Caça à raposa na Bahia

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  • Nelson Cadena

Publicado em 8 de setembro de 2017 às 05:00

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Os baianos já praticamos um esporte que se não foi popular fazia o gosto da elite, em especial a classe militar, e que deixou de ser praticado em definitivo provavelmente na década de 1920. A modalidade esportiva era a caça à raposa, de inspiração inglesa, como foi também o críquete, na década de 1870, praticado inicialmente no Campo Grande; o remo pela mesma época, então, praticado no Porto da Barra e o futebol no arvorecer no século XX, este praticado nos Campos da Pólvora, de Quintas da Barra e após no Ground no Rio Vermelho. A caça à raposa foi um esporte da caserna, um divertimento dos militares, com regras e fundamentos semelhantes aos da caça à raposa da nobreza inglesa.

A modalidade esportiva tinha suas peculiaridades. Em relação aos protagonistas do esporte original o nosso contava apenas com os cavalos e os caçadores com suas montarias, mas sem armas, a não ser para os devidos rituais de largada e celebração. Não havia cachorros de verdade e muito menos raposas. Os cães e a raposa eram homens. O esporte consistia em perseguir a raposa pela mata adentro que costumava ser um oficial vestindo a pele de uma raposa e com uma fita amarrada no braço. Como os cães eram homens e não tinham o olfato da espécie seguiam a raposa através de confetes, os mesmos das guerras de confetes no Carnaval, que a raposa largava pelo caminho, sinalizando a sua localização.

O interessante dessa simulação é que era um esporte misto, praticado por homens e mulheres, montados a cavalo. O rito da largada começava com um tiro ao alto, em seguida saia a raposa correndo a todo pulmão, entre dois a três minutos após saiam os cães e na sequência os cavalos com os competidores. A raposa sempre era capturada, por mais habilidosa que fosse escondendo-se nos matagais e lagos da região. E tudo terminava em festa, em geral um grande banquete com boas bebidas, uma festa de premiação.

Três oficiais do exército introduziram o esporte entre nós, em 1915: O capitão Plinio da Rocha e os tenentes Diógenes dos Santos e Cantuária Guimarães. Plinio e Diógenes eram experientes, praticavam a caça à raposa, a convite da oficialidade do Rio de Janeiro onde o Major Estelita Werner da Academia Militar era o mentor e grande incentivador, desde 1910. Na Bahia era praticado nas matas fechadas da Fazenda Pituba, entre árvores frondosas e lagos, segundo a descrição, o que nos permite supor que tenha sido nas imediações do Shopping Iguatemi e do Caminho das Árvores, áreas com essa característica.

Também foi praticado na mata entre a chamada baixa do Campo Santo, seguindo por São Lázaro, até as dunas desaparecidas do Rio Lucaia, no Rio Vermelho. O crescimento da cidade, planos urbanísticos a partir do governo J. J Seabra e a própria característica do esporte, para públicos restritos, fez com que o mesmo desaparecesse, quase sem deixar vestígios, o mesmo ocorreu no Rio de Janeiro onde a raposa mais ilustre era um cidadão chamado Alberto Santos Dumont. Não era um homônimo do inventor da aviação e do relógio de pulso, era o próprio que se vestia de raposa e se embrenhava pelas matas de Petrópolis, terreno acidentado, subindo e descendo montanhas e pulando obstáculos nas competições organizadas pelo Major Werner.

No Rio de Janeiro como na Bahia o esporte morreu. Na capital do país era praticado preferencialmente em Petrópolis, como já referido, e também nos campos da Boa Vista. As solenidades de premiação da cidade serrana eram suntuosas. A raposa saia do clube militar ao som de marchas marciais interpretadas por uma orquestra e no retorno celebrava-se a caçada com um esplêndido baile e a distribuição de um broche de ouro e outros prêmios de valor aos vencedores.