Bolsonaro teria dito que sua família é perseguida para mudar gestor da PF

Vídeo de reunião ministerial é devastador para presidente, dizem fontes

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  • Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2020 às 16:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril que faz parte do inquérito sobre a suposta tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal (PF) é devastador para o presidente da República, dizem fontes ouvidas pela jornalista Andréia Sadi, do G1.

Em matéria publicada na tarde desta quinta-feira, Andréia contou que suas fontes disseram, em off, que o vídeo comprova a acusação do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, de que o presidente da República tentou interferir na Polícia Federal.

Durante o encontro, Bolsonaro teria dito que sua família sofre perseguição no Rio de Janeiro e que, por isso, trocaria o chefe da superintendência da PF no Rio. Na ocasião, o presidente acrescentou que, se não pudesse fazer a substituição, trocaria o diretor-geral da corporação e o próprio ministro da Justiça – à época, Sérgio Moro.

As fontes afirmaram ainda que Bolsonaro apresentava um tom de irritação e mau humor na reunião e trata o superintendente da PF do Rio como seu segurança. Também teria afirmado que não iria esperar sua família ser prejudicada.

Auatro fontes que assistiram ao vídeo da reunião ministerial, exibido a advogados e investigadores em Brasília, confirmaram à TV Globo e à GloboNews os motivos externados pelo presidente para exigir a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro.

Além de falar dos familiares, o presidente usou palavrões ao tratar do tema, segundo essas fontes. Um dos presentes à exibição do vídeo relatou que Bolsonaro disse: "Já tentei trocar o chefe da segurança do Rio de Janeiro. Se não posso trocar, troco o chefe dele, troco o ministro”.“Não vou esperar f... alguém da minha família. Troco todo mundo da segurança. Troco o chefe, troco o ministro”, de acordo com o relato obtido pela TV Globo.Investigadores afirmaram que as declarações do presidente nessa reunião mostram um interesse familiar, pessoal, por trás da intenção da troca.

O presidente da República comunicou a Moro que iria trocar o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, por Alexandre Ramagem – atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e amigo da família Bolsonaro.

Moro se recusou. Disse "não, não topo isso" e falou com os generais. Mas o presidente da República se mostrou irredutível, pois Ramagem seria a pessoa que forneceria para ele relatórios de inteligência e que poderia de alguma forma blindar investigações.

Ramagem chegou a ser nomeado por Bolsonaro para a diretoria-geral da PF, mas o ministro do STF Alexandre de Moraes suspendeu o decreto. O presidente, então, optou pelo delegado Rolando de Souza, que trabalhou com Ramagem na Abin.

O vídeo da reunião é uma das evidências do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) após Moro deixar o ministério da Justiça acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. A sequência foi exibida nesta terça-feira (12) em Brasília a pessoas envolvidas com a investigação.