Cantores e empresários opinam sobre adiamento do Carnaval 2021

Possibilidade foi levantada por ACM Neto em decorrência da pandemia do novo coronavírus

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 14 de julho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/Arquivo Correio

O ano só começa depois do Carnaval. Pelo menos, essa é a sensação que muita gente sente, todos os anos. Mas e se a folia for adiada por alguns meses e só acontecer em maio? Essa possibilidade foi levantada pelo prefeito ACM Neto. Na última segunda-feira (13), ele comentou sobre a possibilidade de alterar a data da festa, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. 

"É impossível dizer se teremos segurança para a realização do Carnaval em fevereiro ou não. Nosso prazo é o mês de novembro. Não é uma decisão que tem que se tomar hoje", declarou o prefeito, que prefere não cravar nada ainda. Porém, de acordo com ele, a festa só vai acontecer no período tradicional caso já exista uma vacina ou uma "clareza em relação à imunidade coletiva" em cerca de quatro meses.

Se não for possível realizar o Carnaval em fevereiro, Neto cogita a possibilidade de um adiamento para "entre o final do mês de maio e início do mês de junho, sem que conflite com o calendário junino". "Procurarei o prefeito do Rio de Janeiro, de São Paulo e de outras cidades para ver se é possível a gente construir um adiamento do Carnaval conjuntamente, caso isso seja necessário".

O plano proposto por ACM Neto é aprovado por artistas baianos. Para Bell Marques, o ideal seria que a folia fosse realizada na data original - mas, assim como o prefeito, quer a saúde dos foliões em primeiro lugar. Por isso, se for necessário adiar, embarca na ideia."É um momento muito delicado e, infelizmente, medidas que desagradam talvez precisem ser tomadas. Como um dos representantes do Carnaval, que é uma grande celebração de alegria, sou a favor sempre da segurança das pessoas. Mas, sou também um grande otimista e, até o último minuto, estarei na expectativa por notícias melhores do que essa", diz Bell.Vocalista do Ara Ketu, Dan Miranda engrossa o coro. "Tudo ainda é muito incerto. Uma vacina, por exemplo, pode nos deixar mais otimistas. A gente tem trabalhado muito com a esperança e entendemos também que, sem uma solução efetiva contra o coronavírus, ninguém estará seguro para curtir um Carnaval".

Daniela Mercury também topa a folia em outra época. "O Carnaval da Bahia é uma festa em que o contato físico é uma importantíssima caraterística. Por isso, para mim, só deve acontecer se houver segurança para a saúde de todos. Se não for possível fazer em fevereiro faremos em maio, junho ou qualquer outro mês. Acredito que quando estivermos livres da covid-19, a gente vai querer fazer um Carnaval para comemorar, pois será Carnaval em nossos corações - e nos sentiremos livres como nunca depois dessa quarentena tão estressante, principalmente pelo medo e pelo confinamento obrigatório. Uma outra opção seria a gente reinventar um Carnaval sem público nas ruas... fica a ideia no ar", opina a cantora.

Adiar tudo bem - mas com cuidado O mês proposto por Neto, entre o fim de maio e início de junho, é visto com cautela por Fábio Almeida, empresário de Ivete Sangalo. Para ele, é preciso que uma nova data da folia não prejudique o São João, como indicado pelo próprio prefeito."A festa junina já sofreu esse ano e não seria interessante que isso ocorresse novamente, uma data tão importante para o Nordeste e, principalmente, para as cidades do interior da Bahia. Acredito que possa ficar apertado. Por isso, escolher uma nova data ter que ser um plano visto, revisto e revisado", comenta o empresário.Essa é a mesma preocupação de Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis - Bahia (Abih-BA). "É importante viabilizar a vinda das pessoas para Salvador. Não podemos fazer um Carnaval grudado no São João, que é forte no interior da Bahia. Talvez, se fosse no meio de julho, seria melhor. Seja como for, acredito que, até novembro, teremos um cenário um pouco mais claro e, assim, seja possível decidir melhor. Só é preciso que isso seja comunicado com antecedência para o setor, para que todos possemos organizar e vender pacotes", defende.

Jairo da Mata, presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), também defende que a alternativa seja pensada com cuidado. "Nós estamos com a ciência. Até porque não teríamos o público esperado nos circuitos, na rua. A prudência requer que nós busquemos uma data com bastante sabedoria, para que possamos fazer um evento rico, bonito, com a participação de todos. Creio que o Carnaval, mesmo fora de época, terá o mesmo sucesso", fala.

Para Sílvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Fehba), ainda há tempo para que tudo seja definido.

"Eu acho que é muito cedo para discutir o Carnaval, que seria daqui há mais de sete meses. E as notícias mudam muito rapidamente. Eu lembro só que o Carnaval é o 13º mês do ano. É com ele que a grande maioria das empresas faz o colchão, uma reserva para passar a baixa estação. E que é extremamente importante na divulgação, na mídia, na quantidade de horas que é gerada da nossa cidade para o Brasil e para o mundo. Temos que amadurecer bastante antes de tratarmos desse assunto".

O ideal, de acordo com Fábio, empresário de Ivete, seria ouvir quem comanda e participa do Carnaval. "É preciso amarrar a ideia com a sociedade, com os agentes que produzem a folia, com as entidades afro... Todos devem fazer parte. Acho que a possibilidade de manter a festa, seguindo critérios válidos de humanidade e procurando alternativas, é válida. Só é preciso ter atenção", diz.

Seja qual for a data escolhida para o Carnaval 2021, o pensamento de quem está envolvido com a festa é que ela seja adiada, mas que não seja cancelada."Entre não ter [o Carnaval] e ter em maio, é melhor em maio. Até pelo aspecto econômico. O Carnaval de Salvador é um alavancador da economia da cidade. Não ocorrendo um evento dessa magnitude, evidente que terá um impacto muito grande na economia, sobretudo em um momento que a economia já está em baixa. É essencial tanto para o setor hoteleiro e toda a cadeia turística, mas também para o pequeno ambulante, os cordeiros, as entidades afro... É toda uma cadeia produtiva que gera o Carnaval e que, uma vez não ocorrendo, terá impacto negativo muito grande", garante Jairo da Mata.