Cabaré das Muquiranas tenta aderir ao lema do 'não é não'

Foliões de bloco totalmente masculino prometem vigilância e ação contra o assédio

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  • Vitor Villar

Publicado em 3 de março de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva / CORREIO

O bloco As Muquiranas veio para o Carnaval deste ano com a ideia de transformar a avenida num cabaré. Ou seja: lugar frequentado apenas por homens para se desligarem do dia a dia e extravasarem.

A fantasia escolhida lembra os das, digamos, ‘meretrizes’ dos antigos cabarés. Tem de tudo o que se vê nos filmes: paetês, meias-calças e penas por todo o corpo.

Mas, como bem sabe quem frequenta, até mesmo num cabaré existem regras claras. Imaginem, então, num circuito de Carnaval.

A regra número um, ainda mais agora, em 2019, tem que ser o respeito às mulheres. Se antes já era questão de respeito, agora é lei federal. Desde o ano passado, quem for autuado por importunação sexual pode pegar ir para a prisão.

Segundo os frequentadores mais antigos, As Muquiranas tem feito, não de hoje, a sua parte para educar os foliões. “Todos os associados são instruídos. Se algum colega estiver assediando uma mulher, a gente tem que reprimi-lo”, disse o professor de física Mário Rollet.

A festa de sábado (2) no Campo Grande foi puxada pelo Parangolé de Tony Salles. Sempre que podia, o cantor parava a música para cobrar dos foliões o respeito às mulheres ao redor das cordas.

O lema ‘não é não’, por sinal, foi repetido à exaustão pelos foliões das Muquiranas entrevistados: “A regra é não ultrapassar o limite da brincadeira. ‘Não é não’, temos que respeitar as mulheres”, disse Luís Cláudio Constantino, operador industrial.

Soldado Pimentel é policial militar e tem 12 anos de Muquiranas. “Temos um grupo de 17 policiais, aqui. Se virmos alguém passando do limite a gente se dirige até o local para coibir essa ação delituosa. Principalmente o assédio sexual”, garantiu.

O outro lado

A preocupação vem de uma fama infeliz que acabou colando no bloco: a de que seus foliões passam dos limites na abordagem às mulheres.

Vilma Barbosa é esposa de Luís Barbosa, que há 12 anos sai nas Muquiranas. Ela concorda com a fama: “É verdadeira, acontece muito. Se querem beijar uma menina e elas dizem não, eles insistem, puxam, chutam, molham ela toda...”, contou.

“Uma vez eu estava do lado do meu marido e um Muquiranas veio me beijar. Eu disse não e ele botou a arma (de água) por baixo da minha saia e me molhou toda”, relata.

“Depende da ‘cachaça’ do cara. Alguns ainda insistem quando a gente diz não, mas eu resisto e nunca tive problemas”, contou a foliã Jéssica Nascimento.

Tem foliã que vê evolução nas Muquiranas: “Antes era pior, o assédio era mil vezes maior”, reflete Jamila Carvalho. “Hoje em dia eles estão respeitando mais. Continuam puxando, mas quando a gente diz não eles seguem o caminho deles”, completou.

Quem frequenta As Muquiranas há anos garante que isso não faz parte da essência da instituição. Os ‘desavisados’ estariam atrapalhando a festa: “O que tem acontecido é que tem pessoas que não são associados, não sabem as regras. E eles chegam com o intuito de bagunçar, de manchar a imagem do bloco”, rebateu o Soldado Pimentel.