Café com Canela, produção baiana, mostra o afeto nas relações humanas

Filme gravado no Recôncavo deu a Valdinéia Soriano o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília

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  • Roberto Midlej

Publicado em 16 de agosto de 2018 às 06:10

- Atualizado há um ano

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Duas mulheres de gerações diferentes vivem momentos opostos: enquanto Margarida, a mais velha, permanece isolada, em luto pela morte de um filho, a outra, Violeta, vive uma fase de descobertas e enfrenta as adversidades com muita disposição. “No passado, Margarida foi professora de Violeta e a ajudou a superar os problemas quando ela era criança. Quando se reencontram, Violeta se acha na obrigação de dar a mão a Margarida. Costumamos dizer que é uma história afetuosa”, resume o mineiro Ary Rosa, 31 anos, que dirige Café Com Canela com a também mineira Glenda Nicácio, 26.

A história conquistou o público no Festival de Brasília,  no ano passado, onde o longa-metragem foi escolhido melhor filme pelo júri popular e ainda ficou com os prêmios de melhor roteiro - para o próprio Ary - e melhor atriz, para Valdinéia Soriano, que interpreta Margarida. 

Valdinéia é do Bando de Teatro Olodum e, além de ser uma atriz reconhecidamente talentosa, é negra, o que também pesou na escolha dela para protagonizar o filme: “A gente trabalha muito com a questão da representação do Recôncavo [o longa foi filmado entre Cachoeira e São Félix], onde 80% da população é negra. Então, até por questão política, não faria sentido fazermos outras escolhas. Apenas 4% dos filmes nacionais são protagonizados por mulheres negras. Além disso, Glenda é uma diretora negra”, diz Ary.

Elenco A outra protagonista, Aline Brune, também é baiana. Praticamente todo o elenco, assim como a equipe técnica, é natural da Bahia. Glenda e Ary, embora nascidos em Minas, também já são bem baianos: os dois estudaram Cinema na UFRB e vivem em Cachoeira desde 2010. Em 2011, os diretores criaram a Rosza Filmes, produtora de Café com Canela e do novo filme da dupla, Ilha, que concorre na mostra competitiva do Festival de Brasília deste ano.

No elenco de Café com Canela há apenas um nome conhecido nacionalmente: Babu Santana, que interpretou Tim Maia na cinebiografia do cantor. “A gente não cogitava trazer alguém de fora. Primeiro, porque podíamos fazer um casting muito bom só com nomes locais; depois, porque nosso orçamento era baixo”, afirma Ary. Ary Rosa e Glenda Nicácio dirigiem o filme (Foto: Liz Riscado/Divulgação) Mas os planos dos diretores mudaram quando viram, por coincidência, uma entrevista de Babu na TV, como lembra Ary: “Nós tínhamos aquela imagem meio agressiva dele, por causa dos papéis que tinha feito, e na entrevista ele disse que gostaria de interpretar um homossexual”. 

Como havia um médico gay no roteiro, Glenda e Ary convidaram Babu, que logo aceitou. O ator tinha uma motivação a mais para aceitar o papel: parte de sua família tem origem no Recôncavo, mas ele nunca havia ido àquela região. Babu Santana interpreta um médico gay (Foto: divulgação) Para Ary, as cidades são tão importantes no filme que servem como personagens: “Uma personagem mora em Cachoeira e a outra, em São Félix. A ponte que liga as cidades serve como uma metáfora que conecta Violeta e Margarida”. A trilha sonora, de Mateus Aleuia, que integrou os Tincoãs, também é uma marca do Recôncavo.

O prêmio de júri popular em Brasília, promovido pela Petrobras, garantiu a Café com Canela um patrocínio que viabilizou a exibição do filme em cinemas de diversas regiões do país. A estreia nacional acontece em Salvador, hoje e a partir da semana que vem o filme chega a cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, São Luís e Recife.

Horários de exibição

Espaço Itaú Glauber Rocha  Sala 3: 14h30, 16h30, 20h30