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Campanha busca ajudar imigrantes venezuelanos refugiados no país


 

Lançamento foi na Paróquia Ascenção do Senhor, no Centro Administrativo da Bahia

  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 28/07/2018 às 19:23:00
Atualizado em 18/04/2023 às 17:11:08
. Crédito: Roberto Abreu

Há cerca de três anos, Alejandra Escalona, 37, chegou a Salvador com o marido e dois dos três filhos. Não veio conhecer o litoral ou os pontos turísticos da primeira capital do Brasil, mas fugir da crise humanitária vivida no seu país de origem: a Venezuela. Alejandra é apenas mais uma das refugiadas do país vizinho que chegou à Bahia com a esperança de reconstruir um futuro - estima-se cerca de 100 pessoas refugiadas em Salvador. No final da manhã deste sábado (28), um grupo de 50 desses imigrantes estiveram na Paróquia Ascensão do Senhor, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), para o lançamento de uma campanha em prol dos patrícios que não conseguiram sair.

De acordo com uma das líderes do movimento, a professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Cristina Lizana, a iniciativa pretende recolher alimentos não perecíveis, itens de higiene pessoal e roupas que possam ser entregues à população venezuelana que está na fronteira, em Boa Vista (RR).

“A situação é muito difícil, mas enquanto o governo venezuelano não reconhecer a crise humanitária, não teremos como garantir uma ajuda de maior porte”, acrescentou Lizana, que chegou ao Brasil em 2016 para um ano sabático no Rio de Janeiro e decidiu que não voltaria ao seu país de origem enquanto as coisas não se resolvessem. “No meu caso, tive a sorte de fazer concurso e ser aprovada, mas muitos chegam sem essa possibilidade”, contou.

Uma dessas pessoas foi a própria Alejandra que ganhou uma bolsa de pós-graduação em geografia, em São Paulo, mas descobriu que todo o dinheiro que tinha conseguido trabalhando como funcionária do Ministério da Educação da Venezuela mal dava para garantir o sustento da família.“Fui produzir bolos, tortas e vender na rua para garantir a sobrevivência”, disse ela, pontuando a dor de ter deixado o restante da família. “Erámos uma família com recursos e posses, mas não tínhamos o que comprar para comer”, completou Alejandra.As doações poderão ser entregues na própria Paróquia do CAB, nas unidades da Universidade Católica do Salvador (UCSal) de Pituaçu e da Federação, UNIFACs da Paralela e no Instituto de Matemática da UFBA, em Ondina. Além da campanha, o encontro serviu para marcar a entrega de 60 cartas de estudantes do Colégio Modelo de Jequié (BA) aos refugiados em Salvador. Esses, por sua vez, puderam escrever outras cartas para os parlamentares do Parlasul (Parlamento do Mercosul), que serão entregues dia 10 de setembro na sede do Parlasul, em Montevidéu, Uruguai. Lá, os membros da Missão Ushuaia serão recebidos pela Comissão de Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia e Desportes e realizarão na sede do parlamento uma exposição fotográfica com atividades do grupo, que atua numa missão cultural e humanitária com esses refugiados.

Anderson Russian, 24, foi um dos imigrantes que ganhou uma cartinha e uma esperança de futuro melhor por meio de uma bolsa de estudo para o curso de direito, oferecido pela UCSal.“Fui uma dessas pessoas que morou durante três meses na Praça Bolívia, em Boa Vista. Tenho uma filha e minha família foi a maior motivação para que eu deixasse meu país, fosse viver nas ruas e chegasse aqui hoje. Preciso assegurar um futuro para eles”, revelou Anderson emocionado.O venezuelano era tecnólogo em gás e deixou o curso de engenharia mecânica. Em Salvador, ele só quer concluir o curso de direito e poder lutar por justiça para seus outros patrícios. 

Vale salientar que, em Salvador, a Pastoral de Turismo, coordenada pelo padre Manoel Filho, vem auxiliando esses refugiados e realizam no primeiro domingo do mês, sempre pela manhã, uma Feira de Empreendedores, buscando estabelecer redes de negócios e parcerias entre a comunidade local e os refugiados. “Costumo brincar dizendo que Deus tomou a iniciativa de reunir diversos fatores que terminaram culminando com o encontro dessa comunidade aqui e, daqui, estão conseguindo estabelecer redes de apoio e reconstruir suas vidas na medida do possível”, finalizou Padre Manoel.  

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