Bebê de Irecê é segundo da Bahia com anticorpos para covid-19 

“Esperança de dias melhores”, diz mãe de Ravi 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 28 de maio de 2021 às 17:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Acervo Pessoal
. por Divulgação/Prefeitura de Irecê

Um segundo bebê baiano testou positivo para anticorpos da covid-19, em Irecê, no Centro Norte da Bahia. O pequeno Ravi Dantas, de 28 dias, nasceu em 1º de maio e pode estar imune da doença que já acumula mais de 450 mil óbitos no Brasil, sendo mais de 20 mil entre os baianos. O primeiro caso na Bahia foi do recém-nascido Mateus Marques, na última sexta-feira (21), que herdou os anticorpos da mãe, vacinada com a Oxford/Astrazeneca.  

A família de Ravi, após ver uma reportagem na televisão sobre o assunto, resolveu testá-lo em um laboratório particular da cidade e o resultado, que saiu na última quarta-feira (26), foi o Igg positivo. Como a testagem foi feita pela rede particular, o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA) ainda fará a contraprova para confirmar a imunidade. A informação foi confirmada ao CORREIO pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A amostra foi colhida nesta quinta-feira (27).  

“A gente fica muito animado e com o coração cheio de esperança, de que dias melhores podem estar por vir, ao ver crianças recém-nascidas imunizadas”, celebra a mãe, Vitória Rocha, 25. Ela é psicóloga e, além de ter se infectado com a covid-19 na gravidez, quando estava com 15 semanas de gestação, ela tomou o imunizante Coronavac - a primeira dose quando estava com 37 semanas de gravidez, em 14 de abril, e a segunda 15 dias após o parto, dia 12 de maio.  

Vitória até poderia ter tomado a vacina antes, por estar na linha de frente da covid-19. Ela trabalhava como recepcionista em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) que recebia, diariamente, pessoas com o novo coronavírus. “Como não tinha nenhum estudo em gestante na época, se a vacina ou a covid fazia algum mal para o bebê, eu ficava muito insegura. Principalmente porque estava em contato com pessoas infectadas todos os dias. Mas tomei a vacina e deu tudo certo”, narra a mãe.  

Quando teve a infecção pelo vírus, apresentou sintomas leves, como dores no corpo. Já o marido, Hilton Dantas, 26, chegou a ter perda de olfato e paladar. Ambos ficaram isolados e se curaram em casa. Eles são casados há quatro anos e Ravi é o primeiro filho do casal. “A gente fica bem alegre e satisfeito com essa notícia. Acreditamos em dias melhores”, conta o pai da criança, que é enfermeiro.  

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Eles decidiram testar pelo laboratório privado porque, segundo os pais, pelo Lacen demora mais tempo. “Tem que abrir um requerimento para poder testar o Igg dele e colher o sangue. Então a gente preferiu pagar para fazer mais rápido. Em duas horas saiu o resultado”, esclarece Vitória. Após divulgação da notícia entre amigos, a Sesab entrou em contato, por intermédio da prefeitura de Irecê.  

O Lacen, além de confirmar a imunidade, irá monitorar a criança para saber quanto tempo os anticorpos ficarão no sistema imunológico. Ainda não há uma metodologia definida para esses casos por parte do Ministério da Saúde (MS). Por isso, a Sesab constrói um protocolo próprio.  

“Apesar de não termos um protocolo definido pelo Ministério da Saúde, o estado da Bahia já está desenvolvendo o seu protocolo no sentido de dar continuidade ao acompanhamento, onde vamos fazer exames para saber até quando essa titulação permanece no sistema da criança”, explica a diretora de vigilância epidemiológica da Sesab, Márcia São Pedro. 

"Temos visto isso como dado extremamente importante, do ponto de vista epidemiológico. Mostra que a vacina, apesar de ser um produto novo, no controle da pandemia, mostra-se eficaz, pois a criança tem uma memória imunológica. É uma contribuição para novos estudos e pesquisas e pra o avanço e ampliação de novos grupos prioritários que possam ser elencados”, argumenta Márcia.  

Ela reforça ainda para a importância da população em aderir o programa de imunização e que a Sesab acompanhará outras gestantes que foram imunizadas. “Precisamos dar continuidade ao monitoramento das gestantes que fizeram uso da vacina, bem como os seus bebês, para que a gente possa dar um acompanhamento mais eficaz e com resposta em tempo hábil, bem como aquelas mães que tomaram apenas a primeira dose e não conseguiram completar o esquema”, completa. Até então, de acordo com o painel de cobertura vacinal da Sesab, são 10.622 gestantes e puérperas que receberam a primeira dose da vacina.  

A diretora de vigilância lembra que, por enquanto, até se descobrir se há relação com a morte de uma gestante no Rio de Janeiro e vacina, o Ministério da Saúde suspendeu a aplicação da Oxford/Astrazeneca/Fiocruz e gestantes e só estão sendo aplicadas a Coronavac e Pzifer, naquelas grávidas com comorbidades.   

A Sesab pontua que pedirá também um histórico à família, além de fazer a contraprova, porque a o bebê Ravi pode ter adquirido a imunidade não da mãe, mas por ele mesmo ter se infectado. Por isso que a coleta do Igg deve ser feita logo após o parto.  

Anticorpos são repassados pela placenta  A infectologista pediátrica Anne Galastri explica que os anticorpos podem ser herdados da mãe da criança por meio da placenta. “Qualquer bebê que nasce depois de 20 semanas e, principalmente, após 30 semanas de gestação, pela placenta, existe a transmissão não só de anticorpos da covid, mas de todos os anticorpos de infecções ou vacinas que a mãe já tomou ao longo da vida”, esclarece. Portanto, o fenômeno ocorre tanto com quem adquiriu a covid-19 como quem tomou a vacina.  

Anne pontua que isso é uma possibilidade e não há dados ainda para a quantidade de proteção que isso garanta à criança. “A gente não sabe o título de anticorpos que dá proteção. O bebê nasce no sangue com um título de anticorpo, uma porcentagem. Não quer dizer o bebe não vai adquirir infecção, quer dizer ele pode ter uma menor taxa de aquisição da covid-19 e todas outros infecções ou vacinas que a mãe foi protegida ao longo da vida.”, detalha a especialista.  

A infectologista complementa que a transferências de anticorpos também pode ocorrer com as mães que estão em processo de amamentação, as puérperas. “Isso pode ocorrer com as lactantes, mas é outro tipo de anticorpos. Enquanto nas gestantes é o Igg que se transmite, pela amamentação, é o Iga, outro tipo de anticorpo, que também não temos o dado de qual o valor de imunidade, o quanto que ele realmente vai estar protegido”, afirma.  

O que sabe é que a a proteção é menor do que a recebida pela mãe. Ou seja, se a mãe adquiriu anticorpos pela vacina, a eficácia de proteção do imunizante será menor no bebê. "A eficácia não sabemos de quanto será, mas vai ser menor, porque não é o bebe que está recebendo a vacina, ele está pode receber uma parte da proteção da mãe, pela transmissão de igg ou de iga”, conclui.  

De acordo com a prefeitura de Irecê, Ravi será acompanhado por profissionais de Saúde da Administração Municipal. O objetivo é monitorar o desenvolvimento da criança e avaliar a sua resposta imunológica. O prefeito Elmo Vaz comemorou a notícia: “É realmente uma história edificante, carregada de simbologia. O nascimento do nosso querido Ravi é uma prova irrefutável de que Irecê é uma terra abençoada. Que os ventos de esperança tragam dias melhores para todos nós”.  

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro