Brasil tem 920 mil pessoas com HIV; veja mitos e verdades sobre a Aids

Médica Nilse Querino foi a convidada do programa Saúde & Bem-Estar do CORREIO

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  • Adele Robichez

Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 19:56

- Atualizado há um ano

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Aids não é mais sentença de morte mas, como não tem cura, a prevenção da infecção do vírus HIV é o principal remédio para combater os efeitos da doença que atinge, segundo dados divulgados nesta terça (1º) pelo Ministério da Saúde, 920 mil pessoas no Brasil. Esse é entendimento de Nilse Querino, que é Doutora em Medicina/Freie Universitat Berlin, Alemanha; professora Associada de Microbiologia (UFBA), Professora da UNIME (@unime.lauro) e diretora do Instituto de Infectologia da Bahia.

Nilse foi a convidada desta terça-feira (01) do programa Saúde e Bem-Estar apresentado pelo jornalista Jorge Gauthier no Instagram @correio24horas. “Hoje, a doença é perfeitamente controlável e há muitas opções para evitar a infecção pelo vírus do HIV. Hoje, com o tratamento precoce, o vírus se torna logo indetectável e, ao fazer relação sexual, não é transmitido”.

Desde 2012 a taxa de detecção de Aids no país vem diminuindo. Há oito anos , eram 21,9 casos por 100 mil habitantes e ano passado esse número baixou para 17,8, que equivale a uma queda de quase 19%. A taxa de mortalidade pela doença também apresentou queda de mais de 17% nos últimos cinco anos. 

De acordo com a médica Nilse Querino, a diminuição de casos de HIV/Aids aconteceu porque hoje as pessoas fazem mais testes e o tratamento é bastante eficaz. “A grande descoberta é que, com o tratamento precoce, o vírus se torna logo indetectável e, ao fazer relação sexual, não é transmitido. Isso provavelmente foi o que diminuiu muito a evolução de casos da doença”, diz.

Informações do Ministério da Saúde indicam que, das 920 mil pessoas com a doença no país, 89% foram diagnosticadas, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% destas não transmitem o HIV por via sexual. Esses dados são de 2019, divulgados no último boletim epidemiológico do HIV nesta terça-feira (01) pelo ministério. Não foram divulgados dados por estado. 

Nilse observou, porém, que com a pandemia, muita gente deixou de fazer o teste, de ir à consultas ou buscar medicações e acredita que isso tem impactado de forma negativa nesse avanço que foi alcançado no ano passado.Reveja a transmissão: 

Aids e HIV, qual a diferença? “O termo Aids quer dizer que a imunidade da pessoa já está destruída por um vírus crônico, do HIV, até o indivíduo ficar com infecções que apresentam sintomas muito piores pela falta de linfócitos suficiente no organismo”, explica a especialista. E alerta que, por isso, é importante fazer logo o teste e iniciar o tratamento precocemente para não deixar que isso aconteça e ter uma qualidade de vida equivalente à de uma pessoa saudável, coisa que é perfeitamente possível, segundo a médica.

A vida com a doença “Cada vez menos temos efeitos colaterais da medicação, evoluiu muito. São apenas dois comprimidos diários”, tranquiliza Nilse. Ela informou, ainda, que a sociedade brasileira de infectologia está estudando novas perspectivas de tratamento, como medicações mensais e até anuais, com ainda menos efeitos colaterais.

A médica explica ainda que a pessoa, quando é detectada com a doença e faz o tratamento não tem menos expectativa de vida. “Inclusive, dados mostram que a taxa de sobrevivência pode ser até maior do que a média em algumas populações, já que o paciente tem que se cuidar mais, o que leva a uma longevidade”, informa. 

Quem está sujeito a pegar HIV? Muita gente acredita que o HIV ou a Aids são doenças exclusivas dos homens homossexuais. Mas a doutora afirma que  há mais mulheres com HIV no mundo do que homens. “Na África, o padrão da contaminação é heterrosexual e no Brasil é praticamente metade metade, mas ainda é muito comum em homens que fazem sexo com homens. A novidade é a doença em mulheres iniciando a vida sexual e em idosos”, revela.

De acordo com os dados do Ministério da Sáude, dentro da faixa etária de 25 a 39 anos, onde há a maior parte dos casos no país, 52,4% são do sexo masculino e 48,4% são mulheres. “A doença é transmitida da mulher para o homem, do homem para a mulher e do homem para o homem, mas é raro de mulheres para mulheres”, diz a médica.

HIV na gravidez Conforme Nilse, a transmissão vertical, da mãe para o feto, está praticamente zerada no Brasil, pois são feitos testes no momento do parto, então pacientes da doença já podem engravidar sem preocupações.

De 2015 a 2019, houve redução de 22% na taxa de detecção de Aids em menores de 5 anos. Passando de 2,4 casos por 100 mil habitantes em 2015 (348 casos no total) para 1,9/100 mil habitantes, em 2019 (270 casos), informam dados do último boletim epidemiológico do HIV no Brasil.

Medicamentos: prevenção, tratamento e custo Além da medicação para o tratamento da doença, a médica recomenda o uso do PREP, tratamento preventivo, por quem não tem HIV e tem relações sexuais descuidadas e do PEP, medicação antirretroviral que pode ser usada para evitar a doença após exposição ao risco.

As medicações para a prevenção e para o tratamento são totalmente gratuitas no Brasil, distribuídas pelo SUS. De acordo com a especialista, isso impacta de forma positiva no país, pois há menos transmissores dessa forma, ou seja, diminuição de números de casos.  

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier