) O fluxo expressivo de pessoas nas praias e barracas de região foi alvo de ações da Guarda Municipal, que promoveu operação de retirada dos banhistas que têm ignorado protocolarmente a interdição das praias. Nas ruas, a situação também é preocupante  pelo que afirma Everaldo. "As pessoas que estão indo à Stella Maris têm demonstrado um descaso com a pandemia e os cuidados necessários para conter o avanço do vírus. Comportamento que, neste fim de semana, passou do lado de fora e para o lado de dentro da Pipa, barraca que interditamos no domingo", relata.  De acordo com Everaldo, o estabelecimento estava descumprindo várias determinações do protocolo. "Pessoas em pé, lotação acima do permitido, gente sem máscara, sem higienização entre a saída de clientes e entrada de outros e uma fila pra entrar no local que estava completamente desordenada com pessoas sem máscara e desrespeitando o distanciamento social. O local, pra funcionar, precisa garantir a segurança das pessoas e não era o caso", diz.  Barraca Pipa foi interditada no último domingo (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Quando interditado, o estabelecimento precisa apresentar uma defesa, que será analisada pela Sedur a partir de vistorias e recomendações de alteração na logística de funcionamento para poder reabrir segundo informações da secretaria.

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro