Bicentenária, festa da Boa Morte retoma tradição após dois anos de pandemia

Nesta segunda (15), comemoração começou com procissão e terminou o dia com samba de Roda no Largo d'Ajuda

Publicado em 15 de agosto de 2022 às 20:25

. Crédito: Foto: Secult / Cadu Morais

Uma mistura entre cultura cristã e afro-brasileira. A bissecular festa da Boa Morte, em Cachoeira, que teve atividades suspensas nos dois últimos anos devido à pandemia de covid-19, chegou ao principal dia nesta segunda-feira (15). É quando há a solenidade da Assunção de Nossa Senhora, seguida de procissão e samba de roda no Largo d'Ajuda. No mesmo dia, houve encerramento da cerimônia religiosa, no entanto, a comemoração cujo retorno se deu no último sábado, chega ao fim somente quarta-feira.

A manifestação cultural é promovida pela Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte, associação formada por mulheres negras descendentes de escravizados. A irmã Joselita Alvez, 79, salienta que a relevância da festa está na fé e resistência. “Seguramos as resistências dos nossos antepassados, é uma cultura de raízes. Mantemos a tradição viva [...] de uma cultura negra e que já vem da idade dos nossos irmãos escravos”, destaca.  

A irmandade nasceu na capital por meio da devoção a Nossa Senhora e auxílios aos carentes. Dentro disso, se empenhou na alforria de escravos e, com o tempo, migrou para o recôncavo. As devotas de Nossa Senhora hoje comemoram a liberdade e pedem proteção, mantendo vivos elementos da cultura afro-brasileira com a religiosidade cristã. 

Segundo a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur-Ba), o município de Cachoeira deve receber 150 mil visitantes brasileiros e estrangeiros para o culto à Nossa Senhora. O secretário da pasta, Maurício Bacelar, esteve no festejo e garante que este ano já retomou a força quanto ao número de público em relação ao ano de 2019, tendo a rede de hotelaria de Cachoeira 100% ocupada.

Exemplo disso é a pousada La Buena Vida - em analogia à festa da Boa Morte -, cuja casa está lotada há mais de 15 dias, de acordo com o proprietário do espaço, Felipe Daviña. Ele destaca que o segundo semestre é movimentado e traz aquecimento para o setor hoteleiro. A Festa Literária Internacional de Cachoeira, por exemplo, chama atenção de moradores do estado, porém, é a Boa Morte uma das principais. 

Secretário de Cultura e Turismo de Cachoeira (Secult) em Cachoeira, Carlos Eduardo Morais ressalta que o evento mobilizou todas equipes da prefeitura e trouxe novidades neste ano. Uma delas foi a restauração completa da Capela da Boa Morte, entregue pela gestão municipal para realização da festa.

“A prefeitura decretou feriado municipal, a cidade está pronta para receber fluxo. [Temos a] guarda municipal disponível, fechamento de ruas, controle do fluxo de carros. É um evento turístico que envolve uma de nossas maiores manifestações, tínhamos que tomar todo cuidado”, salienta. 

O casal de fotógrafos Águeda Mascarenhas, 49, e André Motta, 54, fazem parte dos turistas que vão à cidade especialmente para celebrar a festa da Boa Morte. Há quatro anos juntos, eles contam que já foram duas vezes para o festejo, mas este ano foi o primeiro cujo casal participou lado a lado. 

“Tanto minha família como a dela é do recôncavo. Tem aspecto muito visual da própria festa e [isso faz] a gente querer ir, ver, fotografar, participar da melhor forma possível. Representa bem o caráter baiano porque tem todo sincretismo. Isso é bem Bahia, há riqueza em diversos aspectos. Dá satisfação, alegria de estar ali”, declara André. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro