Caboclos são restaurados antes do cortejo do 2 de Julho

A restauradora Marley Serra Valle, 73 anos, é uma das profissionais responsável pela conservação das peças

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  • Nilson Marinho

Publicado em 30 de junho de 2017 às 06:20

- Atualizado há um ano

Com pouco mais de 1,5 metro de altura, a restauradora Marley Serra Valle, 73 anos, tenta escalar a carruagem que chega a medir cinco metros. Com grande esforço, mas sem êxito, a senhora, que há 20 anos exerce o ofício de restaurar e preservar obras antigas, dispensa a ajuda de qualquer um que se preocupe com ela: “É para não perder a prática”.

O esforço vale a pena, pelo menos para Marley e milhares de pessoas que, no Dois de Julho, saem às ruas para acompanhar o desfile cívico em homenagem à libertação da Bahia das mãos dos portugueses. Marley há 20 anos cuida da restauração dos caboclos(Foto: Marina Silva/CORREIO)É no carro que estão os maiores símbolos da Independência da Bahia - o Caboclo e a Cabocla. E são eles os responsáveis por causar durante todo o ano ansiedade em Marley. “Fico esperando que chegue para que eu possa prestar todos os cuidados devidos”. 

Nem sempre ela está entre os profissionais do Stúdio Argolo - empresa responsável por conservar as peças - escalados para o serviço. Porém, durante os 20 anos que está na empresa, perdeu as contas de quantas vezes este papel foi seu.

Às vésperas da chegada do fogo simbólico que parte de Cachoeira, no Recôncavo, e chega a Salvador um dia antes do desfile cívico, as esculturas não parecem as mesmas sem os adereços que costumam adorná-las. “Reparamos todas aquelas fissuras que os caboclos ganham durante o trajeto, depois de passar por ruas de pedras irregulares”, explica.     

O trabalho precisa ser cirúrgico. Nada pode estar fora do lugar antes que os dois, carregados por voluntários, passem pela porta do Pavilhão 2 de Julho, no Largo da Lapinha. É justamente por isso que Marley e o colega de profissão, Roberto Lima, 41, estão no pavilhão desde a última terça-feira, encarregadores de reparar os danos causados pelo cortejo. 

Diferentemente da sua colega, Roberto não tem muito apreço pela festividade e considera a atividade como outra qualquer. “Nem saio de casa. Não sou muito apegado a isso”. 

O cortejo do último ano rendeu muitas fraturas, ou melhor craquelês - como são chamadas as rachaduras - principalmente para a Cabocla, que chegou ao local com várias fissuras nas pernas e nos braços. O caboclo estava melhor estado, apesar da quantidade de fissuras ter sido maior. Ele foi atingido nos ombros, pernas e cabeça. 

A restauradora só deixa o Pavilhão hoje, quando outra equipe fica responsável por vestir os caboclos para festa. Mas a relação com as imagens, vai além da profissional. “São várias pessoas que interrompem os nosso trabalho pedindo para chegar perto das peças, seja para tocá-los, deixar um bilhete de agradecimento ou simplesmente para apreciar. Não tem como resistir é muito emociante”, conta. Ela só volta a vê-los no domingo, quando, com emoção, chora ao ver as imagens sendo reverenciadas pela população “Faz parte da fé do baiano e eu como uma legítima não poderia deixar de ter”.

Veja a programação do Dois de Julho

6h Alvorada com queima de fogos na Lapinha9h  As bandeiras do Brasil, da Bahia, de Salvador e do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) são hasteadas sob a execução do Hino Nacional pela Banda de Música da Marinha do Brasil. Em seguida, os carros emblemáticos do Caboclo e da Cabocla são entregues pelo presidente do IGHB, Eduardo Morais de Castro, para que desfilem pelas ruas do bairro da Liberdade, Santo Antônio Além do Carmo, Pelourinho e Avenida Sete de Setembro em direção ao Largo Dois de Julho (Campo Grande)9h30  O cortejo que acompanha os carros do caboclo e da cabocla sai da Lapinha17h  A comemoração é encerrada, no Campo Grande, em ato simbólico de hasteamento das bandeiras do Brasil, Bahia e Salvador, colocação de coroas de flores no monumento ao 2 de julho pelas autoridades presentes e acendimento da Pira do Fogo Simbólico pelo atleta cabo da Polícia Militar da Bahia, José Francisco Rodrigues

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