Cada um de nós é o outro dos demais, olhar com empatia é importante

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  • Horacio Hastenreiter Filho

Publicado em 5 de março de 2020 às 10:36

- Atualizado há um ano

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Segundo a ex-premiê britânica Margareth Thatcher, a sociedade não existe. Existiriam apenas indivíduos, homens e mulheres, e, no máximo, as famílias. Esse pensamento expressa, em grande medida, a visão do neoliberalismo sobre o individualismo que metodologicamente lhe serve de base.

Apesar do governo Thatcher ter se encerrado há três décadas, talvez nenhum pensamento expresse melhor o que vivemos no nosso patropi nesse último lustro. Nos anos que antecederam a eleição do presidente Bolsonaro, não faltaram evidências nos depoimentos do futuro vencedor do pleito presidencial de 2018 de que à visão sectária, tão comum e manifesta no pensamento elitista nacional, juntavam-se desmesurados sentimentos preconceituosos, manifestos em racismo, homofobia, misoginia e incapacidade de coexistência com a diferença. As propagandas eleitorais dos seus principais oponentes não o pouparam em relação à exposição de depoimentos que tornavam evidentes as suas mais abjetas características.

Não deixa de causar estranhamento, contudo, que membros da comunidade LGBTQI+, negros, mulheres, e até parentes de vítimas do regime de exceção que perdurou por 21 anos no país, tenham digitado 17 nas urnas eletrônicas na votação presidencial. Certamente, em proporções menores que as da população em geral, mas, ainda assim, expressivas. No entanto, não nos deveria causar menos estranhamento que o conhecimento dos posicionamentos do então candidato não tenha sido suficiente para sensibilizar os eleitores que não se encontravam nos grupos predominantemente afetados pela língua ferina do candidato de extrema direita.

A empatia é a capacidade psicológica que nós, seres humanos, temos para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivéssemos na mesma situação vivenciada por ela. O seu oposto não é a antipatia, manifesta como uma repulsa pelo outro, mas a apatia que expressa um estado de alma não suscetível de comoção ou interesse. Alguns amigos negros narraram que, em interlocução com eleitores bolsonaristas, foram compreendidos por declararem votos no candidato petista. Esses últimos revelaram que, se negros fossem, também rejeitariam o candidato do PSL. Em reportagem do caderno Ilustríssima, da Folha de São Paulo de 26/01/2020, sobre judeus bolsonaristas, fica evidente a minimização do medo da violência emanada do discurso presidencial por parte dos entrevistados. No entanto, consultados se negros e LGBTQIs+ responderiam do mesmo modo, foram unânimes em reconhecer que pessoas desses grupos teriam sim motivos para temer.

Qualquer aceitação de situações de exceção por uma sociedade é um fracasso social. A sociedade, mais que um agrupamento de seres, demanda uma convivência em estado gregário e em colaboração mútua. O desenvolvimento humano e social é a prova mais evidente do êxito dessa forma de coexistência. A capacidade de se colocar e de entender o lugar do outro não é apenas uma medida do reconhecimento de cada outro como importante para si. Muitas vezes, é necessário entender que cada um de nós é o outro dos demais e que a materialização da escravidão, do fascismo, do nazismo e dos regimes de exceção só foram possíveis pela desumanização de seres humanos que instados a condições de outros, no seu pior sentido, tornaram-se desmerecedores da empatia dos demais.

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor associado e diretor da Escola de Administração da UFBA

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