Barreiras chega a 93% de ocupação de UTIs, e especialistas alertam para cenário ainda pior

A preocupação é com a chegada de pacientes de outras regiões por regulação e com as variantes do vírus

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 17 de março de 2021 às 05:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Enquanto a ocupação dos leitos gerais na Bahia chegou a atingir 84% no início de março, a região Oeste ostentava 49%. Mas esse cenário mudou. De acordo com dados dessa terça-feira (16) da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), a taxa de ocupação geral de Barreiras está em 62%, sendo 93% para UTIs e 40% para leitos clínicos. A preocupação de especialistas e gestores é com a transferência de pacientes de outras regiões e com o surgimento de novas variantes. 

Na região, o Laboratório de Agentes Infecciosos e Vetores da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) já identificou a circulação de duas variantes: P1 e P2 da covid-19. Na última leva de análises, das 20 amostras estudadas, 19 foram apontadas como P2 e, uma, como P1. De acordo com o professor Jaime Henrique Amorim, pesquisador no laboratório, já se sabe que elas são mais transmissíveis, ou seja, se espalham mais rapidamente. 

“Até novembro do ano passado, a gente não tinha identificado nenhuma variante que chamamos de variante de preocupação. A partir de dezembro, detectamos a P2 e, em fevereiro deste ano, comprovamos que ela já tinha se espalhado de maneira significativa na região. Agora, temos também a P1, que vamos analisar”, explica Amorim. 

O professor e pesquisador se preocupa com a possibilidade de chegada das variantes do Reino Unido, a B117 e a Kent. “De acordo com as pesquisas, elas são as que já foram comprovadamente relacionadas com as formas mais graves da doença e maior letalidade. Essas, nós não identificamos aqui ainda”, afirma. “A variante do Reino Unido implica casos mais graves, casos em crianças. Se ela chegar aqui, teremos muita dificuldade porque temos uma quantidade de leitos pequena, a região não tem estrutura para isso”, aponta. 

Regulação De acordo com dados da Sesab, a região Oeste da Bahia está com taxa de ocupação de leitos de UTI em 94% e de leitos clínicos em 55%. Até então, 12 pacientes aguardavam por regulação para UTI na segunda-feira (15). 

Para Amorim, isso demonstra o alerta para o cenário atual dos hospitais, que, segundo ele, é reflexo da regulação de pacientes de outras regiões para o Oeste da Bahia. “Antes de a gente começar a ter regulação de pacientes para cá, Barreiras estava com uma porcentagem de ocupação em torno de 45%, mas hoje isso cresceu bastante, em torno dos 60%. A gente precisa de uma investigação epidemiológica, mas sabemos que isso tem interferência da regulação que pode, inclusive, implicar na disseminação de variantes”, analisa ele. 

O secretário de saúde de Barreiras, Melk Neves, concorda, mas diz que não havia outra saída. Segundo o secretário, a taxa de ocupação das UTIs tem chegado a 100% e a taxa dos leitos de enfermaria vem apresentando crescimento. Isso traz uma outra preocupação: o estoque de oxigênio. 

De acordo com o secretário, por enquanto, a situação está sob controle, mas, caso as tendências dos números se confirmem, pode haver desabastecimento. “Nos hospitais onde a gente tem tanques, não temos problemas. No Hospital Municipal Eurico Dutra, a gente está sob controle, mas a empresa fornecedora, White Martins, já comunicou que, se a demanda de leitos aumentar, corremos um sério risco de desabastecimento por falta de cilindros”, afirma.

“Essa é a nossa preocupação porque também estamos muito longe dos centros de abastecimento. São quatro caminhões que fazem bate e volta, mas, por conta da distância, o caminhão leva três dias para sair daqui, carregar e voltar”, acrescenta Neves.

Situação de emergência Devido ao crescente número de pessoas infectadas com o novo coronavírus no Estado da Bahia, principalmente na região Oeste, a prefeitura de Barreiras decretou situação de emergência por 60 dias. O decreto foi publicado no Diário Oficial de segunda-feira (15).

A declaração de situação de emergência pode ser prorrogada ou revogada conforme alteração do quadro pandêmico vivenciado pelo município. Dessa forma, durante esse período, fica dispensada a instauração de procedimento licitatório com fundamento no art. 24, IV da Lei nº 8.666/93, para aquisição de bens, serviços, inclusive de engenharia destinados ao enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do Coronavírus.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro